Estatuto Editorial | Editorial | Equipa | O Urbi Errou | Contacto | Arquivo | Edição nº. 385 de 2007-06-19 |
“Escrever é como esvaziar um poço”
É como homem dos sete ofícios que Possidónio Cachapa pode ser caracterizado. O escritor contemporâneo falou de si ao Urbi@Orbi, da sua vida escritor, do seu último livro, “Rio da Glória”, e da sua aventura por terras brasileiras.
> Cristina ReisUrbi@Orbi – Desde 1997, com a novela “Nylon da minha aldeia”, até à actualidade, já editou vários romances, uma peça de teatro, inúmeras crónicas e textos, já para não falar das diversas experiências como argumentista ou das colaborações nas Produções Fictícias. Como é que tudo isto começou? Porque começou a escrever?
Possidónio Cachapa – Comecei a escrever escrevendo. Quero eu dizer com isto, que é um processo que vai começando sem que se dê conta. Escreve-se um texto, depois escreve-se outro… Um dia esses textos começam a ficar mais compridos, um dia começam a ganhar forma, e um dia deixam de ir todos para o lixo. Quando tal acontece, geralmente já alguém deu conta disso e convida-nos para publicar. Foi o que aconteceu. Convidaram-me para escrever um conto e eu escrevi uma novela, o “Nylon da minha aldeia”, que é maior. A partir daí nunca mais parei.
U@O – E o que é para si escrever?
P.C. – Escrever é como esvaziar um poço. Ou seja, as pessoas que trabalham no campo conhecem bem os poços e sabem que no Inverno eles enchem e depois tem de se tirar a água. Às vezes tira-se a água e eles vão esvaziando. E para mim a escrita é um pouco isso. As histórias e as ideias vão-se formando, vão enchendo, e chegam a uma altura em que transbordam, e transbordam sob a forma de escrita. Eu dou forma ao que vai cá dentro através da escrita.
U@O – Para além de escritor, é professor, deu formação no CEM, dedica-se ao mergulho, fez papel de actor, assistente de realização…No meio de tantas actividades, o que lhe dá mais gosto fazer?
P.C. – Eu sou um bocadinho renascentista, um bocadinho à Leonardo Da Vinci. Agora é que há muito esta ideia de que as pessoas fazem uma coisa e só isso é que conta. Mas no Renascimento não era assim. As pessoas pintavam, desenhavam, escreviam… Depois umas faziam bem umas coisas, e outras menos bem, e eu há coisas que faço melhor que outras naturalmente. Aquilo que eu sou é escritor, mas faço outras coisas e das que faço todas elas me dão gozo.
“Os livros não querem saber da minha opinião para nada”
“Ir ao Brasil foi reencontrar o melhor de nós próprios”
“Esse acto de escrever em liberdade foi, para mim, um regresso a qualquer coisa”
“Tenho a impressão que comecei a escrever uma coisa, mas não tenho a certeza”
Perfil de Possidónio Cachapa
Multimédia