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O que mudou depois de Abril
Liliana Serafim · quarta, 30 de abril de 2014 · Quarenta anos após a Revolução dos Cravos, o aniversário da proclamação da liberdade e do fim da ditadura continuam a ser tema ano após ano. Os militares do Movimento das Forças Armadas são ainda, para a maioria do povo português, os grandes heróis da Revolução por terem posto o ponto final ao regime instalado por Salazar e darem início a uma nova democracia. |
Comemorações do quadragésimo aniversário da liberdade na Covilhã |
21975 visitas Foi ao longo da madrugada de 25 de Abril, que o Movimento das Forças Armadas, composto na sua maior parte por capitães que participaram nas Guerras Coloniais, mediu forças, para pôr fim ao regime de uma ditadura de 48 anos. Guerras coloniais, falta de liberdade de expressão, exploração, miséria, emigração, notícias e músicas censuradas, exilio de vários portugueses, foram algumas das tragédias que o povo português viveu desde 1926 com o regime Salazarista. Nessa “longa noite salazarista”, os meios de comunicação foram importantes para o desenvolvimento do golpe de estado organizado pelo Movimento das Forças Armadas, que mais tarde permitiu dar conhecimento à população portuguesa do que se estava a passar nas ruas de Lisboa. A rádio e a televisão foram os dois principais meios de informação, que levaram a população a sair à rua em protesto juntamente com os militares, consolidando a revolução. Mário Tomé, Capitão de Abril, encontrava-se em Moçambique quando a Revolução sucedia em Lisboa no dia 25, mas afirmou que “as coisas estavam claras para os Capitães”. A sua participação como capitão aconteceu anteriormente, a partir de Moçambique, quando mobilizaram toda a gente da região militar com comunicados e informação. A informação que vinha da Europa, e do Vaticano era fundamental para os capitães, como referiu o capitão de Abril. Em dezembro de 1973, Mário Tomé já tinha feito três comissões que guerra em Moçambique. Nessa altura Mário acreditava que “ia haver gente que ia dar cabo disto tudo. Eu tinha a certeza, porque quem faziam as guerras eram os Capitães e não os Generais. Os Generais não tinham categoria para isso, porque foram beijar a mão de Marcelo Caetano”. Durante o regime de Salazar a falta de liberdade de expressão fez com que milhares de portugueses fossem obrigados a sair do país por serem perseguidos pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE). Qualquer manifestação ou protesto relativamente ao regime podia ser perseguida pela PIDE, que empregava métodos de tortura e detenção ilegal dos presos políticos. Dezenas de milhares de portugueses acabaram por ser presos por incumprimento das leis fascistas. Muitos permaneceram presos durante décadas e outros passaram pela prisão várias vezes ao longo dos 41 anos de regime. Mário Soares, Humberto Delgado, Aquilino Ribeiro e Álvaro Cunhal foram alguns dos portugueses perseguidos, que tiveram que abandonar o país para evitarem as punições do regime. Huberto Delgado e a sua secretária acabariam por ser assassinados pelo regime salazarista em Los Almerines, perto de Badajoz no dia 13 de fevereiro de 1965, tendo os corpos sido abandonados em Vila Nueva del Fresno. José António Pinto, empresário, recorda a morte de Humberto Delgado com alguma tristeza. Com o regime Salazarista, Portugal tornou-se o país mais atrasado a nível europeu. Os salários mais baixos da Europa, o desemprego e a ausência de prestações sociais levaram mais de um milhão de portugueses à emigração, para fugirem da extrema miséria que o país atravessava e procurarem uma vida melhor no estrangeiro. Muitos outros emigravam por motivos políticos, ou para escapar à guerra. Em Portugal eram poucas as estradas que faziam ligação às cidades, para além da maioria das povoações não ter luz, água ou saneamento nas casas. José António Pinto afirma que Portugal está melhor depois da revolução “Portugal era um país atrasadíssimo, cheio de pobreza e em guerra”. Após a Revolução surgiu um movimento popular designado por Processo Revolucionário em Curso (PREC) que durou apenas 19 meses, tendo como principal líder civil no campo democrático, Mário Soares. A grande agitação política e social levaram as organizações sindicais a lutarem pelos salários e pela Reforma Agrária – “reformar o latifúndio” e “distribuir as terras de forma justa aos trabalhadores que tivessem interesse em trabalhá-las”. Dias após da proclamação da liberdade, regressaram ao país milhares de portugueses exilados no estrangeiro, como Álvaro Cunhal e Mário Soares. Quarenta anos depois, as comemorações do dia da Liberdade foram festejadas por todo o país de formas diversas. Este ano, a Cidade da Covilhã festejou o quadragésimo aniversário da liberdade durante três dias, em cerimónias que contaram, no primeiro dia, com a presença de Mário Tomé, Capitão de Abril. Para além da presença do Capitão de Abril realizam-se vários eventos como o Sarau Cultural e Cívico, teatros, exposições, passagens de documentários sobre a Revolução. Quarenta anos após da Revolução, as opiniões ainda se dividem sobre o acontecimento que trouxe a liberdade e a democracia a Portugal. José Pinto, viveu os momentos antes e pós Revolução. No período fascista de Salazar e de Marcelo Caetano, José considerou que “o 25 de Abril foi importante para acabar com a guerra de Angola, Moçambique e Guiné, e dar liberdade ao povo lusitano”.
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