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Uma economia para o Interior
por José Tavares

Nas duas últimas décadas o país mudou drasticamente. Entre outras coisas, o crescimento económico trouxe estradas e auto-estradas, numa malha cada vez mais densa. Paralelamente à melhoria de comunicações viveu-se e vive-se uma queda radical da importância da agricultura, uma fortíssima migração para as cidades do litoral e a assustadora desertificação do interior. Na ordem do dia estão imagens de escolas primárias com a morte anunciada, em que se senta um único aluno; aldeias milenárias de populações envelhecidas; campos ao abandono. Não há dúvida que Portugal se transforma rapidamente numa faixa urbana contínua de Braga a Setúbal, onde se concentram cada vez maiores parcelas das gentes e da produção. O país torna-se uma cidade à beira-mar plantada, bordejada por um jardim interior, progressivamente desabitado. A pergunta que se põe é: o que arrasta este movimento para o litoral, se ele vai continuar e quais as opções para o interior?


Apelo aos pedagogos da futura escola médica com historinha pelo meio
por Jorge Bacelar

A minha história é insignificante e dilui-se na infinidade de histórias que todos os utentes do Serviço Nacional de Saúde têm para contar. Algumas, infelizmente excepções à regra, são elogiosas para os médicos e restante pessoal. Mas a maioria, divergindo nas circunstâncias e nos cenários, coincidem no desprezo pelo sofrimento do outro - que, por acaso, até é a justificação do salário dele - na frieza, na falta de pontualidade, no tom autoritário com que prescreve tratamentos e determina a data da próxima consulta. Mas volto à minha insignificante história. Um acidente ridículo, como qualquer acidente que se preze. Um olho traumatizado por uma pancada violenta.


A Crítica como actividade
de risco e responsabilidade
por Luís Nogueira

Ninguém vai fazê-lo, certamente. Muitos hão-de até discutir a sua pertinência e importância. Mas seria, talvez, interessante ¾ enquanto processo de interrogação e reconhecimento ¾ efectuar, um destes dias, sem grande pompa, mas com alguma seriedade, o papel, o lugar e o estatuto da crítica em geral, e da cinematográfica em especial.
Actividade tão frequentemente objecto de condescendência, muitas vezes odiada, certamente desprezada por muitos, ainda assim perseverante, necessária obviamente, circunstancialmente poderosa e, se calhar, mais vezes perigosa e nefasta que o desejável.


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