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Igualdade e paridade no futuro da comunicação
João Botão dos Santos · quarta, 10 de maio de 2017 · O combate aos estereótipos de género e a importância dos média nessa luta marcaram o primeiro dia dos Seminários Formativos “Comunicação, Média e Questões de Género”. |
Carla Cerqueira no início da sua intervenção |
22017 visitas “A igualdade quer-se a tempo inteiro”, é este o lema da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CCIG) que em parceria direta com a Universidade da Beira Interior organizou o conjunto de Seminários Formativos “Comunicação, Média e Questões de Género”, no auditório do Museu dos Lanifícios. O primeiro dia da formação juntou Carla Cerqueira, Sofia Branco e Orlando César, que através de temáticas diferentes descodificaram a problemática da falta de igualdade de género na Comunicação, e especificamente no jornalismo. “Uma mesa paritária, dois homens e duas mulheres, todos e todas com cargos de liderança”, foi assim que Teresa Fragoso, presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, abriu as hostes, numa alusão aos colegas de painel, João Canavilhas, vice-reitor da UBI, Paulo Serra, presidente da Faculdade de Artes e Letras, e Catarina Sales, presidente da Comissão de Igualdade de Género da UBI. Teresa Fragoso frisou a importância que os meios de comunicação representam para a desconstrução dos estereótipos de género. “Temos de repensar estes papéis que são atribuídos aos homens e às mulheres, desconstrui-los e promover a igualdade”, defendeu. Os trabalhos da tarde abriram pela mão de Carla Cerqueira, Investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho e docente na Universidade Lusófona do Porto. Docente que conta já com um percurso académico de dez anos ligado à área da igualdade de género nos média. A investigadora, que assumiu o papel de explicar o enquadramento histórico, sociológico e político-legal do género, começou por focar a construção social do mesmo, servindo-se de um pequeno exercício, onde questiona quais as caraterísticas que definem o homem e a mulher. “Elas são mais dotadas de emoção, eles da razão”, um dos exemplos, entre outros, apresentados por Carla Cerqueira. A docente não gosta de utilizar os termos “homem”, ou “mulher” no singular, isto para fugir à homogeneização do que é ser mulher e é ser homem. “Há uma tentativa de nos mostrar que todas as mulheres têm que ser de determinada forma, existe uma espécie de tentativa de uniformização destas caraterísticas, e sucede o mesmo para os homens”, explica. “As assimetrias de género ainda persistem e estão inteiramente ligadas com os estereótipos de género onde as mulheres e os homens são colocados em caixinhas homogeneizantes”, defende a docente, acrescentando que existe esta associação dos homens e das mulheres a papéis diferenciados. “O ideal era já estarmos na fase do desfazer do género”, desabafa. Sofia Branco aproveitou a intervenção de Carla Cerqueira e assumiu o “palco”. A presidente do Sindicato dos Jornalistas é também jornalista da Agência Lusa e assumidamente uma defensora da igualdade de género: “Estive dez anos no Público, outros dez na Lusa, e sempre me dediquei a tratar as questões da igualdade de género”, confessa. Para abordar a temática e a pergunta “quem aparece nas notícias?”, a jornalista serviu-se da estatística para defender a sua posição. Segundo a oradora, apenas em 24 por cento das notícias apareciam mulheres, e em Portugal a percentagem desce para os 21 pontos percentuais. “ O jornalismo tem muito impacto na vida das pessoas”, defende a presidente do Sindicato dos Jornalistas, que não tem dúvidas que é importante que se discuta a questão da desigualdade de género, “algo que está muito presente na sociedade portuguesa e também na comunicação”. Apesar de não esconder que muita coisa já mudou, mesmo que de forma lenta, para melhor, a jornalista não deixa de estar atenta: “Temos de estar sempre alerta, no sentido em que se dão alguns passos para a frente, mas é muito mais fácil recuar, não podemos ficar desatentos e desatentas”, defendeu. A oradora não deixou também de parte aquilo que considera ser uma “falsa neutralidade”. Para Sofia Branco, “ninguém é completamente neutro, todos temos posições” e os jornalistas não são exceção. “Eu acho que um jornalista nunca consegue ser neutral, eu penso é que as vezes fazem muito finca-pé em serem neutrais, mas isso é impossível. Nós somos todos seres humanos e obviamente temos um determinado contexto, temos uma determinada história, determinadas questões”, começa por defender a jornalista, que acha que o importante passa por “nunca se perder o respeito pelas várias visões sobre um determinado assunto, nem pelas pessoas com que vamos falar”. A tarde já ia longa e faltava ainda abordar um tema. Orlando César, Jornalista, docente da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal e Formador no Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas (Cenjor), seguiu o tema de Sofia Branco centrando-se nas questões de género e jornalismo. E Orlando César não podia concordar mais com a sua colega jornalista: “A objetividade é impossível, logo não nos podemos assumir neutrais”, confessou perentoriamente. Neste momento metade da humanidade é homem, metade é mulher. Na opinião do docente, a sociedade não se limita a essas duas tipificações. “Existem homens e mulheres mas entre esses homens e mulheres existem idades diferentes, ocupações diferentes, ideologias diferentes, nacionalidades, etnias, religiões”, explica o jornalista. Os jornalistas têm assim de procurar organizar este “caos da informação pelo mundo, para o apresentarem de uma forma que faça sentido”, todavia isso dá azo a críticas, alerta Orlando. O orador prosseguiu a sua intervenção apresentado várias caricaturas dentro dos meios de comunicação, criticando aquilo que considera ser a “contaminação” do jornalismo: “A fidelidade do jornalista tem de ser para com os públicos e não para uma empresa, patrão”, critica o docente que apenas aponta uma forma de solucionar o problema. “É preciso denunciar esses casos e não desistir”. Simon de Beauvoir defendeu em 1976 que “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”. A frase pode desconstruir-se e adaptar-se também ao homem. No primeiro dia do conjunto de Seminários Formativos “Comunicação, Média e Questões de Genéro”, ficou patente que ainda existe um longo caminho pela frente na luta pela igualdade de género e que os média terão um papel fulcral para esse sucesso. O segundo dia do seminário “Comunicação, Média e Questões de Género” teve como temas principais o “género na moda e na língua” e a “violência sobre as mulheres”.
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