Jornal Online da UBI, da Região e do RestoDirectora: Anabela Gradim |
Reaproveitar para ajudar
Fernanda Reis e Raquel Lucas e Marta Brazete e Mariana Belo · quarta, 10 de fevereiro de 2016 · Reutilizar comida em boas condições, condenada ao lixo, é o lema desta instituição de solidariedade. |
Os voluntários Ana Tavares, Rui Macedo e Gertrudes Rocha depois de um dia de trabalho voluntário na Refood |
22013 visitas Porquê desperdiçar quando há tanto para reaproveitar? É este o conceito da Refood, uma organização sem fins lucrativos, que aproveita o desperdício alimentar para ajudar aqueles que mais necessitam. São vários os voluntários que, diariamente, se deslocam para recolher o excesso de comida confecionada em restaurantes, pastelarias e cafés em vários pontos da Covilhã. Hunter Halder é o mentor deste projeto, que nasceu em Portugal, em março de 2011. A ideia surgiu num jantar com o filho, que lhe perguntou qual era o destino da comida que sobrava, ao que este respondeu que iria para o lixo. Hunter não esqueceu o assunto e de bicicleta começou a percorrer vários restaurantes de Lisboa, em busca das sobras diárias. Eliminar o desperdício alimentar e acabar com a fome é o objetivo principal da Refood. Este projeto conta com a ajuda de cidadãos, todos voluntários, que gerem os recursos disponíveis, para alimentar famílias carenciadas e, dessa forma, ajudar quem mais precisa. Na Covilhã a ideia surgiu em 2015, tendo sido inaugurada em junho. A sede serrana conta já com 150 voluntários, que têm como lema “trabalhar duas horas por semana, para matar a fome a 10 pessoas”. Marta Alçada, uma das fundadoras do projeto, afirmou que a ideia da iniciativa surgiu a partir dos valores que o pai lhe incutiu e que fez com que abrisse os olhos para a realidade da necessidade dos covilhanenses. Em conversa com Marta Alçada na sede da Refood, esta olha em redor afirmando: “tudo o que nós temos aqui foi doado, porque o projeto Refood tem como objetivo envolver a comunidade, com um só objetivo: ajudar os outros. E a comunidade da Covilhã realmente envolveu-se”. Atualmente a instituição ajuda 26 famílias, com um total de 67 pessoas, incluindo crianças. Marta Alçada explicou que a Refood não tem recursos para ajudar todos aqueles que necessitam e, por isso, têm um limite de famílias que podem beneficiar com esta ajuda. Uma família que carece de bens alimentares tem de reunir os comprovativos necessários para poder obter este apoio. No entanto, tudo isto é “recompensador porque já tivemos beneficiários que estiveram connosco desde o início e agradeceram pela ajuda que nós lhes demos, mas que agora já não precisavam, porque já conseguiram vingar na vida”, diz a cofundadora da Refood Covilhã, com um sorriso de orelha a orelha e com um olhar de trabalho cumprido. Um dos objetivos da instituição de solidariedade é dar apoio às pessoas, para que consigam “reorganizar a sua vida e reiniciar depois a sua caminhada”, e com isso dar lugar a outras famílias à espera de serem ajudadas pela Refood. Foi desde o início, na reunião chamada a “sementeira”, que a voluntária Alice Rato se dedicou a esta iniciativa a tempo inteiro, de corpo e alma. “Sinto que nós voluntários estamos a cumprir uma missão. Trabalhar de pessoas para pessoas é um dos objetivos na nossa vida, é dar em troca sem receber, se as pessoas vêm é porque precisam, e a forma de colaborar é sentir que eles voltam no outro dia”, disse Alice, com um sorriso rasgado na cara, satisfeita com o seu contributo como voluntária. “Quando cheguei aqui [à Refood] fiquei impressionada com a quantidade de comida que seria desperdiçada, e que faz falta a todas estas pessoas. Tudo o que é desperdício a mim incomoda-me”, confidenciou uma das voluntárias da instituição, Ana Tavares. A voluntária vem do Teixoso, de propósito para ajudar aqueles que mais precisam. Mas afirma ser “recompensador”. Divorciada, trabalhadora em part-time e com uma filha, “Maria” (nome fictício) há um mês que beneficia da ajuda da Refood, uma vez que não tem meios suficientes para sustentar a filha. Com uma história diferente, de Lisboa e beneficiário há três meses da Refood Covilhã, Manuel (nome fictício) desloca-se várias vezes à Covilhã para ver o filho que vive na cidade. Todo o dinheiro de que dispõe é gasto em gasolina nas viagens entre Lisboa e Covilhã. Manuel tem um objetivo: “encontrar um emprego na Covilhã para poder dar uma vida melhor ao meu filho e para poder ir a casa, em Lisboa”, confidenciou o beneficiário, com um olhar entristecido, causa do seu infortúnio. Não são apenas os beneficiários que têm histórias para contar. Cada um dos voluntários também tem a sua própria história. André Costa foi suspenso da escola e foi obrigado a voluntariar-se na Refood, para fazer trabalho comunitário. Apesar de estar a fazer trabalho comunitário, o estudante considera que ainda há muita pobreza escondida. “Quando olho para eles sinto-me muito mal e penso que me podia acontecer a mim”, afirmou André. “A Refood foi pensada por várias pessoas onde mensalmente se encontram para discutir ideias, o que é preciso melhorar. A estrutura que temos começa a ser pequena. Como o Hunter disse quando esteve cá ‘é preferível ter 500 empresas que dão dois euros do que duas empresas que dão 500 euros cada uma’”, afirmou Gertrudes Rocha, uma das gestoras da Refood. A voluntária explicou ainda que a associação funciona com várias equipas. Todos os alimentos doados são confecionados, o que ajuda várias famílias, uma vez que estas não têm condições para cozinhar. “Já me surgiram situações em que empresas nos doaram alimentos enlatados e, por exemplo, já nos doaram umas salsichas e lentilhas e eu cozinhei em casa e depois trouxe”, confidenciou uma das voluntárias, Otília Campos. Quase todos os dias, a partir das seis da tarde os beneficiários deslocam-se às instalações da Refood para recolherem as suas refeições. Os voluntários estão no centro de operações, prontos a receber aqueles que precisam de uma refeição. Arregaçam as mangas e colocam os alimentos nos sacos destinados aos beneficiários. São dez da noite. O voluntário Rui Macedo já percorreu vários restaurantes parceiros da Refood. Todos os dias voluntários percorrem as rotas já definidas, para irem recolher a comida aos diversos parceiros da Refood, que desde o início aceitaram ajudar, podendo ou não contribuir para a iniciativa. Rui Macedo é um desses voluntários, que considera que “existem cada vez mais famílias carenciadas” e não precisa de as conhecer para querer ajudar. Depois das rotas percorridas é tempo de acondicionar os alimentos recolhidos. As voluntárias Gertrudes Rocha e Ana Tavares fazem todo o processo para uma boa preservação dos alimentos. As tarefas são pesar e colocar a comida em caixas térmicas e de seguida em frigoríficos. Este é o procedimento normal para que os alimentos fiquem bem conservados, a fim de os beneficiários, no dia seguinte, poderem usufruir de uma refeição. A organização conta ainda com várias parcerias, entre as quais a própria Universidade da Beira Interior (UBI), através dos núcleos, e da Associação Académica da UBI. Comida que sobra das festas e conferências, recolha de alimentos e donativos são as diversas ações da universidade a favor da Refood. |
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