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Tarantini: “Os tempos de estudante da UBI foram dos melhores da minha vida”
Rodolfo Pinto Silva · quarta, 17 de dezembro de 2014 · @@y8Xxv Poucos saberão quem é Ricardo Monteiro, mas Tarantini já é um nome bem conhecido dos adeptos de futebol. Formado em Ciências do Desporto na UBI, concluiu este ano o mestrado na mesma instituição. Em entrevista, recorda os tempos de estudante e o início da carreira profissional, no Sp. Covilhã. Fala também os sonhos que mantém como jogador. |
Tarantini, atualmente com 31 anos, jogou no Sporting da Covilhã entre 2001 e 2006. Passou uma época no Gondomar e outra no Portimonense. Desde 2008 que é uma das principais figuras do Rio Ave |
21968 visitas – É natural do Norte do País. Como é que se deu a sua vinda para a Covilhã? – Sou natural de Baião, de uma pequena freguesia chamada Gestaçô. Fiz o ensino preparatório na freguesia e até ao 9.º ano frequentei a escola da freguesia vizinha. Depois, completei o Ensino Secundário em Amarante. Quando concorri à universidade a minha prioridade era ir para Desporto, para a antiga Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física, atual Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. No entanto, os exames nacionais não me correram como esperado e não pude concorrer para o Porto na 1.ª Fase. Escolhi Ciências do Desporto na Universidade da Beira Interior (UBI) como 1.ª opção e acabei por entrar. O meu conhecimento acerca da cidade e do curso era diminuto, para não dizer nulo. Entrei então na UBI e tive grandes surpresas: uma cidade espetacular, um curso “diferente”, com novas abordagens, e uma universidade em clara expansão, com um excelente ambiente ao ponto de nunca mais querer de lá sair, mesmo tendo tido essa oportunidade, na 2.ª fase de exames.
– Que recordações guarda dos tempos de aluno da UBI? – Dos melhores momentos da minha vida. Quando um jovem sai de casa dos pais aos 17 anos e começa a sua vida independente numa cidade como a Covilhã tudo é bastante mais fácil. Encontrei uma cidade universitária acolhedora e segura. Guardo imensas recordações das idas para as aulas no frio do inverno, nas caminhadas na Serra, das noitadas por toda a Covilhã em que para encontrar um amigo não era preciso telemóvel, bastava aparecer. Foram momentos mágicos.
– Porque voltou a escolher a UBI para continuar a estudar, desta vez para obter o grau de mestre? – Alguns motivos foram importantes. Primeiro porque concluí a universidade no período pré-Bolonha. Desde que saí sempre tive a oportunidade de concluir noutras condições o mestrado. Apenas nunca tinha chegado o momento certo. Em segundo, porque Ciências do Desporto tinha profissionais que me iriam ajudar bastante a concluir o projeto da melhor forma e falo especificamente do professor Bruno Travassos, que investiga áreas bastante pertinentes no futsal e no futebol. Até já tínhamos tido oportunidade de realizar outros estudos em conjunto com o Rio Ave Futebol Clube (RAFC) e o seu treinador da altura Nuno Espírito Santo.
– É um jogador de ataque, mas fez uma tese sobre movimentos defensivos. Como surgiu esta ideia? – Como disse, desde que concluí a licenciatura, ainda não tinha encontrado o momento certo para realizar o mestrado. No entanto, com o aumento das exigências competitivas dos últimos anos com o treinador Nuno Espírito Santo, alguns problemas foram levantados – aos jogadores e aos próprios treinadores –, quer ao nível do treino, quer ao nível dos jogos. E, na tentativa de dar respostas a essas questões, surgiu uma que serviu de mote para a realização da tese. Obviamente é um tema bastante pertinente nos tempos de hoje: compreender o passe entre linhas, numa perspetiva mais defensiva. Mesmo sendo um jogador de ataque, existiram muitas preocupações defensivas durante os últimos anos. Jogos como as finais alcançadas na última temporada – Taça da Liga e Taça de Portugal, frente ao Benfica – foram jogos em que tínhamos de defender muito e bem.
– Quais são as grandes conclusões do estudo? – Em linhas gerais, o estudo apresenta algumas tendências de coordenação espácio-temporal entre equipas e grupos de jogadores, de acordo com o sucesso nas ações específicas de passe entre linhas no futebol. Foi possível perceber a dinâmica estabelecida entre grupos de jogadores em determinados contextos de jogo, tendo em conta as suas distâncias interpessoais tal como o seu posicionamento relativo (ângulos formados entre os mesmos).
– De que forma a sua dissertação pode contribuir para melhorias no futebol? – A ciência do desporto e o treino devem andar de mãos dadas. São inúmeras as contribuições científicas que permitiram a evolução do treino e jogo. Nesta dissertação em concreto, o conhecimento dos valores de referência permitirão ao treinador uma intervenção mais adequada ao nível do processo de treino, possibilitando, deste modo, dotar os jogadores de um maior conhecimento sobre as suas possibilidades de atuação e das relações espácio-temporais mais vantajosas no que diz respeito ao seu desempenho, quer individual, quer na relação com colegas e opositores. Entendo que será possível no futuro identificar os seus limites de atuação defensivos para a obtenção de sucesso.
– A modalidade está bem estudada no campo científico? Que outras áreas seriam interessantes para serem trabalhadas pelos estudantes de Ciências do Desporto ou outras? – O futebol pelo impacto que tem na sociedade e pelos recursos que movimenta sempre foi uma modalidade com especial interesse pela comunidade científica. Considero que têm sido dados passos importantes para um melhor conhecimento, que permita sobretudo ajudar verdadeiramente o treinador e o jogador no treino e no jogo. Acho que existe espaço e pertinência para áreas como a matemática, informática e desporto funcionarem juntas a fim de criarem instrumentos (já há alguns bastante importantes hoje no desporto) de modo a ajudar a compreender melhor o jogo. Especificamente nas Ciências do Desporto, e sendo um homem do futebol – pois isto vai muito pelos interesses pessoais –, acho que a tomada de decisão no futebol é uma área que será fundamental e que terá bastante impacto no futuro.
– Pensa continuar os estudos universitários, seguir para doutoramento? – Neste momento, não penso em realizar o doutoramento. Se o fizer no futuro devo esperar pelo momento certo, tal como aconteceu no mestrado.
– O estereótipo do jogador de futebol é de alguém que acaba por abandonar os estudos prematuramente. Como é que conseguiu compatibilizar as duas áreas? – É uma realidade. São raros os casos que fogem a esse padrão. No meu caso em concreto, tal como às minhas irmãs, os meus pais sempre incutiram a necessidade de adquirir uma formação académica como uma mais valia para encarar o mundo do trabalho. Mas não foi fácil conciliar os estudos com o futebol. Foi necessário ter os objetivos sempre muito bem traçados. Tive de prescindir de coisas muito difíceis da própria idade – e os estudantes da UBI sabem muito bem as coisas boas que a vida académica nos proporciona – em prol dos sonhos. Determinação, persistência, compromisso no trabalho são palavras que definem o meu dia-a-dia.
– Que pode ser feito no meio futebolístico para incentivar os jogadores a apostarem também numa formação académica? – A formação académica é uma das alternativas, no entanto, existem outras coisas a que eles se podem agarrar, coisas de que gostem, que se vejam a fazer quando acabarem de jogar. Nem toda a gente tem de ver o canudo como uma solução única. Considero que a sensibilização pode ser importante, mostrando a realidade de muitos ex-colegas no pós-futebol. Outro ponto de vista tem que ver com a responsabilidade que os pais, treinadores, empresários e amigos têm perante os jogadores. Deveriam ser estes a incutir esta necessidade de terem um plano B nas suas vidas, pois existe uma ilusão muito grande à volta do que pode ser o futuro dos jogadores. Eu acho que toda a gente deve sonhar – eu sonhei e alcancei –, mas também sei que nem todos vão conseguir lá chegar. Já vi muitos craques ficarem pelo caminho e agora ninguém quer saber deles, porque toda a gente lhes virou as costas, simplesmente porque no futebol não chegaram a lado nenhum.
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