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Alunos estrangeiros dão novo impulso a Engenharia Civil
Rodolfo Pinto Silva · quarta, 3 de dezembro de 2014 · UBI A turma do primeiro ano de Engenharia Civil tem dois portugueses e nove estrangeiros. Com estes alunos internacionais, a UBI consegue colmatar parte do problema do pouco interesse que estas áreas têm tido a nível nacional, preparando-se para formar profissionais que continuam a ser necessários. É que ao contrário do que acontece na edificação de habitações, o sector continua a desenvolver projetos. |
A chegada de alunos estrangeiros ajudou a colmatar a pouca procura inicial de alunos portugueses em Engenharia Civil |
22005 visitas O grupo de alunos está à volta da mesa, numa das muitas salas da Faculdade. A disciplina designa-se Introdução à Engenharia Civil e ao Desenho Técnico e está a participar na aula uma verdadeira sociedade das nações: há portugueses, cabo-verdianos e um turco. Fazem parte do mestrado integrado em Engenharia Civil da Universidade da Beira Interior (UBI) que, apesar da pouca procura verificada no Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior – entraram apenas dois candidatos nas três fases – conseguiu captar alunos além fronteiras e tem hoje 11 inscritos. Além dos dois portugueses, há estudantes provenientes da Síria, Brasil e Cabo Verde. O número de ingressos que inverteu um pouco a tendência de muitas de vagas deixadas por preencher acaba por dar alguma satisfação a Jorge Andrade. “Esta compensação relaciona-se com o esforço que tem sido elaborado por parte da reitoria e do Departamento, que têm contactado pessoas, antigos alunos, e que dão uma perspectiva de internacionalização da próprio Universidade”, refere o diretor do mestrado integrado.
ENGENHEIROS POR VOCAÇÃO Apesar dos problemas no recrutamento de estudantes atingir todas as instituições, quem escolhe esta área fá-lo por vocação e sabe que a formação continua a garantir emprego. Foi essa vocação que fez Rafael Ramos insistir na melhoria das notas de candidatura, que em 2013 não lhe permitiram entrar na UBI. A proximidade geográfica com a instituição foi sempre uma das razões da escolha deste covilhanense de 19 anos, mas no topo das prioridades estava mesmo fazer o curso que o leve a tornar-se engenheiro civil. Hoje é um dos portugueses numa turma com vários elementos internacionais que mostram interesse numa profissão que os estudantes nacionais parecem desvalorizar. “Nós é que acabamos por ser os estrangeiros”, diz, sorrindo. Qualquer ideia menos positiva da afirmação é dissipada logo de seguida: “Eu até gosto. Há uma troca de culturas e aprendemos novas línguas. Recebemo-los bem e há um bom ambiente”. O bom acolhimento é confirmado por César Santos, até porque a UBI tem tradição de integrar profissionais e alunos estrangeiros. Vem de Cabo Verde, da Ilha do Santiago, ao abrigo de um protocolo que existe entre o governo do país e a instituição. “Candidatei-me porque tinha informações da qualidade da Universidade”, explica, fazendo já um balanço dos primeiros meses: “Está a ser uma experiência muito boa. É muito prático e faz com que os alunos estejam mais perto do curso em si. Já tivemos contacto com os materiais e muitas aulas práticas e isso acaba por ser bom para motivar os alunos”.
REABILITAÇÃO COMO OPÇÃO A “fuga” a estes cursos e, neste particular, a Engenharia Civil, tem causas que o sector da educação discute há vários anos. Desde a pouca apetência pelas disciplinas das ciências exactas – matemática, física ou química – e a ideia de que a crise parou o sector da construção. Em parte é isto que se verifica, nomeadamente no que diz respeito à edificação de habitações. “Entre 1991 e 2011, de acordo com os Censos, construíram-se 80 mil alojamentos por ano, o equivalente a duas cidades da Covilhã”, lembra João Lanzinha, vice-presidente da Faculdade de Engenharia da UBI (FE-UBI). Mas se não vale a pena apostar para já nesta vertente, há muitas outras onde os engenheiros civis são necessários. “Algumas empresas portuguesas, as maiores, definiram estratégias de internacionalização, outras adaptaram-se e apostaram na reabilitação”, segundo João Lanzinha, que defende esta última opção porque pode contribuir para o crescimento económico. “O investimento público induz o investimento privado”, salienta o também docente de Engenharia Civil: “A Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) do Porto investiu 70 milhões de euros e isso resultou num investimento global de 800 milhões”. Mas há mais do que a reabilitação urbana. “Continuamos a construir hotéis, pavilhões industriais e depois, no âmbito do Horizonte 2020 e do aproveitamento dos fundos comunitários que vão continuar a chegar, não há uma aposta na construção de rodovia, mas há na ferrovia, portos e nesse tipo de infraestrutura. Além disso, há muito investimento para a eficiência energética, para a mudança no paradigma de consumo e adaptação aos efeitos das alterações climáticas. Os fundos estão aí, agora é preciso apostar na sua utilização adequadamente”, explica João Lanzinha, convicto de o sector continuará a empregar profissionais: “Nós vamos continuar a precisar de pessoas e não podemos deixar de as formar”.
DIVULGAR A IMPORTÂNCIA DA ENGENHARIA É NECESSÁRIO Para o vice-presidente da FE-UBI, a estratégia de incentivo para atrair mais pessoas para esta formação passa por divulgar a importância da engenharia junto dos níveis de ensino que antecedem o Superior, uma missão que está a ser feita pela Ordem e na qual a UBI está a colaborar. Para além disso, a própria universidade iniciou recentemente uma iniciativa denominada "Ser Engenheiro" que divulga as engenharias da UBI junto dos alunos do 12º ano. Procura de estudantes em outros países também merece atenções, ou não tivesse sido uma forma, este ano, de colmatar as vagas deixadas em aberto, ajudando a que a Engenharia Civil começasse o ano com um cenário mais positivo. Depois dos países lusófonos, a UBI vai agora partir para a captação de estudantes na China e na Argélia, aproveitando contactos realizados recentemente. “Há países em franco desenvolvimento que têm carência de engenheiros: africanos ou da América do Sul. Depois, há o Médio Oriente ou a Índia, onde muitos estudantes querem cursar engenharia. Há também um campo de recrutamento importante, que seria Espanha”, aponta o responsável da FE-UBI. Os estrangeiros que cá estão, parecem gostar da UBI e da cidade. Os que vieram e partiram testemunham-no, de acordo com as palavras de João Lanzinha: “Temos depoimentos de alunos que vieram em intercâmbio e partiram com muita vontade de voltar para estudarem cá”. |
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