“É fundamental estabelecer as missões da Universidade”
Começou a sua ligação à UBI através de um grupo de docentes da instituição covilhanense. Diz ter gostado tanto dos recursos da universidade que não hesitou em instalar aqui um pólo do Instituto de Telecomunicações, organismo que preside. Carlos Salema fez parte da Assembleia Estatutária da UBI e conta a sua opinião do RJIES.
> Eduardo AlvesUrbi @ Orbi – Como é que o professor considera todo este novo ciclo que se vai desenrolar nas universidades?
Carlos Salema – Penso que esta é uma medida muito importante. Estava na altura das universidades terem estatutos adaptados ao tempo, a toda uma nova era que estamos a assistir e a viver. É sempre bom lembrar todo o caminho percorrido até aqui, até porque muitas pessoas não sabem, mas os estatutos anteriores decorrem da lei redigida no tempo de Souto Maior Cardia, que nessa altura se mostrou como um avanço impressionante, um progresso muito importante no que respeitava à gestão das universidades.
Com o passar dos tempos, todos esses rumos começaram por ficar com algumas limitações que era bom que se ajustassem. Daí que desde sempre me mostrei favorável a um novo regi-me jurídico para o qual a Universidade da Beira Interior, em particular, e todas as restantes instituições da mesma natureza, em geral, se adaptaram e bem. Esta foi uma medida que procurou novos estatutos que se encaixem dentro da nova lei. Penso que as coisas andaram bem.
Claro que isto implica mudança e nem toda a gente gosta de mudar. Há quem goste de ficar sempre na mesma, mas isso é fatal em todos os lugares. Pela experiência de vida, fui notando que sempre que existe a necessidade de mudar alguma coisa de implementar algo de novo existem pessoas que se mostram sempre contrárias a essa alteração.
Urbi @ Orbi – Acha que as mudanças agora introduzidas foram as melhores, as necessárias?
Carlos Salema – É fundamental estabelecer claramente quais são as missões da universidade. E isto é muito, muito importante, porque, do meu ponto de vista, e dizendo de uma forma muito rápida, a missão principal de qualquer universidade é a de ensinar.
Todavia, essa missão, essa condição, não é suficiente. A missão da universidade passa também por formar, por construir e educar as elites, formar as pessoas para que estas possam desempenhar um papel útil na sociedade.
Ora, essa missão, em qualquer lado e em qualquer instituição, só pode ser bem realizada, só vai ser plenamente conseguida, se a universidade fizer outras coisas, nomeadamente, fazer investigação. Um dos papéis mais relevantes da universidade é também fazer investigação. Uma tarefa que cabe aos seus docentes.
Separo estas duas coisas, uma é o ensino, outra a investigação; precisamente porque são coisas diferentes, feitas muitas vezes pela mesma pessoa. Mas toda a gente pode ter mais que uma ocupação, mais que uma aptidão. Toda a pessoa pode gostar de ler um livro, mas também pode gostar de jogar futebol, e aí temos coisas bastante diferentes.
Torna-se pois da maior importância que a estrutura universitária reflicta isso mesmo. Isto é, que existem pessoas preocupadas com o ensino e a estrutura deste e outras, preocupadas com a investigação.
E existe, no meio disto tudo uma terceira componente que eu diria também que é importante, mas que está, a meu ver, ligeiramente abaixo das anteriores. Todos temos de concordar que o maior serviço que a universidade presta à sociedade é o do ensino, mas ela também pode prestar outro tipo de, normalmente, pequenos serviços.
Urbi @ Orbi – Mas como poderá isso ser feito?
Carlos Salema – Esses serviços têm de ter maneiras de ser e de se tornarem efectivos. Uma vez que, para fora, a universidade tem sobretudo os papéis de ensinar e investigar, mas que terá agora de implementar de forma marcante um outro, o dos serviços.
É algo que deverá ser sempre acessório, mas que deverá também estar sempre presente. Com tudo isto não deveremos esquecer que a universidade tem também os seus próprios serviços e as suas notórias necessidades. Serviços esses prestados por técnicos especializados que têm as suas funções, que são as peças da instituição. Tal como num automóvel que também precisa de ter mecânicos que umas vezes nos ajustam a máquina, não sendo nem o condutor nem os passageiros desta, são fundamentais. Penso que tudo isto está a correr bem e que as devidas adaptações estão a ser implementadas. O processo só não é mais rápido porque nem todas as pessoas têm as mesmas ideias sobre a universidade e a gestão desta.
“Estava na altura das universidades terem estatutos adaptados ao tempo”
Perfil de Carlos Salema
Multimédia