Estatuto Editorial | Editorial | Equipa | O Urbi Errou | Contacto | Arquivo | Edição nº. 362 de 2007-01-09 |
U@O – Tem defendido uma maior interligação entre os Departamentos, nomeadamente, a criação de novas licenciaturas. Como estão esses projectos?
P. M. – Existem muitas sugestões que têm ser aceites e estar conforme a legislação que agora se apresenta no relatório da OCDE e do próprio governo. Se por acaso as directivas forem para a não abertura de novos primeiros ciclos, estas ideias têm de ficar em stand-by ou transformar estas ideias em algo de segundo ciclo.
Nós temos uma boa colaboração entre os Departamentos ao nível do primeiro ciclo. Mas em relação aos segundos e terceiros ciclos, a situação é diferente. Para além disso, no futuro, as verbas destinadas às universidades vão ser atribuídas aos Departamentos e por isso estes vão ter de competir entre si. E essas verbas só vão ser atribuídas a Departamentos que tenham centros de investigação com nota de Muito Bom ou Excelente. A questão que se coloca aqui na UBI é saber quantas estruturas destas existem e o que fazem.
Estou em total sintonia com o professor João Queiroz quando ele defende que o nosso objectivo central passe a ser o de aumentar a quantidade e a qualidade científica, assim como ter um maior número de publicações em revistas científicas com referee e com factores de impacto internacional na ordem de dois ou três. Não podemos ter publicações em revistas científicas que ninguém sabe o que são.
Isto porque as propinas pagas pelos alunos de segundo ciclo podem vir a aumentar dramaticamente e se esses valores vão ser assim altos, escolhe-se o melhor. E hoje circulam já listas, sobretudo na blogosfera, sobre o ranking das Universidades. Ainda que não oficiais, estas listas têm um forte impacto na comunidade estudantil e os alunos vão escolher as melhores universidades. E os blogues são hoje fundamentais, veja-se o caso da divulgação da lista da FCT. Quando um investigador teve acesso a ela e a colocou a circular na blogosfera. Nós temos também de nos adaptar a este meio.
O desafio que se coloca agora à UBI é o de fazer uma coisa diferente. Temos de elevar a nossa credibilização científica no mercado mundial. Temos de afirmarmo-nos como os melhores em determinadas áreas. É a sobrevivência da Universidade a nossa diferenciação de um politécnico que está aqui em causa. O que vai diferenciar os politécnicos das Universidades são os segundos e os terceiros ciclos e o que vai diferenciar as universidades entre si é ter os melhores docentes com os melhores currículos a mostrar que aqui se faz boa investigação em determinadas áreas. É isso que os alunos vão querer.
O exemplo tem de ser dado e as pessoas que mais publicam, que mais investigam, têm de ser reconhecidas no seu valor. Caso contrário estamos a dizer que vamos aumentar a investigação, mas esta fica ali a estagnar durante dez ou 20 anos. E os investigadores não querem mais dinheiro, querem é ver o seu trabalho reconhecido. Nós queremos alguém que oiça a nossa voz, que reconheça o nosso trabalho e que nos estimule a fazer mais e melhor. Temos de ter líderes que entendam que as equipas para dar “o litro e meio” têm de ser estimuladas.Nos anos 60 do século passado, a Universidade de São Francisco, na Califórnia, estava muito má. Então eles fizeram uma mudança radical que os transformou numa das melhores universidades. Investiram na qualidade e na credibilidade científica dos melhores docentes, a nível geral. E acho que isso também tem de ser feito na UBI. Quando se colocarem em cima da mesa articulações, funções e adaptações do Ensino Superior, a UBI tem de estar preparada e ter uma posição forte.
U@O – As novas regras de financiamento do Ensino Superior e a rede de instituições vão também mudar muita coisa. Como pensa preparar a UCP para isso?
P. M. – Nós temos de nos reforçar já. Isto é um pouco como uma boa equipa de futebol. Veja-se o caso do Chelsea de José Mourinho, uma equipa que tem duas ou três oportunidades de golo durante um jogo. Mas quando essas oportunidades são criadas, quase nunca falham. Aqui também temos de ter tudo muito bem preparado. Imagine-se que vêm então essas ligações e consórcios entre Universidades, Departamentos ou centros de investigação. O que devemos fazer é ter muito bem alinhadas as nossas forças, eliminar as fraquezas e quando formos negociar, seja com Universidades ou politécnicos podermos dizer que as nossas posições nas áreas essenciais são as melhores e por isso não pode haver qualquer cedência ou diminuição.
Nós temos de começar a discutir já possíveis planos de contingência para depois termos uma aplicação clínica, fria e empresarial muito eficaz. As verbas para as Universidades, com estas a poderem tornar-se quase entidades privadas, vêm através de contratos-programa através da investigação e se as Universidades querem ter o dinheiro de topo, também elas têm de estar no topo, têm que ser publicamente reconhecidas pela sua investigação. Há que inserir a componente científica como a prioridade no que respeita aos desafios que são colocados à UBI. O ensino no primeiro ciclo é fundamental e tem de ser mantido, mas também há que ganhar uma forma de diferenciação de tudo o resto, e isso só pode ser conseguido através da investigação.
Temos de olhar para a investigação e incentivar esta. Há que reconhecer quem investiga, quem é autónomo, quem faz por si, quem tem o reconhecimento nacional e internacional no plano da investigação e publicação, e por isso tem alunos. Este é o sinal que temos de dar aos colegas em termos de progressão na carreira. Não podemos agora dizer, publiquem e depois não reconhecer devidamente o esforço que isso envolve.
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“A captação de novos alunos deve estar primeiro que tudo”
“Temos de definir onde queremos ser os melhores”
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