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“A captação de novos alunos deve estar primeiro que tudo”
Numa das áreas mais atingidas pela falta de alunos há muito a mudar. O novo presidente da UCP de Ciências Exactas adianta ao Urbi os projectos para conseguir mais estudantes, mais investigação e maior destaque, a nível nacional e internacional, para a instituição covilhanense.
> Eduardo AlvesUrbi@Orbi – A área das Ciências Exactas é uma das que tem sido mais atingida pela falta de novos alunos. Este não é um problema que só diz respeito à UBI, mas regista-se a nível nacional. De que forma é que pensa que isso pode ser resolvido?
Paulo Moniz – A Unidade Científico-Pedagógica das Ciências Exactas engloba os Departamentos de Matemática, Química e Física. E há que dizer que o Departamento de Química, no âmbito do primeiro ciclo, nomeadamente com os cursos de Bioquímica e Química Industrial, e o de Física, com o Curso de Optometria, preencheram as suas vagas. As pessoas responsáveis por esses cursos e o meu antecessor neste cargo conseguiram estes resultados através de estratégias de divulgação e atitudes pró-activas.
No entanto, no caso da Matemática, onde temos uma licenciatura que é fascinante em termos de abrangência, conseguiu-se ter muitos poucos alunos. Por isso mesmo gostaria de dividir a minha potencial estratégia para os primeiros ciclos, de duas maneiras. E também espero reunir o consenso dos três presidentes de Departamentos para tentarmos ir além dos meros três dias da UBI, cuja eficácia tem de ser questionada. Não sou contra, mas num tempo de crise e quando é necessária uma mudança temos de ver o que é possível fazer melhor. No caso de alguns cursos sobretudo ao nível das Engenharias, onde houve uma fraca adesão, temos de verificar as razões porque é que isso aconteceu e não ficarmo-nos pelas desculpas momentâneas.Mas, de facto, esta é uma situação registada em todas as universidades. E nesse aspecto partilho da opinião do meu colega Alfredo Henriques, do IST, que refere e com razão que a grande falha de nós não termos alunos suficientes no Superior, a nível nacional, deve-se ao facto de que o sucesso escolar no 12º ano é de apenas 30 por cento. Se esta taxa de sucesso aumentasse para 70 ou 80 por cento, teríamos imensos alunos a entrar nas universidades.
U@O – Mas o que julga ter provocado toda esta crise no Superior?
P. M – A política e a economia nos últimos 30 anos mudou muito e há uma racionalização, por parte das empresas, há fusões, deslocalizações da massa laboral e isto traduz-se em frustração e ansiedade para as pessoas. As universidades nesse mesmo período de tempo agiram como se de nada fosse. Agora estão a acordar para este problema e o que vai separar umas das outras é a rapidez de resposta, como se diz em Inglaterra, pode ocorrer um “too little, too late”.
A isto acresce o facto do staff universitário ter sido avaliado ao longo dos anos de uma determinada forma, mas agora vai passar a ser avaliado por novos parâmetros. O Ensino Superior prosperou muito nas últimas décadas e agora os fundos destinados às Universidades estão a ser reduzidos porque as pessoas deram-se conta de que ter uma licenciatura ou um mestrado já não poderá chegar para esse graduado ter um emprego numa boa empresa. Ele tem de ter algo de valioso de reconhecido mérito.
Por isso mesmo nós temos de ser os melhores da Europa ou do mundo, em algo. Nós temos de estar na lista das melhores Universidades, em alguma coisa. Há alguns anos escrevi aqui um manifesto onde dizia que esta universidade só vai conseguir vingar se for a melhor em algumas linhas e essa passam pelas pessoas que mais e melhor investigam. Nós temos de escolher em que liga estamos, na Liga dos Campeões ou numa liga regional.
A sociedade agora questiona os apoios às Universidades porque o dinheiro que o público e a sociedade coloca nestas instituições não chega para garantir um emprego estável a quem estuda. Temos de agir como uma empresa e isso passa por ter uma liderança capaz de ir ao encontro destes desafios.
U@O – Então o que julga ser necessário fazer na UBI para conseguir mais alunos?
P. M. – A captação de novos alunos deve estar primeiro que tudo. Daí que gostaria muito de ver na UBI algo que já se faz noutras universidades que é ter uma a duas vezes por mês, semanas temáticas, por exemplo, entre Física e Engenharia, ou entre a Química e a Matemática, e outras, em que os alunos se inscreviam para vir durante esse período à universidade e participar nos eventos. Por outro lado julgo que também seria interessante existirem escolas de Verão e Inverno para alunos do Secundário, na UBI. Neste caso, para além dos 20 por cento de alunos da região que escolhem a UBI devia ter-se a ousadia e a ambição de alargar mais este espaço de atracção e procurar captar alunos de regiões mais afastadas.
Podem também ser implementadas explicações temáticas para os melhores alunos, na área da Matemática, Física e da Química. No caso específico da Matemática, talvez fosse interessante trazer à UBI os melhores alunos da região e explicar-lhes coisas que não vão aprender no Secundário, pelo programa lectivo normal, de forma a estimulá-los mais e demonstra-lhes de que é aqui na UBI que eles podem aprender melhor.
Nas novas universidades do Reino Unido as páginas da Internet, por exemplo, as da University of Portsmouth, da University of Manchester, da University of Southampton ou da University of Nottingham, são algo diferentes da nossa. Eles utilizam muito cenários reais, com pessoas, com cores vivas, baseado no Royal Edition Style, e que apela muito à malta nova. Não custa muito fazerem-se páginas para os diversos Departamentos que apelam às cores e aos interesses dos mais jovens. Uma mudança de visual que passa também pelo circuito interno de televisão. No Instituto Superior Técnico de Lisboa eles não têm as televisões como aqui, a passar a Floribela, mas sim excertos de programas como o CSI, os Ficheiros Secretos e outros que aplicam as ciências e as matérias leccionadas naquela instituição. Tudo isto estimula as pessoas.Chega também a ser algo deprimente o aspecto de algumas paredes da nossa universidade. Em vez de estarem completamente despidas, como agora, poderiam ter posters e outro tipo de reclames onde se descrevem os processos utilizados em experiências que foram reconhecidas com o Prémio Nobel, ou com outro tipo de informações e iniciativas.Uma outra ideia ousada passa por dar um ambiente de elite na UBI. Temos de ter algo nesta universidade que mais nenhuma tenha. E gostaria mesmo de ser audaz. E isso passa por promover um acordo com uma entidade bancária por forma a que a UBI possa oferecer um computador portátil a cada novo aluno. Essa oferta só seria feita através de um acordo prévio entre a instituição e o aluno, onde este garantia a sua permanência ao longo do primeiro ciclo e no final desta fase, a sua inscrição num segundo ciclo também na UBI. No final desse tempo, os ganhos para todas as partes compensavam essa oferta. Nós devemos também ter a melhor Acção Social, a melhor Assistência Médica do País, no que regime universitário.
U@O – São mudanças muito significativas. Como pensa conseguir produzi-las?
P. M. – O que está aqui em causa é salvar os nossos postos de trabalho e os dos funcionários. Nós temos muito bons investigadores e podemos ser os melhores, tem é de existir liderança para isso. Os meus colegas vão dizer que isto é muito trabalho, mas também por isso mesmo é que gostaria de ver reconhecido todo esse esforço no sistema de progressão de carreira dos docentes. O meu colega António Tomé, do Departamento de Física tem-se batido muito por estas novas causas do ambiente. Também julgo isso de extrema importância, nomeadamente com a possibilidade da UBI se relacionar, através de novos eventos com empresas como a Iberdrola, António Amorim e outras.
Gostaria também de explorar a ideia lançada pelo colega João da Providência com a ligação, através de um novo curso, entre a Física e a Medicina. Também falar na Astrobiologia, algo a ser feito entre os Departamentos de Química e Física. O Presidente da República teve conhecimento dos desenvolvimentos feitos em Espanha, nesta área científica, e ficou abismado com as potencialidades disso. Esta área é hoje de uma potencialidade enorme para registar novas patentes, e patentes significam dinheiro para a Universidade.
As grandes entidades bancárias e os grupos económicos não andam a ler apenas o Financial Times e o Diário Económico para saber onde investir. Lêem sim, os relatórios que apontam qual o interesse do investimento político nos próximos anos e apostam as áreas onde devem investir. Nós devíamos fazer o mesmo, analisar as áreas onde a UBI tem de investir para ser a melhor.
Noutras universidades europeias e americanas há também uma maior interligação entre as áreas científicas, com alunos de Artes e Letras e terem obrigatoriamente de frequentar cadeiras relacionadas com as Ciências Exactas ou a Engenharias e vice-versa. Imagine-se um engenheiro que no seu trabalho tem de falar para públicos, tem de ter aulas de Retórica. Veja-se os casos dos engenheiros Guterres e Sócrates que não tinham formação nessa área, mas que depois tiveram aulas de dicção para falar para audiências grandes. Porque não também as pessoas das Artes e Letras aprenderem um pouco de ciência.
“Temos de definir onde queremos ser os melhores”
“Há que reconhecer quem investiga, quem é autónomo”
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