Estatuto Editorial | Editorial | Equipa | O Urbi Errou | Contacto | Arquivo | Edição nº. 362 de 2007-01-09 |
O saber não tem idade
A Academia Sénior da Covilhã desenvolve um trabalho ímpar na partilha de saberes, realizando actividades em diversas áreas do conhecimento. José Saramago foi o motivo para que dezenas de alunos se reunissem numa tertúlia sobre a sua obra.
> Carla Magalhaes"Basta pensar no extenuante trabalho que será dispor por ordem temporal os acontecimentos”, lê-se no desdobrável de apresentação de mais uma tertúlia. A frase, retirada do Jangada de Pedra, de Saramago, exprime bem o esforço que é para uma pessoa lembrar-se de tudo o que aconteceu na sua vida. Principalmente quando dessa vida há muito para contar, como no caso dos estudantes da Academia Sénior.
O concelho da Covilhã, entre lares e centros de dia, conta com 24 instituições de apoio aos idosos, mas nenhuma com as características da Academia Sénior. A Universidade da Terceira Idade tem como principais objectivos promover os valores fundamentais do ser humano, preencher os tempos livres e de lazer dos seus estudantes, contribuindo assim para a sua dignificação e para o aprofundamento dos saberes, da qualidade de vida e do sentimento de utilidade para a sociedade em geral.
Lídia Xavier, uma das sócias fundadoras da Academia refere que são os objectivos a que se propõe a academia que a fizeram entrar neste projecto, acrescentando ainda que neste momento “já não era capaz de viver sem a academia".
Os sócios e estudantes deste centro têm aulas de Geriatria, Informática, Inglês, Literatura e desenvolvem actividades culturais como a pintura, o teatro, movimento e dança entre outras. Muitos dos sócios da universidade, antes da aposentação estavam ligados ao ensino, pelo que agora desenvolvem um trabalho de ensino e aprendizagem mútuos.
Embora este tipo de academias sénior existam um pouco por todo o mundo, esta é das poucas que “nasceu de um movimento de cidadãos que acharam que deviam envelhecer de um modo mais agradável e sem deixar de estudar e aprender”, referiu Ascensão Simões, reitora da Academia, salientando ainda que o convívio social é muito importante, pois as pessoas encontraram um espaço de partilha depois de aposentados e de sentiram que já não pertenciam à vida social.
Nas primeiras sextas-feiras de cada mês, a Academia convida um especialista em determinado assunto para uma pequena tertúlia. Olga Fonseca, professora de Português na Escola Campos Melo e orientadora dos estágios nesta área na UBI, esteve presente no dia 5 de Janeiro para falar sobre a obra de José Saramago, tema da sua tese de mestrado. Momentos antes do início da tertúlia, a apreensão dos academistas era evidente. José Saramago não parecia ser um autor muito apreciado “Sentia uma negação dentro de mim, levada talvez pela pontuação que ele efectua”, refere Lídia Xavier. No entanto, após a explanação da oradora, a vontade de ler Saramago aumentou.
Apaixonada confessa pelo escritor galardoado com o Nobel da Literatura, a oradora falou com uma vivacidade e entusiasmo que cativou a assistência.
Para Olga Fonseca, esta foi uma aula diferente, motivada pelos alunos que “apresentam uma maior disponibilidade pela aprendizagem, um amor pelo saber que é fascinante”, acrescentando ainda o sentido de responsabilidade e nervosismo que sentiu ao falar para “um público tão digno e respeitado e que têm, certamente, muito mais a ensinar do que eu”, refere a oradora.
Olga Fonseca considera que as principais qualidades de José Saramago são o seu carácter humanista, mérito literário e o facto de ser um cidadão empenhado no Mundo, referindo a vaidade como o seu principal defeito.“Só o é quem tem razão para o ser, e penso que ele tem”, conclui Olga Fonseca.
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