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“É altamente injusto termos doutorados no exterior, altamente qualificados, que não estão no sistema educativo”

“Devemos realçar toda a formação que damos a nível da gestão aeronáutica”

> Eduardo Alves
> Catarina Rodrigues

U@O – O curso de Engenharia Aeronáutica só existe na UBI, na Academia da Força Aérea e no Instituto Superior Técnico. Como classifica esta área em termos de saídas profissionais?
J. B.
– [Ouvir resposta] – Estes cursos estão numa perspectiva de complementaridade e não tanto de concorrência. A Academia da Força Aérea tem um curso que é um nicho, mais virado para o serviço militar, logo não apresenta concorrência com a UBI nem com o Técnico. No caso deste último existe um curso estruturado de forma a dar uma forte especialização ou no ramo de aviónica ou no ramo de aeronaves. Isto porque eles não têm Departamento ligado à licenciatura e estão apoiados por dois Departamentos muito fortes que tutelam a licenciatura, o de Mecânica e o de Engenharia Electrotécnica.
Isto quer dizer que o licenciado no ramo de aviónica é uma pessoa com uma especialização maior do que o licenciado em Engenharia Aeronáutica da UBI, onde ministramos uma formação horizontal, tanto na área da aviónica como na área de aeronaves e também na área da gestão de transporte aéreo e de estrutura aeroportuárias, entre outras vertentes que eles não focam.
Nós estamos a fazer licenciados para uma indústria mais pequena que desempenham tarefas ao nível de engenheiro de concepção, mas sem necessidade de uma grande especialização. Já o Técnico apostou numa série de parcerias com universidades estrangeiras o que faz com que uma grande parte dos licenciados em Engenharia Aeroespacial do Técnico não fique em Portugal e acabe por trabalhar no mercado europeu, o que não tem nada de mal. No nosso caso devemos realçar toda a formação que damos ao nível da gestão aeronáutica, que confere alguma versatilidade aos nossos licenciados, que não é o caso do Técnico.

U@O – Como se podem atrair mais alunos para esta área?
J. B.
– [Ouvir resposta] – Isso passa por corrigir um problema específico de imagem. Há pessoas que querem fazer passar a ideia de que basta a UBI já ter uma imagem boa para que as coisas funcionem. Neste caso dão como exemplo Aveiro, porque esta universidade tem um trajecto em tudo semelhante à UBI, apesar de ser uma universidade maior do que a nossa. Mas há um exemplo paradigmático no caso da Universidade de Aveiro (UA) que é a área da informática e das telecomunicações. Quando em Aveiro começaram a aparecer pessoas a fazer investigação nestas áreas, eu ainda estava em Lisboa, via colegas de Lisboa, Porto, Coimbra a rirem-se com aquilo e agora tiveram de engolir um “Sapo”. Esse trabalho demora muitos anos, e Aveiro conseguiu-o e nós também já estamos muito perto.
Como tal, no caso da UBI, a Medicina contribuiu muito para isso. Até porque se há alunos a entrarem com médias de 18 valores deve ser uma universidade muito boa, é o raciocínio que as pessoas fazem. E penso que o trabalho feito por muita gente, ao nível da imagem global, esteja já muito próximo do bom. A nível específico e analisando área por área, não estamos consolidados em todas elas.

U@O – Como vê a situação dos investigadores em Portugal?
J.B.
– [Ouvir resposta] – O problema dos investigadores pode ser analisado de duas maneiras. Uma que é a ligação ao sector público e outra pode ser o problema da investigação em concreto. E este último está ligado ao facto das universidades serem os centros da investigação. A esmagadora maioria dos centros de investigação estão sob a alçada das universidades. A Unidade de Ciências e Investigação em Tecnologias Aeroespaciais, da qual eu fui director durante quatro anos, e saí porque acho que uma pessoa não se deve eternizar nos lugares, a nossa unidade de investigação tem um orçamento que não permite comprar nada a nível de equipamento de diagnóstico, por exemplo. Com orçamentos como estes, obviamente que estamos muito prejudicados. Isto torna todo o processo como uma pescadinha de rabo na boca. Isto porque, se houver infra-estruturas para as equipas com mais potencial, que têm produzido até à data, essa pessoas começam a ter outros financiamentos. Hoje em dia, nós concorremos a um projecto e na candidatura temos de referir os meios para fazer essa investigação. É o mesmo que concorrer a um projecto para financiar as minhas actividades, mas essas vão decorrer numa estrutura já montada. É assim que funciona e normalmente o que se faz é trabalhar por antecipação e quando um projecto está a terminar já está a pagar o projecto seguinte.
Até porque não vejo a parte da investigação como uma forma de acesso a cargos da função pública, porque hoje em dia, ser do público ou do privado é igualmente mau. Mas nem com a precariedade conseguimos fixar as pessoas. Tivemos na Covilhã uma pessoa que gere uma soma avultada de dinheiro do Office Naval Research, aqui há uns anos, que disse que pelo trabalho que nós tínhamos feito estava interessado em financiar as nossas actividades, mas que não financiava o equipamento, só pessoal e consumíveis. Nesse caso, a apostar-se no equipamento, provavelmente, algumas pessoas que estavam a trabalhar connosco poderiam ter continuado cá e assim não foi possível.
No caso das empresas privadas, o número de empresas que têm investigação é muito reduzido, em Portugal. Por acaso, uma das actividades que nós tínhamos no Observatório era a elaboração de um inquérito ao potencial científico nacional, que está a decorrer neste momento mais um, e lá pode ver-se que apenas as grandes empresas como a Portugal Telecom, a EDP, e outras têm investigação. Mas a maior parte das empresas não desenvolve nenhum tipo de investigação e por isso estão a falir cada vez mais unidades. Mas ao empresário dessa pequena empresa, não se consegue passar a mensagem de que, por vezes, gastando um pouco mais de dinheiro com um profissional qualificado, se pode ir buscar os dividendos a médio e longo prazo. Temos um problema muito grande no nosso tecido empresarial, que de uma maneira geral é muito limitado, com as devidas excepções.
Outra área em que eu via possibilidade de aqui fixar pessoas mais qualificada, é a do Ensino Superior. Penso que este governo, mais tarde ou mais cedo, vai implementar isso de uma forma indirecta, uma vez que nunca vai querer colidir com a autonomia das universidades. Mas não faz sentido ter uma lei de bases do sistema educativo que diz que a habilitação própria para leccionar no Ensino Superior é o doutoramento que no entanto tem uma variantes em que diz que afinal pode ser mestre e até licenciado, mas a regra é o doutoramento. Não faz sentido ter uma lei desta em vigor quando temos doutorados há procura de emprego e temos licenciados a dar aulas no Ensino Superior. O problema é que andamos em disposições transitórias há décadas. Não é admissível que uma pessoa entre para o Ensino Superior, a dar aulas, mesmo com licenciatura, e este não leia o estatuto e se deixa andar ali dez e 15 anos, aproveitando as disposições transitórias que permitem passar por cima de qualquer legislação, e penso que alguma vez isto tenha de acabar. É altamente injusto termos doutorados no exterior, altamente qualificados, que não estão no sistema educativo. A alternativa dos mais aventureiros acaba por ser o estrangeiro.

Perfil de Jorge Barata

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“É altamente injusto termos doutorados no exterior, altamente qualificados, que não estão no sistema educativo”
“É altamente injusto termos doutorados no exterior, altamente qualificados, que não estão no sistema educativo”


Data de publicação: 2006-07-04 00:00:48
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