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“O problema das engenharias na UBI é de imagem”

“O projecto para o Observatório era muito ambicioso e seria muito importante para Portugal”

> Eduardo Alves
> Catarina Rodrigues

U@O - Quais as principais tarefas desenvolvidas no âmbito dos cargos que ocupou?
J. B. –
[Ouvir resposta] Depois de visitar diversas instituições e apresentar o meu projecto formei um grupo de trabalho, que do Observatório só me tinha a mim e à doutora Elisa Gonzales, directora dos Serviços de Estatística. Esta equipa era constituída por diversos especialistas, como o professor Diamantino Durão, da Universidade Lusíada, reitor de uma universidade privada e uma pessoa com muita experiência e o professor Alberto Amaral, director do Centro de Investigação de Políticas do Ensino Superior e que também foi uma pessoa liga à fundação das universidades, ao CRUP e também ex-reitor da Universidade do Porto. Lançámos concurso para a elaboração do draft do projecto da base de dados. O nosso objectivo era fazer um projecto, à partida, que pudesse responder a todas as perguntas que nós temos. O trabalho arrancou em Fevereiro de 2003 e estávamos a contar ter tudo pronto no início de Outubro desse mesmo ano e acabámos em meados de Setembro. Depois veio a parte menos bonita com a saída do professor Pedro Lynce do ministério. Na altura ainda não sabia, e digo isto com toda a humildade, que um director geral só deve estar no Governo se um ministro que lhe encomendou um determinado trabalho lá estiver. Hoje em dia não tenho ilusões e vejo que é praticamente impossível a um director geral fazer seja o que for se não estiver lá com a pessoa que lhe encomendou o trabalho. Com a chegada da ministra Graça Carvalho, e apesar de eu a conhecer e ter sido seu colega do IST, as prioridades eram outras e o sistema de informação já não era para fazer. Logo, todo o esforço feito em acelerar o processo, algo muito importante para se poder tomar decisões a nível do sistema de Ensino Superior e também de ciência e tecnologia, ficou um bocado prejudicado, sem grande razão de ser. A ministra estava preocupada em lançar o Programa Operacional de Ciência e Inovação (POCI) e todos os seus esforços iam nesse sentido. Fiquei então com um documento nas mãos, que o governo português pagou, um documento com umas centenas de páginas, onde está todo o projecto do sistema, tudo completamente especificado, só faltava construir e que iria permitir várias coisas.

U@O – E o que aconteceu depois?
J. B. –
[Ouvir resposta] Quando me vi embrulhado em enredos muito complicados, por influência da ministra e também por vontade do ministro da Educação da altura, fui contactado para ir para o Ministério da Educação, tomar conta de uma direcção geral que era o Gabinete de Avaliação do Sistema Educativo, onde iria ter a meu cargo toda a parte estatística e toda a parte de avaliação, mais de análise dos dados.
Fui então entrevistado pelo professor David Justino, com o qual criei logo uma empatia muito grande. Quer neste caso, quer no Observatório, gostei muito de trabalhar com estes dois ministros. Continuei com a unidade de investigação aqui na UBI, para onde vinha à sexta e ao sábado. Mas raras foram as sextas-feiras em que vim.
O professor David Justino também tinha um projecto muito concreto. Também o preocupava muito o sistema de avaliação das escolas e em particular os três problemas maiores do ensino não superior em Portugal, que são o abandono escolar, a saída precoce e o insucesso de uma maneira geral. Também precisava dos dados estatísticos para analisar toda essa situação.
Com esta mudança fui para uma casa completamente diferente. Quando entrei no Observatório herdei um passivo que era superior ao orçamento. Mesmo assim, ao longo de um ano consegui diminuir a despesa efectiva em 30 por cento. Mas foi uma experiência dramática com ameaças de corte de electricidade por parte da EDP, à qual pagámos muitos juros, tive cortes de água, tive as viaturas com o acesso cortado à via verde das auto-estradas, o que me fez pagar em adiantado o dinheiro das portagens quando havia deslocações. Mas mesmo assim não me arrependo, porque acho que o projecto para o Observatório era muito ambicioso e seria muito importante para Portugal. Penso que o actual ministro e secretário de Estado estão a ir pela mesma linha embora usando outros métodos.
No Gabinete de Avaliação não tive problema nenhum. Tinha o orçamento, tinha pessoal com um serviço estatístico, de certa maneira, exemplar. Tinha também todo o sistema informático actualizado quando entrei para lá, isto um pouco pela influência da engenheira Cristina Cardoso, que trabalhava na TAP e trabalhava de uma forma muito semelhante à minha. Acabei por sair também porque, uma pessoa só se deixa enganar uma vez. E quando o professor Pedro Lynce saiu ficou combinado com o ministro David Justino que já tinha um director geral para substituir, que era eu. Quando saiu David Justino eu já sabia que devemos deixar o ministro à vontade para contratar quem quiser para directores gerais. Logo na primeira reunião com a ministra ela questionou-me se me queria ir embora (risos). Ao que respondi “agradecia”.
Foi uma experiência muito diversificada. Encontrei de tudo, instituições com dinheiro, outras sem dinheiro, umas com problemas outras com menos, umas com pessoal qualificado, outras que tem algum pessoal bom, mas com lacunas grandes em algumas áreas vitais, como é o caso do Observatório, onde existia apenas um informático para gerir todo o sistema de informação relacionado com o Ensino Superior.

U@O – Sempre defendeu que o Ensino Superior deve estar directamente ligado à investigação. Como vê o actual estado do Superior?
J. B. –
[Ouvir resposta] Com muita preocupação. Agora que já sabemos que o Ensino Superior se vai dividir em dois ciclos, reforço a ideia de que pelo menos o segundo ciclo deve estar intimamente ligado à investigação. Vamos querer formar pessoas capazes de lidar com situações novas, capazes de ultrapassar as dificuldades por si, capazes de planear a sua própria formação depois de abandonarem a universidade, que é a chamada formação ao longo da vida. Surge assim um tipo de ensino com uma ligação muito estreita à investigação. Por outro lado, esta investigação, se for bem executada e bem planeada é a melhor maneira de nós conseguirmos ir buscar alguma informação do mundo real, da indústria, dos serviços, da sociedade à nossa volta, para dentro do ensino. Caso contrário, corremos o risco de andar 30 anos a ensinar sempre a mesma coisa.
Hoje há estabelecimentos escolares mais vocacionados para ensino tipo segundo ciclo e pós-graduação e outras vocacionadas para o ensino em geral, que são completamente desligados da investigação.
Acho que pode ser nocivo se nós usarmos só indicadores ligados à investigação para classificarmos as instituições e os cursos. No meio é onde está o interesse e o melhor será um modelo entre o sistema inglês e o holandês que nós também implementámos em Portugal com avaliações que começaram por auto-avaliações e em que a própria escola é que alterava os seus cursos se quisesse, e depois a seguir uma visita de especialistas para avaliarem no terreno o que é que se estava a passar, e que eu acho que foi completamente ineficaz. Não se nota praticamente influência nenhuma de toda essa avaliação – auto-avaliação e avaliação externo – no ensino, nem nos cursos actuais. Temos de ir para um sistema intermédio em que alguns indicadores de desempenho das instituições se reflictam no ensino e no tipo de curso que as universidades têm.
Há muitos professores que quando estão numa sala de aula com cinco ou seis alunos não se apercebem que há professores que estão com mais alunos, e como o financiamento é por aluno, se não houver o número mínimo relativamente ao rácio de estudantes, alguns está a pagar o ordenado dele. Há professores que ainda não entendem este assunto e não se esforçam o suficiente por divulgar o seu curso, por melhorá-lo, por se preocupar quando os alunos não conseguem ser aprovados, disponibilizando-lhes mais meios, incentivando-os de outras formas. Isto acontece em todas as universidades.

U@O – Defende portanto um número mínimo de 20 alunos em cada curso?
J. B. –
[Ouvir resposta] Quando fui eleito para presidente do Conselho Directivo das Engenharias, logo na primeira reunião da secção científica foi logo debatida a evolução do número de alunos nos últimos dez ou 15 anos, até àquela data. Mostrei o problema que estávamos a ter e foi decidido logo que tínhamos de fazer algo para contrariar essa tendência, embora depois tenha começado a haver um relaxe de todas as engenharias.
Voltamos agora a ter de agir nesse sentido e a desculpa do financiamento pode ser boa para fazermos algo nesse sentido.
O problema das engenharias na UBI é de imagem. Nós temos uma imagem razoável ao nível da instituição e isso pode não se reflectir no aumento de candidaturas no caso específico de um curso. Há todo um trabalho feito a nível global para a universidade e que acho que tem funcionado bem, mas falta um trabalho específico que tem de ser feito para cada curso atendendo às especificidades de cada um.
No caso do meu curso, Engenharia Aeronáutica, penso que todos nós temos trabalhado bem e com muita preocupação em relação a isso e penso que isso depois se reflecte nas candidaturas. Em vez de apontar armas para o governo numa tentativa de encontrar justificações para a ineficiência de alguns cursos, eu acho que temos de ser realistas e assumir que a culpa é nossa e temos de arranjar maneira de ir mais longe. Para ser mais específico, se na fórmula de financiamento do Ensino Superior um curso de ciências e tecnologia tem de ter 11 alunos por docente, que é isso que é usado na fórmula, significa que temos de ter em cada sala de aula, mais ou amenos 20 alunos. Depois verificamos também que o financiamento das universidades compreende 85 por cento do orçamento para ordenados dos docentes, mas esta fasquia quase sempre é ultrapassada.

“Neste momento, todo o dossier de reformulação do curso está concluído”

“Devemos realçar toda a formação que damos a nível da gestão aeronáutica”

Perfil de Jorge Barata

“O segundo ciclo deve estar intimamente ligado à investigação”


“O problema das engenharias na UBI é de imagem”
“O problema das engenharias na UBI é de imagem”


Data de publicação: 2006-07-04 00:00:32
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