Decorria o ano de 2002 quando sete amigos, que estudavam na Universidade da Beira Interior, resolveram juntar-se para dar música na cidade Neve. E cedo perceberam que a união, espírito académico e amizade eram os acordes perfeitos para a melodia a que deram o nome de Desertuna – Tuna Académica da Universidade da Beira Interior.
Pretendiam “animar as noites da Covilhã” e ao mesmo tempo “honrar o nome da universidade” que representam, mas para isso foi necessário reunir mais jovens com vontade de aprender a tocar instrumentos, e dar asas às suas cordas vocais. Decidiram dedicar-se de alma e coração a cada ensaio, e com ajuda de um ensaiador de vozes e de um ensaiador geral conseguiram “estruturar um grupo cheio de vontade de mostrar que a união faz a força”.
No decorrer dos anos a Desertuna deu a conhecer o seu talento não só à cidade da Covilhã, como pelo país fora. E este país plantado à beira mar tem retribuído e reconhecido todo o esforço desta tuna. Exemplo disso são os 107 prémios que já receberam, no conjunto de todos os festivais em que já participaram.
O ano lectivo de 2009/2010 foi um ano de conquistas. Participaram em quatro festivais, em Ílhavo, Lisboa, Castelo Branco e Figueira da Foz, onde arrecadaram 19 prémios, porém a tuna confessa que o mais importante de realçar é “o espírito que se vive entre todos”. Não importa o sítio, nem a hora, e muito menos a quantidade de instrumentos, para a magia começar, é algo genuíno que lhes corre nas veias e sempre que têm oportunidade fazem de qualquer lugar um palco para actuarem.
A UBI foi o ponto de encontro para o inicio da primeira viagem a Lisboa. Sabiam que apesar de ser um ano de renovação de elementos, queriam mostrar o seu trabalho e conquistar mais uma cidade com o seu talento. Assim, num autocarro e com todos muito bem aconchegados, rumaram em direcção à capital nacional. Uma viagem cheia de música, alegria, boa disposição, e acima de tudo união entre todos. “Ir a Lisboa actuar pela primeira vez é bom para a Desertuna se poder afirmar, e se nos convidaram é porque já conhecem o nosso trabalho. O nosso objectivo é dignificar a Covilhã e a UBI” explica Sandro Soares, que já está na tuna há sete anos.
Organizado pela Estudantina Académica do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, o VIII Estudantino foi o festival que permitiu à Desertuna dar-se a conhecer em território estranho. E na mesma noite em que chegaram a Lisboa, 26 de Março de 2010, actuaram no Bar Real República de Coimbra, no Parque das Nações, onde conquistaram o primeiro galardão do festival, prémio de Tuna Mais Real.
Não importou o pequeno espaço onde tiveram de actuar, só queriam mostrar a sua garra e o gosto com que fazem as coisas. No fundo sabiam que esta noite era o inicio de um fim-de-semana cheio de surpresas agradáveis que os iam unir muito mais.
No sábado à tarde foi a vez do Passa-Calles, que lhes permitiu percorrerem algumas ruas de Marvila, onde distribuíram o seu encanto com uma serenata às donzelas. Mas era à noite que o mistério se iria revelar. E tudo isto num palco à medida do dom da Desertuna, a Aula Magna. Uma memorável noite que contou também com actuações da Tuna de Arquitectura de Madrid; Tusófona, Real Tuna Lusófona; Tin Tuna Académica da Egas Moniz; Tuna do Distrito Universitário do Porto; Tuna Académica de Farmácia da Universidade de Lisboa e ESTuna, Tuna de Engenharias da Escola Superior de Tecnologia de Setúbal.
A Desertuna entrou em palco confiante e com único objectivo em mente: mostrar o trabalho que tiveram ao longo destes oito anos, para que todos pudessem ver que a união faz deles uma grande família. Não se limitaram a chegar ao palco para cantar e tocar, mas deram um espectáculo digno da cidade e universidade que representam. E depois de uma longa noite de capas negras, só restava esperar pelos resultados. Foi neste momento que tudo ficou desvendado: a Desertuna conquista seis prémios em Lisboa e é a grande vencedora da noite. Os prémios foram recompensadores de todo o esforço e dedicação: Melhor Tuna, Tuna Mais Público, Melhor Instrumental, Melhor Porta-estandarte, Melhor Pandeireta e Tuna Mais Real.
Nuno Bajouco, Magister da Desertuna faz o balanço deste festival: “Correu tudo muito bem. A união mostra muito aquilo que nós somos, aquilo que nós conseguimos, o trabalho todo que temos durante o ano para chegarmos a estes sítios, e tanto em cima do palco como no decorrer de todo o evento estamos muito bem vistos. Não é só os prémios que importam, mas sim o convívio entre todos e a emoção de ver uma Aula Magna aplaudir de pé.”
No regresso à cidade de onde partiram, Pedro Mendes, motorista do autocarro, afirma que esta foi a primeira vez que trabalhou com a Desertuna mas rápido percebeu a qualidade deles: “São espectaculares, são malta impecável e mereceram os prémios, dignificam muito bem a cidade e a universidade de onde vêm”.
Foram três dias únicos e muito recompensadores para este grupo, que não hesitou em colocar os seis prémios junto dos outros tantos que já arrecadaram. Os seus rostos de felicidade mostravam a missão cumprida, foi como colocar a cereja no topo do bolo.
Alexandre Tenreiro, de 30 anos, é o exemplo de que nunca é tarde para aprender. Estuda na UBI há 10 anos no curso de TSI, Tecnologias e Sistemas de Informação, mas só neste ano lectivo é que decidiu entrar para a Tuna: “Já os conhecia há alguns anos e já os acompanhava fora tuna. Sempre disse que um dia poderia entrar para a tuna, mas como trabalhava e estudava não tinha muitas possibilidades. Porém este ano como as coisas se proporcionaram entrei para a Desertuna”. Nada fazia prever esta decisão, mas este ano tomou a iniciativa de se juntar a este grupo de amigos. O mais hilariante nesta experiência de Alexandre é que enquanto aluno da UBI praxou certos elementos da Tuna, que agora o praxam a ele, mas não se sente constrangido. “Nós somos todos como uma família e esta união é uma forma de nos abstrairmos de todos os outros problemas que temos na vida” revela Alexandre.
Quem seguiu os mesmos passos de Alexandre foi José Lourenço, estudante da UBI há dez anos, no curso de Engenharia Informática, que entrou também este ano para a Desertuna. “Eu vi a tuna crescer enquanto aluno da universidade e praxei a maior parte dos elementos. Mas entrei pela diversão, como é o último ano em que estou a estudar. Decidi aventurar-me e agora são eles que me praxam a mim” confessa o caloiro.
Outro aspecto relevante é que José tem um irmão na tuna, porém ele é mais novo que José e já esta na Desertuna desde 2007, mas o caloiro acrescenta: “Já tinha praxado o meu irmão porque ele entrou depois de mim na UBI, mas agora é ele que me está a praxar e não tenho qualquer problema com isso.”
Filipe Alves, estudante de Electromecânica, foi o primeiro caloiro da Desertuna e chegou uma semana após ter sido fundada: “Eu já conhecia muitos dos fundadores e então decidi entrar, levei uma viola toda partida que tinha em casa e arrisquei num novo projecto. E agora posso dizer que foi a melhor coisa que fiz até hoje, valeu muito a pena”. Filipe partilha ainda, que a Desertuna é uma forma de vida, diz ser muito mais que festivais: “É a união e a entreajuda entre todos que nos caracteriza. Auxiliamos todos os elementos, principalmente porque existem muitos membros que não são da Covilhã e nós temos a função de sermos pais, mães e irmãos, somos uma segunda família”.
Contudo, a Desertuna além de participar em festivais também promove o FESTUBI, um evento que conta com diferentes tunas e capaz de encher o Teatro-Cine da Covilhã. Este festival é muito mais que um espectáculo, é muito trabalho e esforço de equipa para que tudo corra bem. Nuno Bajouco, Magister da Desertuna é quem está á frente da tuna e orienta tudo, para que nada falhe: “O festival correu muito bem, mais uma vez superou as expectativas. Conseguimos voltar a ter uma casa cheia e acho que tanto o público como as tunas gostaram. É com muito orgulho e alegria que vemos que as pessoas aderem e se sentem bem com o espectáculo que conseguimos proporcionar. Está provado que o FESTUBI é um grande evento na cidade da Covilhã”.
Os elementos da Desertuna admitem que no inicio nem sabiam como se organizava um festival, mas com amor e dedicação, ao longo dos anos conseguiram aperfeiçoar todos os pormenores para tornar este festival único e muito acarinhado na Covilhã.
A Desertuna é muito mais que um grupo de jovens que se dedicam à música, eles são união, energia, espírito académico, alegria, diversão, profissionalismo, dedicação mas acima de tudo o que fazem é com amor.