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Tragédias no Rio: desastre natural ou descaso estatal?
Douglas Cavallari (Correspondente no Brasil - S.Paulo) · quarta, 14 de abril de 2010 · Internacional Desde os primeiros dias do ano, o Rio de Janeiro não sai das manchetes mundiais. Não se tratam de notícias relacionadas com as suas praias repletas de celebridades, sobre a abertura da Copa do Mundo ou as Olimpíadas de 2016: o que está surpreendendo a opinião pública internacional é a sequência de desastres naturais e as centenas de mortes verificadas no estado durante os últimos meses. |
Resgate no Morro do Bumba, na cidade de Niterói, Rio de Janeiro. |
21982 visitas O verão de 2010 ficará marcado na história do Rio de Janeiro. Foram batidos todos os recordes em níveis de precipitação e número de catástrofes. A última grande tempestade durou 15 horas (entre os dias 7 e 8 de abril) e atingiu 278 milímetros. Até a última sexta-feira, os dados da Defesa Civil do Rio de Janeiro apontavam para 288 óbitos em decorrência das chuvas de 2010. Mas, devido a grande quantidade de pessoas ainda soterradas e desaparecidas, as estatísticas finais devem ultrapassar as 400 mortes. A outra face do problema são as famílias desalojadas (que não podem voltar às suas casas temporariamente) e desabrigadas, aquelas que perderam tudo. Apenas na semana passada, mais de 50.000 pessoas entraram nessa situação, passando a viver em escolas, paróquias, quadras de escolas de samba e outros prédios públicos. Campanhas de solidariedade estão arrecadando roupas, alimentos e recursos em todo o país. Como sempre ocorre nessas situações, não faltam antecedentes históricos, estudos de especialistas que foram desprezados, o secular problema das favelas e até situações absurdas, com o Morro do Bumba, em Niterói, um antigo lixão da cidade que foi invadido e depois regularizado. Também não faltam discursos políticos, anúncios de investimentos milionários e “garantias” de que tragédias como essa nunca mais irão se repetir. Mais que um fenômeno meteorológico, o aumento dos desastres naturais no Brasil mostra a face de um país que pouco investe em planejamento urbano, é conivente com as construções irregulares, possui uma rede insuficiente e desarticulada de radares meteorológicos (segundo especialistas, o ideal seriam 100 aparelhos, contra os 22 atualmente em operação) e nunca precisou precaver-se contra grandes catástrofes. Agora, diante de um clima em constante mudança e cada vez mais agressivo, será preciso trocar o discurso fácil, o fatalismo e as soluções esdrúxulas por planejamentos de longo prazo e ações efetivas. Num Brasil que avança para ser a quinta maior economia do mundo na próxima década, não é aceitável que centenas de pessoas morram a cada verão soterradas por deslizamentos de lama e lixo. |
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