Jornal Online da UBI, da Região e do RestoDirectora: Anabela Gradim |
Memórias de uma Guerra negligenciada
Cátia Barbosa e Catarina Teixeira e Daniela Oliveira e Diogo Jesus e Sara Pereira · ter?a, 16 de fevereiro de 2010 · A viagem para África começava muito antes do embarque. O processo que levava os jovens até Angola, Guiné e Moçambique tinha como objectivo ensinar a matar tudo o que se mexia e finalizava com o momento da entrega ao soldado do bem mais precioso: a arma. |
Soldados no Ultramar |
22004 visitas João Manuel Neves Petrucci, embarcou para Angola, no navio Niassa em plena “flor da idade”. Tinha ele apenas 23 anos quando se despediu do seu país, rumo à descoberta e à aventura. Petrucci tinha vontade de conhecer outros lugares, novas gentes e novos costumes. Então, ao invés de “ fugir para França, como muitos”, foi para Angola. “Foi esta a maneira que encontrei para evitar a minha fuga do país”, diz o oficial miliciano do exército que decidiu embarcar numa aventura que lhe mudou a vida para sempre. João Luís Fernandes Afonso, um militar que não chegou a ir para o Ultramar, considera que “o Estado português deveria apoiar mais estas pessoas, uma vez que os serviços que elas prestaram à Nação foram muito importantes”. Quando João Afonso iniciou a sua carreira militar, a guerra já estava a terminar, por isso não foi convocado para as ex-colónias. Ingressou nas Forças Armadas em 1981, nas Caldas da Rainha, estando três anos em Abrantes e depois em Castelo Branco, no Centro de Recrutamento, onde a sua especialidade era a de secretariado. João Afonso era “um militar só de farda, não de armas”, um soldado que cuja convivência com armas e guerra é muito diminuta. Actualmente, o ex-soldado Afonso encontra-se há três anos na Liga dos Combatentes “a fazer tempo de serviço” porque ainda lhe faltam “uns aninhos” para a reforma. “Gosto de cá estar, eles são boas pessoas! Trabalho no computador e faço alguma coisa que apareça a nível de secretariado”, diz João Afonso com um sorriso de felicidade. Pela experiência que tem com os ex-combatentes da Liga, Jaão Afonso diz que “todos eles ficaram marcados pela experiência militar que tiveram no Ultramar, uns mais que outros. Todos os que andaram no mato ficaram com sequelas psicológicas e físicas. Não há dinheiro nenhum que possa pagar o sacrifício que estes homens tiveram para defenderem a sua Pátria”, refere o ex-militar João Afonso. Revoltado, sublinha que hoje em dia os voluntários que vão para uma missão no estrangeiro “são bem recompensados monetariamente e estes senhores, que foram para o Ultramar obrigados e tirados às famílias, não receberam nada”. Também o oficial miliciano do exército, João Petrucci, se indigna com a falta de reconhecimento em relação aos que deram a vida e a juventude pela pátria. Fala de Paulo Portas, ex-ministro da Defesa como uma pessoa falsa: “quer passar por amigo dos combatentes, criando um complemento de reforma anual, cujo valor total não suporta um café por dia. Acho bem que ajudem os que realmente precisam, mas actualmente o que acontece é que os convívios para homenagear os ex-combatentes são pequenas farsas”. O problema é que "todos querem o reconhecimento, mas o tempo do reconhecimento já lá vai, e não é esta a maneira mais correcta para o fazer. O incrível é que os indivíduos que frequentam essas cerimónias são aqueles que nunca pegaram numa arma, mas carregam inúmeros títulos de heróis como a “Ordem da Torre e Espada”", diz Petrucci. A reforma também é motivo de revolta porque os anos que cumpriu ao serviço do país não lhe contaram para a reforma. Viu a reforma antecipada quatro anos, “mas tive de pagar do meu bolso o tempo que faltava”, diz Petrucci. "Se querem ajudar os combatentes do Ultramar, o mínimo que podiam ter feito era contabilizar o tempo em que lá estivemos, para a reforma!”. O Oficial Petrucci, como era conhecido por muitos dos seus companheiros, conta que o que mais lhe entristece nesta geração foi a eleição do melhor português de todos os tempos: “como é que nomearam desportistas, políticos e não nomearam o soldado português? Obviamente foi esse o grande português. O soldado português participou na I Guerra Mundial e foi sacrificado, foi para o Ultramar e não recebeu sequer reconhecimento junto dos seus compatriotas, refere Petrucci. E como forma de afugentar a angústia que pairou sob o assunto, comenta risonhamente: “acho que já está tudo dito e mais não digo, senão corro o risco de ir preso, ainda chega aí a PIDE. Agora estamos a regredir pois já escutam as nossas conversas íntimas!”.
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Comentários: É bom ver que há quem não deixe morrer a memória de Portugal. Parabéns pelo trabalho Por: rikardo_fernandes@hotmail.com em: quinta, 18 de fevereiro de 2010
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