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A mitologia, as causas e um escritor atento
João Botão dos Santos · quarta, 29 de mar?o de 2017 · Das boas composições aos livros publicados. O jovem escritor Samuel F. Pimenta começou a escrever aos 10 anos de idade e teve oportunidade de expor o seu percurso e obra no agrupamento de Escolas Pedro Álvares Cabral. |
Samuel F. Pimenta acompanhado de Helena Fortuna, responsável pela Biblioteca Cantadeiras de Caria |
22001 visitas “Uma pessoa atenta” – é assim que Samuel F. Pimenta se caracteriza. O jovem escritor visitou a biblioteca Cantadeiras de Caria e a biblioteca do agrupamento escolar Pedro Álvares Cabral, onde teve oportunidade de expor a sua obra e as suas vivências. A iniciativa organizada em parceria pelas duas bibliotecas, a junta de freguesia de Caria e a Rádio Caria aproximou os estudantes do concelho a este agente cultural que começou nas lides da escrita com apenas 10 anos de idade. “Eu escrevo se tenho uma história, se tenho inspiração para um poema”, começou por confidenciar Samuel Pimenta, que comparou o seu processo criativo com o crescimento de uma planta. “É algo natural”, lançou Samuel que acrescenta que não se obriga a escrever. O escritor natural de Alcanhões, em Santarém, começou desde muito novo a escrever: os pequenos contos de fantasia foram o ponto de partida para a criação da sua obra literária. “Na sala de aula comecei a perceber que tinha jeito para escrever”, relembrou Samuel que começou a sentir necessidade de escrever em casa, algo que faz até hoje. “Com a vossa idade já tinha escrito o meu primeiro livro”, foi assim que Samuel Pimenta se começou por dirigir aos alunos do agrupamento de Escolas Pedro Álvares Cabral. O escritor, hoje com 27 anos, teve oportunidade de falar do seu percurso e dar a conhecer a sua obra aos jovens alunos belmontenses, apresentando-se como um escritor atento, de causas, e crítico quanto a uma sociedade que considera formatada. O “Escolhido” foi o seu primeiro livro, que escreveu com 16 anos, ainda muito novo, mas só veio a publicar em 2009, quando já se encontrava na Universidade Nova de Lisboa a tirar o curso de Ciências da Comunicação. Acabou por trabalhar diretamente na área da comunicação, mas neste momento vive apenas da escrita. A poesia entrou na sua vida aos 13 anos e o seu segundo livro publicado incide nessa vertente. “O Relógio” é o nome do livro e nome de um poema, que acabou por ganhar em 2012 o prémio para jovens criadores. “Um livro escreve-se, um poema escreve-se, é para estar disponível para as pessoas, não é para ficar trancado”, assumiu Samuel que um ano mais tarde optou por publicar o poema, especialmente pela temática que o mesmo representa. “O poema é um grito”, explicou o jovem que assume uma crítica feroz a uma sociedade que se repete em comparação com a repetição que os relógios representam. Seguiu-se o “Geometria”, um livro publicado em 2014, também ele de poesia, mas com uma génese diferente, mais meditativo. “Esta será uma temática que vos deve interessar particularmente”, foi assim que Samuel começou por apresentar o seu quarto livro, “Os números que venceram os nomes”, uma distopia. A história retrata um jovem que se encontra numa era que se encontra 300 anos afastada da atualidade, isto numa sociedade que não tem nomes, mas sim números. Esse jovem chama-se 1916, trabalha num “call center” e está diariamente forçado a uma vida repetitiva de atendar chamadas, uma vida vazia. Nesta sociedade os nomes desapareceram porque os cientistas descobriram a fórmula matemática que comprova a existência de Deus. A partir daí, a forma de adorar Deus mudou, as pessoas dão números a Deus, uma clara alusão a um depósito de dinheiro, numa crítica clara, primeiro a uma vida vazia e repetitiva e num segundo plano uma crítica social ao sistema religioso mantido no livro. No mesmo ano Samuel Pimenta acaba por publicar um novo livro, novamente de poesia intitulado “Ágora”, com apenas 59 páginas, um livro que vai ao encontro deste imaginário da tensão que existe, neste momento, com a problemática do terrorismo e dos refugiados. Por fim o seu último livro, recém-publicado no passado mês de fevereiro, intitula-se “Iluminações de uma mulher livre”. Para a elaboração deste livro o escritor “refugiou-se” na beira alta, em Carregal do Sal, terra da sua mãe e do seu avô materno durante um mês. A história baseia-se numa lenda que o autor conheceu durante a sua estadia, a lenda da cova da moira, que retrata uma mulher que viveria nesta cova e seria repudiada pela população. Pegando na lenda Samuel decidiu escrever um livro sobre uma mulher que vive um casamento violento, mas que se quer libertar, o enredo vive da dúvida que esta mulher sente, por um lado quer matar o seu marido, por outro tem dúvidas. “Acho que é triste perceber que as pessoas vão pouco às bibliotecas e que se preocupam pouco com a leitura”, confessou Helena Fortuna, responsável pela biblioteca Cantadeiras de Caria. A responsável pela biblioteca foi uma das dinamizadoras da atividade e explicou que a escolha do autor recaiu em Samuel por ser “um escritor jovem e pela obra interessante que possui”. A biblioteca de Caria assume-me se também como o espaço internet da vila, onde Helena consegue ter a perceção que os jovens estão ligados sobretudo à internet. “Os jovens não procuram pegar num livro e enriquecer-se com a leitura”, lamentou. Samuel para além de se assumir como “uma pessoa atenta” e “de causas”, admite que a sua escrita não vive sem a mitologia. Este é um tema vital para toda a sua obra. Quando questionado sobre o melhor conselho que ele, enquanto escritor, poderia deixar aos jovens que queiram seguir as mesmas pisadas foi claro e conciso: “Não gosto de fórmulas, cada um encontra o seu próprio caminho”, adiantou sem deixar de acrescentar que a leitura tem um papel muito importante. “Ler dá-nos oficio e é essencial não se desistir ao primeiro conto ou ao primeiro poema, mas acima de tudo é importante ter um olhar próprio”, confessou. Neste momento o escritor tem em mãos um novo projeto que o fez viajar por alguns países da Europa. Sem querer adiantar muitos pormenores, confidenciou que esteve em processo de pesquisa em países como a Bélgica, Roménia e Hungria. “Este será um livro que incidirá no tema das migrações”, concluiu. |
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