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Exposição na UBI apresenta percurso literário de Arnaldo Saraiva
Rodolfo Pinto Silva · quarta, 15 de outubro de 2014 · @@y8Xxv Nasceu em Casegas e passou a vida a trabalhar no campo da cultura. Tem parte importante de uma carreira dedicada à literatura exposta na Biblioteca Central. Faz parte de uma homenagem organizada por três instituições da Covilhã. |
Arnaldo Saraiva apresenta ao reitor da UBI algumas das obras patentes na mostra |
21992 visitas A obra é múltipla e abrange vários campos, mas sempre com a cultura – a literatura – a servir de elemento aglutinador. O homem, esse, foi alvo de uma homenagem, no último sábado, na vila do Paul, que continua agora na Universidade da Beira Interior (UBI), através de uma exposição bibliográfica e documental que está patente na Biblioteca Central. Retrata a vida e obra de Arnaldo Saraiva, natural de Casegas, no concelho da Covilhã e que passou uma vida a lecionar – foi professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto –, a estabelecer pontes entre homens das letras portugueses e brasileiros, conjugando isto com uma obra ensaística e a divulgação de autores da Beira Baixa. Entre eles, uma das figuras maiores da poesia nacional: o fundanense Eugénio de Andrade. Começou no Paul – na Casa da Cultura José Marmelo e Silva – a homenagem a Arnaldo Saraiva, a cerca de 10 quilómetros da terra natal. Duas localidades de uma zona rural, distante dos grandes centros, com música popular a iniciar a cerimónia. Elementos que marcam a vida de Arnaldo Saraiva.
SEM ESQUECER CASEGAS O ex-docente nunca esqueceu as suas raízes – “O génio do lugar nunca saiu de mim. Eu não preciso sequer de falar de Casegas para falar Casegas”, disse durante a intervenção, na Casa da Cultura, e também nunca esquece a cultura popular. Paula Morão, encarregue de traçar o perfil de Arnaldo Saraiva, lembrou os estudos da literatura popular, abordados sem se preocupar com limites preconcebidos. “É um homem do seu tempo, mas tem uma consciência muitíssimo aguda da tradição e da cultura nos seus vários sentidos. É por isso que Arnaldo Saraiva publicou e continua a estudar as fronteiras entre a cultura popular e a cultura culta, numa perspetiva que é inclusiva, sem nenhum preconceito relativamente às formas da literatura popular”, explicou a docente da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Há mais para dizer do percurso de Arnaldo Saraiva. A faceta da intervenção cívica, corporizada na colaboração em jornais nacionais de referência e no beirão Jornal do Fundão, por exemplo. Se dúvidas existiam acerca desta posição para o escrutínio da causa pública, elas ficaram dissipadas nas intervenções de Arnaldo Saraiva, quer no Paul, quer na UBI, antes da inauguração da exposição.
PREOCUPADO COM PROFESSORES A primeira vez que arrancou um aplauso da assistência foi para falar da carreira docente. Falava de um País que, diz, corta na cultura, maltrata idosos e funcionários públicos e referiu o caso dos professores, “que mal pagos se sujeitaram às mudanças de programas e de livros escolares, que se sujeitaram a deslocações absurdas, a grosserias de alunos e de pais de alunos e a caprichos e desvarios, como o ‘pior do crato’”. No Paul, houve ainda tempo ouvir Sérgio Godinho, um dos “alvos” do estudo de Arnaldo Saraiva e Nelson Marmelo e Silva, responsável pela Casa da Cultura que organizou a homenagem, juntamente com a Câmara da Covilhã e a UBI. Transferiu-se a comitiva, ao fim da tarde, para a Biblioteca Central onde a curadora da exposição que fica patente até 9 de novembro – Cristina Vieira, docente do Departamento de Letras da UBI – apresentou a mostra e o homenageado, perante o reitor, António Fidalgo, e o presidente da Assembleia Municipal e ex-responsável máximo da instituição, Manuel dos Santos Silva, e o vereador com o pelouro da Cultura na autarquia, Jorge Torrão, entre outros. A mostra de livros da sua autoria, organização, ou oferecidos por vultos da cultura como Jean Paul Sartre, entre outros objetos, está dividida em quatro campos, segundo explicou a curadora: “A literatura beirã, a literatura brasileira e a literatura ‘marginal izasa’. O quarto eixo cardinal é o modernismo português, e a sua estrela maior, Fernando Pessoa”. Uma mostra que culmina um dia de destaque dado a um homem da cultura que sintetiza a homenagem como “muito simpática e muito inesperada”, sem perder oportunidade de falar de novo do estado do País: “Nunca trabalhei para homenagens. Trabalhei por um imperativo cultural meu e porque tenho prazer no que faço. Acho que no Portugal de hoje devia haver muito mais gente que tivesse prazer no que faz”. |
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