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Cortes no financiamento foram notícias desagradáveis
Rodolfo Pinto Silva · quarta, 29 de janeiro de 2014 · @@y8Xxv Perto de completar cinco meses como reitor da Universidade da Beira Interior, António Fidalgo destaca a reorganização tranquila como um dos aspectos mais relevantes a nível interno. No quadro externo, a redução do orçamento pesa negativamente. Em entrevista, o responsável fala da reestruturação do ensino superior e das relações com o exterior. |
António Fidalgo tomou posse como reitor da UBI em setembro |
21987 visitas Está há quase cinco meses à frente da reitoria da Universidade da Beira Interior. Que primeiro balanço se pode fazer? Penso que é um balanço positivo. De aprendizagem e de implementação das medidas que constavam no programa eleitoral, nomeadamente na reestruturação de serviços. Foi feito com profundidade e muita tranquilidade, sem pôr em causa o normal funcionamento da instituição, um ponto que registo com o maior agrado. As mudanças abrangeram os Serviços Académicos, Serviços Técnicos e Serviços de Ação Social, nomeadamente na parte da alimentação. Por outro lado, creio que se conseguiu mobilizar a comunidade académica. Houve eleições para os diferentes órgãos – Faculdades e Departamentos –, que talvez tenham sido o momento mais importante ao longo deste tempo. Foi tudo feito num clima muito tranquilo e com muito empenho. Isto a nível interno.
E em termos externos? Aí temos tido dificuldades, que são conhecidas da opinião pública. Nós tivemos notícias desagradáveis, logo no início do ano letivo: um corte de 8,5 por cento relativamente ao orçamento de 2014, que no caso da UBI é de um milhão de euros. Outro triste facto é que não tivemos a descativação dos 2,5 por cento do orçamento. Tudo somado, dá um milhão e 500 mil euros. Que é realmente significativo numa instituição como a nossa.
Tendo em conta esses cortes, prevê um ano de 2014 muito difícil? Em 2013, pela primeira vez, entrámos nos nossos fundos próprios. Se os estamos a gastar, é porque os temos. Houve universidades e institutos politécnicos que tiveram descativação, porque não os tinham. Considero que a sua existência é extremamente positiva e alegro-me de os ter. O que eu sou absolutamente contra é que sejamos prejudicados por isso. Uma boa gestão no passado significa que vamos ter uma perda de financiamento no presente.
Durante a tomada de posse dos novos presidentes das faculdades avançou o desafio de melhorarem ao nível de recursos humanos, nomeadamente dos docentes. Tendo em conta estas dificuldades, isso é possível? Nota-se na UBI uma falta de investimento nos recursos humanos. O que é um facto é que nos últimos anos perdemos muito pessoal. Só para se ter uma ideia, os serviços de alimentação da UBI já chegaram a contar com 70 unidades e neste momento estamos reduzidos a 40. Não temos aberto concursos e temos de o fazer para termos uma universidade pujante. Têm havido os constrangimentos orçamentais, mas isso não deve ser obstáculo, na medida do possível. Como eu já expliquei, tanto no Conselho Geral como no Senado, há concursos que podem ser feitos e que não envolvem demasiados custos suplementares. Dentro da carreira docente, há uma proximidade entre escalões. Por exemplo: se eu tiver um professor associado com agregação, no quarto escalão, e ele for para catedrático, não passa a ganhar mais dinheiro. Significa que podemos fazer mais com menos. Nós estamos limitados pela Lei do Orçamento de Estado, que nos impõe que as despesas salariais não aumentem de um ano para o outro. Mas nós com algum reajustamento, com as aposentações, teremos margem para fazer esses ajustamentos.
E como poderá a universidade colmatar os cortes? Há a captação de fundos através de prestação de serviços à comunidade… É mais através de projetos. Há universidades que conseguem mais com prestações de serviços. Nós também conseguimos, mas nada que se compare com as universidades do Litoral, que têm economias pujantes, que não acontece aqui no Interior do país. Portanto, o que nós temos feito é promover muito a candidatura a projetos nacionais e europeus de financiamento e acho que temos conseguido.
Continuará a ser uma aposta, então? É uma aposta muito forte nos projetos estruturais e também, agora, aproveitando o quadro europeu do Horizonte 2020. A nossa ideia é mobilizar toda a universidade para concorrer a esses programas. Mas resulta novamente que, se não tivermos fundos, não podemos concorrer porque é necessário um fundo de maneio inicial e, depois, uma comparticipação nacional.
Noutro plano, uma forma de conseguir alguns recursos é através de financiamentos da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), mas as coisas parecem ter-se complicado. O que pensa desta polémica? A FCT vive uma reestruturação profunda. Neste momento, estamos à espera dos resultados da avaliação das unidades, para vermos como é que a investigação vai ser avaliada e depois financiada. Mas não há dúvida nenhuma de que, como reitor, assisto com muita pena ao que está a acontecer. Ou seja, uma diminuição absolutamente dramática ao nível das bolsas de doutoramento e pós-doutoramento.
Para o próximo ano letivo, que expectativas tem na atração de alunos? O quadro não é fácil, na medida em que o número de candidatos ao ensino superior tem descido. Eu espero que, com a retoma económica, as coisas melhorem e as pessoas tenham mais confiança, e inverta o desinvestimento no ensino superior. Eu espero que, graças ao aumento da escolaridade obrigatória, a percentagem de candidatos seja maior do que os 40 por cento que temos assistido na primeira fase do concurso, e suba para números que permitam às universidades enfrentar com maior otimismo essa captação de alunos.
Referiu que há algum abandono escolar na passagem do ensino secundário para o superior, mas também se tem criado a ideia de que as universidades estão a formar para o desemprego… Isso não é verdade. De maneira alguma. O que temos verificado é que temos uma crise económica e os jovens não encontram emprego. Com qualificação têm mais capacidades para encontrarem trabalho além fronteiras e é isso que tem vindo a acontecer, porque os formados têm mais capacidade no nível do espaço internacional. Nós gostaríamos de que fosse em Portugal. Mas se Portugal está em dificuldades então é muito melhor enviar alguém com um curso superior na algibeira, do que sem qualquer qualificação académica.
O valor das propinas vai manter-se? Será visto em devida altura. Neste momento, não temos a propina máxima e considero que a solução de reforçar o Fundo de Ação Social permite que ninguém fique por estudar devido aos constrangimentos económicos.
Quanto a novos cursos. Que novas formações vão ser criadas? Tivemos a abertura de cursos em altura própria. Vamos ter, no primeiro ciclo, Georecursos e Termalismo, no Departamento de Engenharia Civil, e Informática e Web, no Departamento de Informática. Haverá ainda três cursos de segundo ciclo e um de doutoramento, em Ciência Politica, em parceria com a Universidade de Aveiro.
Houve mudanças recentes na equipa reitoral com a saída do professor Marques Cardoso. A atual equipa mantém a mesma capacidade de cumprimento do plano de ação? As funções que o professor Marques Cardoso tinha foram assumidas pelo professor Mário Raposo. Isso representa alguma sobrecarga que estamos a tentar dividir pelo resto da equipa. Portanto, mantemo-nos a trabalhar com o mesmo ânimo.
Depois de tantos anos a dar aulas, como é estar nestas funções?
Eu sou professor. Tenho saudades das aulas. Muitas saudades. Ainda voltarei às minhas aulas e aos meus alunos. É apenas um interregno na vida de um professor que está a prestar um serviço que, em consciência, achou que podia prestar à minha universidade.
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