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Geração coragem: à rasca mas sem baixar os braços
Tânia de Jesus e Marcelo Almeida · quarta, 1 de maio de 2013 · Nacional Contrariando a popular designação de Geração à Rasca, que é considerada no último relatório sobre a juventude, da União Europeia, como aquela que poderá ser uma Geração Perdida, o Urbi et Orbi mostra quatro rostos de jovens portugueses que em comum têm a coragem de lutar pelos seus sonhos apesar das adversidades. |
Quatro rostos da 'Geração Coragem' |
22002 visitas Os jovens portugueses, com idade compreendida entre os 15 e os 24 anos, são a geração mais qualificada de sempre. Contudo, são também o espelho de um país no qual o ‘canudo’ já não chega para vencer o desemprego, dado que, o desemprego jovem encontra-se, segundo dados da Eurostat, divulgados no mês de outubro, em 39,1%, bastante acima dos 19,3% de taxa de desemprego da população ativa. Edmundo Assunção, sociólogo, concorda com a atribuição do termo ‘Geração à Rasca’ aos jovens portugueses, uma vez que se trata de uma geração cuja “identidade estará, de algum modo, indefinida, tendo em conta que ainda não se conhecem bem os seus compromissos, deveres e obrigações”, explicou. Para o sociólogo, o facto de os pais desta geração, “habituados a grandes condicionalismos”, terem procurado dar aos filhos o que eles próprios não tiveram, fez com que estes não estivessem “preparados para enfrentar as dificuldades com que se foram deparando, à medida que assumiam o papel de adultos”. Apesar de esta geração ser a mais qualificada de sempre, Edmundo Assunção acredita que a qualificação que os jovens dispõem é em muitos casos, exclusivamente, académica, faltando-lhes assim uma “qualificação profissional e experiência de vida”, algo para o qual contribuiu o próprio isolamento da escola em relação ao mercado de trabalho. O sociólogo defende que, o desemprego de jovens licenciados foi causado não pelo aumento do número de vagas do ensino superior, mas sim por um “retrocesso, inesperado, da oferta laboral”, que fez com que “quase todos os cursos deixassem de ter saída”, nomeadamente, os cursos ligados às “obras públicas, economia e educação”. Estima-se que, cerca de, 65 mil jovens abandonaram o país entre junho de 2011 e julho de 2012. Edmundo Assunção acredita que a emigração é “uma das portas, mas não a única”, acrescentando que os “jovens vão ter de ser empreendedores, tomar a iniciativa e deslocarem-se para o interior do país”, alicerçados numa aposta do governo no sector primário. O relatório da União Europeia sobre a juventude, divulgado em outubro, considera que existe um desfasamento entre as qualificações e a empregabilidade em Portugal, o que faz com que um “jovem português tenha mais dificuldades a encontrar um emprego quanto maiores forem as suas habilitações”, o que os leva a concluir que esta “poderá ser uma Geração Perdida”. Edmundo Assunção assevera que tal pode ser assim entendido se existir a “expectativa de que aquilo que se estuda terá de ser aquilo em que se trabalha”. No entanto, já não acontecerá se os jovens portugueses tiverem iniciativa e forem corajosos. Nilton Paulo, Luzia Lampreia, Ricardo Tavares e Vítor Aleixo são quatro jovens, de idades compreendidas entre os 20 e 24 anos, que apesar das adversidades que o país atravessa não ‘baixaram os braços’ e, munidos de ‘coragem’, decidiram arriscar. Nilton Paulo, atual guarda-redes do Recreativo de Libolo, afirma que foi quando acabou o ensino secundário e começou à procura de emprego que surgiu a vontade de se tornar jogador profissional. “Cada vez que acabava um jogo, no campeonato distrital, recebia muitos elogios e, quando há muitas pessoas a dizerem o mesmo, acreditamos que temos potencial para investir”, acrescenta. Para o guarda-redes, a “força de vontade, o querer e a fé” foram os factores essenciais para que a “vontade de ser profissional se tornasse uma realidade”. O representante do clube angolano admite que ser guarda-redes aconteceu por acaso, dado que fez, praticamente, toda a sua formação a jogar a médio centro. No entanto, afirma que as dificuldades inerentes a esta posição não o assustaram. “As coisas quando são fáceis de mais nunca agradam a ninguém. Eu gosto de desafios, de coisas complicadas, por isso não foi nenhum bicho-de-sete-cabeças”, sublinha. Abandonar Portugal, os amigos e a família foi para o futebolista complicado. Contudo, ter sido campeão na sua primeira época, enquanto profissional, fê-lo acreditar que “valeu a pena” ultrapassar as dificuldades para depois ter aquela “alegria enorme”. “Sempre corri atrás dos meus sonhos e até agora tenho-os conquistado todos”, salienta Nilton Paulo. Luzia Lampreia, aos 14 anos, abandonou o Barreiro, a sua cidade natal, para ir viver para Aveiro numa espécie de colónia conjunta com a seleção de basquete em busca do sonho de ser “jogadora da seleção nacional”. Apesar de, atualmente, ter abandonado a modalidade, acredita que foram os princípios que adquiriu nos anos em que foi jogadora que a definem como pessoa e no modo como vê a própria vida. “Na vida, tal como no basquete, estamos num campo onde se ataca ou defende, não podemos é ficar a meio, porque isso é não fazer nada, mais vale errar ou acertar”, afirmou Luzia Lampreia. A barreirense escolheu a Covilhã, mais propriamente a Universidade da Beira Interior, para fazer a sua formação, porque esta era uma forma de sair, “mais uma vez, da zona de conforto”, mas não esconde que é no estrangeiro que pretende viver, especialmente, pelo desafio que isso implica. Luzia Lampreia não se considera “ainda uma jovem corajosa”, dado que sente que ainda não atingiu o equilíbrio entre as coisas que fez e as que se propõe a fazer. A antiga jogadora defende que é o facto de não acreditar em Deus que a faz procurar alcançar por si todos os objetivos. “Eu não ligo à religião porque não preciso, dado que é com as pessoas que eu aprendo e é com elas que me sinto bem”, reforça Luzia Lampreia. Ricardo Tavares e Vítor Aleixo concluíram em 2011 o curso de Ciências da Comunicação, na Universidade da Beira Interior. Numa época em que predomina o emprego incerto, os estágios não-renumerados e em que a taxa de desemprego jovem ronda os 40%, não escondem que a conjuntura económica do país os assustava; contudo foi também ela que os levou a agir. “Foi o facto de nos assustar que nos levou a perder a cabeça e a lançarmo-nos num projeto arriscado”, admitiu Ricardo Tavares. Em 29 de novembro de 2011, criaram o Fórum Covilhã, um jornal regional, o projeto permitiu-lhes não só exercerem a profissão com que sempre sonharam, como também aproveitar, segundo Vítor Aleixo, uma “brecha do mercado em aberto”, para fazerem um “jornalismo diferente, sem vícios”. Vítor Aleixo acredita que foi graças ao trabalho desenvolvido, durante este ano de existência, que conquistaram a confiança dos covilhanenses e salienta que o jornalista regional é bastante diferente do jornalista nacional.“O jornalista regional não é só jornalista, é também contabilista, administrador, por vezes até distribuidor e a pessoa que limpa o chão”, explica. Porém, enaltece que é isso que enriquece a experiência profissional. Ricardo Tavares refere que quando lançaram o jornal tiveram de recorrer a um investimento, dado que, no início os apoios foram poucos. Todavia, é esse investimento, segundo o empresário, que lhes dá mais força para não desistirem “à primeira dificuldade”, concluindo que são jovens de coragem, na medida em que foram auspiciosos e aventuraram-se num projeto que “não podia falhar”. |
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