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Tributo aos lanifícios na Covilhã
Teresa Isabel Nicolau · quarta, 14 de novembro de 2012 · O lema do projeto artístico de JR virar o mundo do avesso serve como uma luva ao Inside Out Project (IOP)- Covilhã. Na iniciativa do festival de arte urbana Wool, realizada dia 10, atrás do retrato e do rosto anónimo há uma história para ser contada. |
Organizadores IOP Covilhã (Lara Rodrigues, Elisabet Carceller e Pedro Rodrigues) |
22008 visitas Na velha fábrica da Calçada de Santa Cruz, inicialmente conhecida como Aníbal Pereira Nina e depois Amândio Saraiva, o IOP Covilhã apresenta os retratos monocromáticos do artista franco-tunisino JR em pósteres de tamanho A1 (1,20x0,90) que preenchem a faixa central da fachada do edifício. Algumas das 44 imagens acabaram por ser levadas com a força do vento invernoso da Covilhã. É o efémero da arte urbana. São fotografias de pessoas de vários estratos e todas estão ligadas à história da indústria dos lanifícios. A mensagem do IOP Covilhã passa pelo espírito do festival de arte urbana Wool. “É o tributo à história da cidade que será sempre sinónimo de lanifícios” refere Lara Rodrigues, uma das organizadoras do evento, acrescentando um exemplo. “até a universidade pegou nos edifícios das antigas empresas”. Pedro Farromba expressa orgulho ao “olhar para estes homens e mulheres que construíram a cidade e fazem parte da história da Covilhã”. Para o vice-presidente da Câmara da Covilhã, na fachada da antiga fábrica Amândio Saraiva, “hoje estão ainda mais atentos porque se encontram num ponto alto a olhar para a cidade para avaliar o quanto ela tem vindo a crescer e evoluir”. Já para o antigo dono da empresa Cristiano Cabral Nunes e do Complexo Industrial de Lanifícios (CIL) é pouco: “desejo que a Covilhã progrida mais”, diz Manuel Mesquita Nunes. “Os trabalhadores e empresários dos lanifícios deram um contributo inestimável para a história da cidade”, diz Luís Garra, presidente do Sindicato Têxtil da Beira Baixa. Mesquita Nunes concorda: “sinto-me satisfeito por alguma coisa que fiz pela cidade”. Havia cerca de 8 mil trabalhadores em fábricas e todas fecharam. Desses milhares de operários têxteis, garante Mesquita Nunes “quase todos passaram pelo CIL. Quando a fábrica fechou eram 450”. Os organizadores do festival de arte urbana Wool foram surpreendidos com algumas das entrevistas aos antigos trabalhadores do CIL. “Todos os operários falaram dos bons tempos que passaram nas fábricas e disseram muito bem dos antigos patrões”, refere Lara Rodrigues. O Urbi constatou essa memória na conversa com João Nunes, ex-trabalhador da fábrica Cristiano: “foi o melhor patrão que já tive. Éramos uma equipa”. Manuel Mesquita Nunes Confirma: “nem eu era considerado patrão, nem eles operários. Éramos amigos”. Assim se explica, o sentimento dos retratados no IOP Covilhã. “Não falam com revolta por terem ficado sem trabalho no pós-25 Abril”, mas, diz Laura, “com mágoa de ter assistido ao encerramento das fábricas”. Por exemplo, “o senhor que começou a trabalhar aos 15 anos e só dois meses depois teve dinheiro para comprar o primeiro par de botas expressa orgulho por ter conquistado com suor tudo o que tem na vida”, refere a organizadora do Wool. Com o acervo do IOP Covilhã, quase meia centena de entrevistas gravadas, pode ainda surgir um documentário sobre a história da indústria de lanifícios da Covilhã. |
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