Voltar à Página da edicao n. 379 de 2007-05-08
Jornal Online da UBI, da Covilhã, da Região e do Resto
Director: António Fidalgo Directores-adjuntos: Anabela Gradim e João Canavilhas
 

“Cidadãos de um mundo novo”

> Ana Albuquerque
> Igor Costa

A música é cantada em missas e encontros religiosos juvenis há bastantes anos, mas o seu teor não deixa de ser verdadeiro. No palco do Dia Diocesano da Juventude, foi o projecto “A Barca”, da Caritas da Guarda, quem a fez ouvir. São jovens diferentes, com deficiências físicas, mentais ou outras dificuldades, mas que agarram a vida com mais força ainda, e se afirmam como cristãos. Todavia, a coragem não chega a todos. “Há muitas adversidades, mais do que há uns anos atrás. Hoje em dia é mais difícil: há novas formas de entender a fé e Deus. Ao mesmo tempo, os jovens estão cada vez mais ocupados ou, possivelmente, desocupados. Estão cada vez mais cheios de muita coisa e vazios de tudo, nessa perspectiva”, explica o padre Jorge Castela.
O sacerdote, de 35 anos, critica os jovens com o mesmo carinho com que trabalha para eles. Por isso, o jovem padre não esquece o lugar que os mais novos e os cristãos em geral ocupam no mundo: “Um cristão tem de viver no mundo. Para além de viver dentro dessas quatro paredes a que chamamos igreja, tem também de viver fora delas, porque a verdadeira Igreja são as pessoas, não são as paredes, e é preciso que se viva Igreja no mundo”. Nesta vivência, Jorge Castela valoriza a maturidade da fé, “que influencia de dentro as pessoas a agir segundo os valores do Evangelho”.
A ausência de um número significativo de jovens universitários no Dia Diocesano da Juventude não passou despercebida a D. Manuel Felício que, ainda assim, é cauteloso: “Temos de julgar estas situações não apenas com critérios racionais, mas também com critérios emocionais. Só chegamos aos jovens conciliando uma racionalidade sã com um apelo aos sentimentos”. “Ainda não encontrámos as linguagens para levarmos a mensagem ao lugar certo”, considera o prelado. Esta aproximação tem em vista um ponto em que D. Manuel Felício tem vindo a insistir, pois “uma vida profissional tecnicamente bem preparada exige também uma vida de valores”.
“O caminho da proximidade a cada um dos jovens, o caminho do diálogo com cada um, o caminho do acolhimento, o dispormos de condições para responder a problemas concretos” são as formas que o prelado realça para ir ao encontro desta faixa etária.
O padre Jorge Castela identifica a necessidade de preparar os grupos através de itinerários de fé, a fim de traçar um percurso sólido. “Sabemos da inconstância dos jovens. Mesmo nesta zona do Interior, os jovens emigram muito por causa dos estudos e acabam por quebrar os ritmos que têm nas suas paróquias”, avença o sacerdote.
Para o bispo da Guarda, a formação num estilo de vida próximo das propostas de Jesus é a pedra de toque “para que se possa segui-Lo e amá-Lo”. D. Manuel Felício encontra na sociedade civil e nos meios de comunicação social forças que, em diversas circunstâncias, “estão empenhadas em nos tirar o tapete e às vezes até em transformar situações que são hipóteses remotas em dados certos quando não o são”. No próximo ano, o responsável pela pastoral juvenil diocesana apostará em “dar mais”. “Começámos por uma tarefa de sensibilização, agora temos a formação, e no próximo ano será mesmo o compromisso”, garante o padre Jorge Castela.
Tendo em conta estes dados, o prelado diocesano convida os cristãos a organizarem-se no seu espaço “para que sejamos uma diferença no palco da sociedade que precisa bem dela”. Nos jovens cristãos vê “a diferença que a sociedade precisa para o futuro, e eu estou empenhado em que os nossos jovens cristãos assumam o papel que lhes compete, que é insubstituível”.
Os inquéritos que o próprio DPJG elaborou revelam dados contraditórios. A falta de coragem para firmar compromissos é assumida pelos próprios jovens. Ainda assim, dizem ter uma relação muito boa com Deus. Mas a Igreja e os seus padres são irredutíveis. O divino exige entrega, e não se presta a relações oportunas, em que as preocupações momentâneas encontram resposta em preces circunstanciais.
Mais contraditório parecerá o facto de se qualificarem a si mesmos no meio de uma qualquer tabela avaliativa. Dizem situar as suas preferências no “gozar a vida” e na “diversão”. A Igreja tem-se aberto, e tem criado espaços de dinamismo para acolher os jovens mais afastados. Este desejo é, localmente, assumido pelo bispo diocesano e pelo responsável pela pastoral juvenil. Ainda assim, até que ponto a vontade dos religiosos será suficiente para cativar quem se revela pouco receptivo aos valores da solidariedade e da família? Até que ponto conseguirá a Igreja acolher estes cidadãos de um mundo novo, quais filhos pródigos, mas tão cheios de contradições?

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Data de publicação: 2007-05-08 00:00:00
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