Voltar à Página da edicao n. 379 de 2007-05-08
Jornal Online da UBI, da Covilhã, da Região e do Resto
Director: António Fidalgo Directores-adjuntos: Anabela Gradim e João Canavilhas
 
Dezenas de jovens de toda a região reuniram-se na Covilhã

O insustentável peso de ser jovem cristão

“Sejam mais na cidade da Covilhã, e manifestem-se enquanto cristãos pelas ruas por onde passarem”, desafiava o padre Jorge Castela. O cónego José Geraldes, arcipreste da cidade neve, lançou o mesmo apelo, com outras palavras: “Quando os jovens arrefecem, o resto do mundo bate os dentes”. Porém, a Covilhã aqueceu. Animação, diversidade e irreverência juntaram-se ao espírito de jovem cristão: ir ao encontro do outro.

> Ana Albuquerque
> Igor Costa

A fasquia era elevada. Nos documentos enviados para a comunicação social, o Departamento da Pastoral Juvenil da Diocese da Guarda (DPJG) fez questão de referir os milhares de jovens presentes nas edições dos dois últimos anos. As edições em Trancoso e na Guarda, em 2005 e 2006, encheram os covilhanenses de expectativas. Saíram goradas, as de muitos. “Não estão cá mil!”, ouvia-se entre os habitantes locais. “Nem oitocentos”, diziam outros que, ao longo do dia, se juntaram à festa. E com razão. Em momento algum houve mais de seis centenas de jovens no Pelourinho da Covilhã, a celebrarem este Dia Diocesano da Juventude.
Mal feitas estavam também as contas da própria Polícia de Segurança Pública (PSP), que indicava entre 700 e 800 pessoas. Segundo o padre Jorge Castela, estavam cerca de 600. A verdade é que a enchente do ano passado não se repetiu. Mas os números iam-se aproximando das projecções à medida que mais jovens se juntavam à festa, o que aconteceu durante todo o dia.
Há um ano a cidade da Guarda foi toda ela uma verdadeira cidade juvenil a descobrir pelos forasteiros. Na edição da Covilhã foi diferente. Foram “só uns seiscentos”, como se ouvia também, a pensar sobre algumas das problemáticas mais proeminentes em torno da juventude. Os seiscentos, redondamente significativos, foram suficientes para alastrar a alegria a toda a cidade. O convite era alargado, e a população compareceu.
Se tivermos em conta que a aposta do DPJG para este ano está voltada para a formação, tanto de jovens como, sobretudo, de animadores de grupos, os moldes adoptados parecem justificar-se. Este ano, a cidade neve, que é universitária, transformou-se num imenso laboratório de sociologia. “Família”, “Sexualidade”, “Café”, “Diferença”, “Desencontros” e “Caminho” assumiram nome de atelier de reflexão, por onde todos se distribuíram. Sem tabus, ouviram-se questões e respostas, experiências e anseios. O debate tinha uma direcção clara, visível nas tarjas colocadas nos locais. Perguntava-se: “Como podem hoje os jovens «ser mais» em cada um daqueles espaços?”. Era unânime a certeza de que lhes é difícil assumirem as suas crenças.
A Covilhã demonstrou-o de uma forma acutilante. Na sua terra foram poucos os jovens a assumirem a sua fé. «Foi preciosa a ajuda dos que compareceram. Mas esperava-se mais. Bem mais». O dilema coloca-se entre os grupos de amigos, e para Mário Pereira, docente na Universidade da Beira Interior (UBI), esta realidade é evidente. É difícil “dar a cara quando somos cristãos, e assumi-lo. A grande parte dos nossos jovens até são cristãos, participam nas suas paróquias activamente, mas aqui têm receio de serem postos em causa e de serem apontados a dedo”.
Para o docente, os jovens tendem a procurar algo diferente daquilo que são as propostas actuais, preferindo actividades que lhes toquem no interior. A juventude entrou num processo em que está a “retornar às suas origens”, a fim de fazer algo produtivo em favor da sociedade. É desta forma que Mário Pereira vê os estudantes da UBI.
“Eu sou optimista por defeito, mas apesar de parecer que os nossos universitários estão um pouco distanciados, eles retornam ao seu caminho se alguém os chamar. São jovens voluntariosos, que têm algumas carências afectivas. São filhos da gente que fez a revolução, em que grande parte dos valores foi destruída, e o cristianismo foi posto em causa. Agora são os mais novos que estão a sofrer com esta sociedade”. Mesmo assim, muitos jovens da Covilhã participaram e, mais uma vez sem complexos, gritaram com outros: “Aqui está Jesus!”.
Ajuda preciosa, a deles. Não só na vivência da festa, potenciada pelos muitos quilowatts de luz e som sobre o palco do pelourinho. Há vários meses que os grupos da cidade trabalham com afinco em torno deste dia. No DPJG as coisas começaram ainda mais cedo. Desde Outubro que se fala no passado sábado. O mês de Janeiro fez chover ideias dos grupos que se foram organizando. Outros juntaram-se nos ensaios para a Eucaristia, que decorreram durante todo o último mês.
Diferentes estatutos, idades, estaturas e profissões reuniram-se à volta das mesmas guitarras. A dedicação de meses ao trabalho prático encontrou paralelo na profundidade dos temas discutidos no dia. “Este dia da juventude na Covilhã é uma diferença para apontar caminhos nobres de excelência à sociedade”, exalta o bispo diocesano. Na humildade buscou-se a perfeição, e a montanha abençoou a festa, que começou em quatro pontos da cidade, com os covilhanenses a receber os peregrinos.


Dezenas de jovens de toda a região reuniram-se na Covilhã
Dezenas de jovens de toda a região reuniram-se na Covilhã


Data de publicação: 2007-05-08 00:00:00
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