Voltar à Página da edicao n. 378 de 2007-05-01
Jornal Online da UBI, da Covilhã, da Região e do Resto
Director: António Fidalgo Directores-adjuntos: Anabela Gradim e João Canavilhas
 

“Só em último caso é que eu avanço”

> Eduardo Alves

U@O – Ocupou o cargo de reitor a 19 de Janeiro de 1996. Durante estes 11 anos de trabalho conseguiu trazer para a UBI mais alunos, mais licenciaturas, a FCS, um edifício para as Engenharias, bibliotecas e residências, entre outras coisas. Pressuponho, todavia, que é ainda um trabalho inacabado?
M.J.S.S. –
A universidade nunca estará acabada. Esta é a única instituição que tem garantias de perdurar ao longo do tempo, porque tem a capacidade de renovação nos seus jovens. Nas grandes instituições e laboratórios do Estado existe a tendência para envelhecer se não se estiver ligado a uma universidade. Essa prova já foi dada em todo o mundo. Em Portugal querem agora criar laboratórios associados, que são réplicas dos laboratórios estatais, isto porque, quer se queira, quer não, são as universidades que têm esta capacidade de manter as instituições jovens ao longo do tempo. O que quer dizer que se não a renovarmos, deixamos de produzir cientificamente.
Novos desafios serão lançados à UBI, mas o que posso dizer nesta matéria é que tendo em consideração a realidade que conhecemos hoje e tendo em conta a expansão física da UBI, a instituição está praticamente concluída. Hoje temos uma área construída que nos permite acolher mais alunos. Dimensionámos sempre os nossos edifícios para o futuro. Tem de haver sempre uma estratégia para o futuro.
Houve um imenso esforço do actual reitor para este aspecto. Nos últimos dez anos, a UBI, em área construída, cresceu 70 por cento. Para além desta área, a UBI tem cerca de quatro mil metros quadrados em construção, tem cerca de 11 mil em projecto que vão avançar e temos mais de cem mil metros quadrados de terrenos. Isto é um bom sinal do património invejável da instituição.
Houve uma preocupação e um esforço enorme em promover o que a UBI tem de melhor, os seus recursos humanos, que para mim são os docentes, alunos e funcionários. Mas quer se queira, quer não, tem de existir uma estrutura para tudo isso, e alguém tem de suportá-la. Ao longo destes anos, as pessoas praticamente não me ouviram falar de estrutura, mas ela foi aparecendo e julgo que podemos agora dizer que temos uma estrutura. Os meios humanos qualificados foram sempre a minha tónica fundamental de acção. Enquanto crescemos 28 por cento nos alunos, crescemos 70 por cento na área construída, mas também, 70 por cento no número de doutores. A universidade qualificou-se. Quando vemos o rácio de docente por aluno tivemos um salto positivo enorme. A qualidade da instituição é o que me interessa. Mas não quero com isto dizer que o trabalho está feito, haverá sempre novos desafios pela frente.
U@O – Pensa por isso recandidatar-se ao cargo de reitor?
M.J.S.S. –
Não estou a dizer isso. Felizmente que a UBI tem hoje um conjunto de professores catedráticos de nomeação definitiva, que poderão, de certeza absoluta, assegurar melhor que eu este lugar. Até sou a favor de que haja renovação das pessoas nos cargos. Só em último caso é que eu avanço e o futuro a Deus pertence. Para as eleições ainda falta algum tempo.
Não nos podemos esquecer também que estamos numa fase complexa de mudança da lei que nos rege e da lei fundamental que é a Lei da Autonomia Universitária. Não sabemos, neste momento, o que nos reserva essa lei em termos de estatuto jurídico das universidades e da gestão destas. Há muita gente que fala na conversão destas em fundações, que eu não creio e penso ser um erro. Defendo que devemos continuar a ser institutos públicos com autonomia reforçada. Mas há outros que já defenderam que deviam ser empresas públicas, como há também quem defenda que o reitor devia ser nomeado pelo governo.
Estamos num período em que não vale a pena falar na minha continuação ou não, deixemos que a legislação apareça. Será um erro que as universidades não sejam consultadas, seja a que título for, sobre quem as vai governar. Nomeações, que até podem ser válidas noutros países, podem não funcionar aqui. É necessário vermos a cultura democrática que temos. A nossa democracia é extremamente jovem, está agora a consolidar-se.

U@O - Defende que a eleição do reitor deve continuar a ser realizada como até aqui?
M.J.S.S. –
Não estou a dizer que o reitor deva ser eleito da forma como o é agora e que não existam mudanças no processo, não é isso, até porque tem existido uma proliferação de órgãos nas universidades. Há pois uma necessidade absoluta de revermos as leis que nos regem e de as tornarmos mais eficazes. Julgo que a universidade deve ser consultada, deve existir uma eleição, não sei de que forma ou através de que órgão, mas deve ser algo que deva ter, como no nosso Senado, a participação da sociedade, com individualidades convidadas. Esta é uma questão de fundo, e esta é tão somente a minha opinião. Mas não é o momento de estarmos a falar nisso, porque até pode não haver candidaturas. Devemos esperar para ver. A lei deve permitir a abertura a novas transformações na universidade. Estas instituições são como seres vivos. Repare-se que a UBI é diferente da Universidade do Porto, como esta é diferente da Universidade de Coimbra e por aí fora, cada uma é como é. A lei deve dar abertura a que estatutariamente, as universidades definam, por si próprias, as suas formas de governo e que essas sejam as mais adequadas para as suas instituições. Temos a ver com a dimensão, com a estrutura, com a idade. Defendo por isso que seja dada liberdade na elaboração dos estatutos às instituições e que aí sejam definidas as formas de governo.

U@O – Mas já pensou numa possível continuação?
M.J.S.S. –
Aquilo que já pensei e continuo a dizer é que os interesses da instituição devem estar acima de tudo. Estarei disponível para continuar a apoiar o desenvolvimento da UBI. Já não sei fazer mais nada. O que não quer dizer que continue como reitor. Estou disponível para continuar a apoiar e a trabalhar para a UBI. É tudo quanto posso dizer neste momento. Não vou avançar mais nada, até porque não o posso fazer, no estado em que estamos até de mudança de legislação. E volto a dizer que neste momento existem na instituição pessoas que podem conduzir, provavelmente, até melhor do que eu, os destinos da UBI. Deixemos que a lei apareça e que a universidade possa continuar a ter a possibilidade de ser consultada sobre a pessoa que deve dirigir os seus destinos.

U@O – Tem medo que apareça uma lei que ordene nomeações políticas para os lugares de topo das universidades?
M.J.S.S. –
Tenho. Isso seria o fim das universidades.

U@O – Mas pensa que vão acontecer?
M.J.S.S. –
Espero que não venha. Mas também não quero com isto dizer que nas universidades não possa haver, numa determinada proporção e em determinados órgãos, um representante do ministério. Mas suponha-se que existe um Senado com individualidades convidadas, entre as quais, externas à universidade, poderia estar alguém do ministério, mas com o peso devido num determinado órgão. Sou contra a existência de comissários políticos nas universidades,.

U@O – Existem então 14 docentes com a possibilidade de se candidatarem a reitor. A seis meses da eleição não acha que deveria já existir alguma candidatura definida?
M.J.S.S. –
Não, pelas razões que já disse. Julgo que deve de existir o bom-senso de esperar pela legislação que tarda a sair. Em bom rigor, o ministro da tutela, anunciou que na primeira semana de Abril teríamos a proposta da nova Lei da Autonomia, a enviar para a Assembleia da República. Neste momento ainda não existe nada disso. Começa a tardar e para ter efeitos no próximo ano lectivo já começa a ser tarde. Estou é preocupado com o facto de garantir a palavra das universidades sobre a eleição da pessoa que as vai dirigir. Essa é a minha principal preocupação neste momento. Felizmente temos um conjunto de professores que estarão em óptimas condições de continuar a gerir os destinos da instituição.

U@O – E a não aparecer candidato até Outubro, o actual reitor estaria disponível para continuar?
M.J.S.S. –
Não falemos em candidatos, até porque neste momento não sabemos se vai haver candidatos. Depois de aparecer a nova lei, estou convencido que as pessoas com maiores responsabilidades destro desta universidade, e são aqueles que à luz da actual lei poderão ser candidatos a reitor neste momento, farão uma reflexão.
O que eu gostaria é que a UBI não entre num período de perturbação, que esta universidade nunca teve. Houve sempre uma gestão responsável, uma coesão nos órgãos, o que permitiu que o Senado ao longo dos anos fosse permitindo que as propostas que o reitor lhe levou resultassem na estratégia de crescimento e consolidação da universidade que hoje somos. Isto deve-se ao bom clima de relacionamento que sempre houve entre os diferentes órgãos da universidade.
Veja-se o caso de outras instituições que têm guerras internas que as prejudicam bastante. Não podemos esquecer-nos de que somos uma instituição extremamente jovem e que por isso mesmo todos devemos vestir a camisola da instituição. Devemos todos comungar de um projecto único. Todos podemos ter as nossas divergências, mal seria que assim não fosse. Devemos cultivar a crítica e a discussão e quando se trata dos interesses da UBI devemos também discuti-los de forma aberta. Mas, desde que exista uma linha de rumo devemos todos defende-la para bem da instituição.

U@O – Tem assumido um papel relevante no CRUP. Pode adivinhar-se uma nomeação para a presidência desse órgão? É uma matéria sob a qual já pensou?
M.J.S.S. –
Houve eleições para presidente há bem pouco tempo. Fui vice-presidente durante algum tempo, e também aí defendi a renovação das pessoas que estão à frente das instituições. Isto não quer dizer que não continue a dar o meu contributo nesse órgão. Isto não quer dizer que eu não me continue a empenhar nos trabalhos do CRUP, até porque dessa forma estou a defender os interesses da UBI.

Estou disponível para continuar a apoiar o desenvolvimento da UBI

Não basta ter um corpo docente qualificado, é necessário ter um corpo docente empenhado



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Data de publicação: 2007-05-01 00:00:00
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