Voltar à Página da edicao n. 378 de 2007-05-01
Jornal Online da UBI, da Covilhã, da Região e do Resto
Director: António Fidalgo Directores-adjuntos: Anabela Gradim e João Canavilhas
 

“Estou disponível para continuar a apoiar o desenvolvimento da UBI”

Numa altura em que o ensino superior atravessa uma fase de mudança e em que o destino das universidades vai ser definido por uma nova lei, Manuel José dos Santos Silva, reitor da UBI, fala ao Urbi sobre as suas expectativas. Uma conversa onde se passam em revista os 21 anos de Universidade na Beira Interior, o futuro da instituição e onde a questão das eleições para reitor também merece resposta.

> Eduardo Alves

Urbi@Orbi – Estão passados 21 anos sob a publicação do Decreto-Lei 76-B/86 que cria a UBI. Que leitura faz de todo o caminho percorrido até aqui?
Manuel José dos Santos Silva –
É um percurso bastante interessante de afirmação de uma instituição do Ensino Superior no Interior do País. Começámos como Instituto Politécnico e depois passámos a Instituto Universitário e convertemo-nos em Universidade, uma vez que, para além da qualidade no ensino ser de cariz universitário, abrangíamos já diversas áreas do saber e fazia todo o sentido que nos convertêssemos em universidade nessa altura. Continuámos sempre a crescer e sempre com a mesma preocupação que tivemos com a criação do politécnico. Oferecer um ensino superior de qualidade. Para tal é fundamental ter docentes qualificados, uma estrutura física de qualidade e extremamente bem equipada e temos de ter um relacionamento com a sociedade em que estamos inseridos. Essa tem sido uma preocupação básica ao longo dos anos.

U@O – Essa ligação tem sido uma imagem de marca da UBI?
M.J.S.S. –
Não só a ligação à região, mas ao exterior. A UBI tem ligações nacionais e também internacionais que estão feitas desde o início. Quando em 1975 começámos com o Instituto Politécnico da Covilhã, tivemos logo uma grande preocupação, a de ter connosco os melhores professores. E a nossa internacionalização começa aí. Os nossos professores, nomeadamente na Engenharia Têxtil, vieram das melhores escolas a nível europeu e mesmo americano. Houve sempre uma preocupação de termos os melhores professores possíveis e de fazermos uma internacionalização do corpo docente. Tanto que, numa determinada altura, até nos acusaram de termos demasiados professores estrangeiros no nosso corpo docente. Mas agora é que as pessoas parecem estar a dar valor à internacionalização do corpo docente, algo que no nosso caso foi sempre uma constante.

U@O – Em 1975 entram nesta casa 143 alunos, nos cursos de Engenharia Têxtil e Administração e Contabilidade. Actualmente são cerca de cinco mil distribuídos por 31 licenciaturas. Espera que este crescimento se mantenha?
M.J.S.S. –
Neste momento temos 5192 alunos de licenciatura. Somos a única universidade pública que tem vindo a crescer ao longo dos anos. Mas também é verdade que tivemos áreas que perderam alunos, nomeadamente as Ciências Exactas e um pouco nas Engenharias. Contudo, soubemos atempadamente criar outras áreas que nos trouxeram alunos, como é o caso da área das Artes e mais recentemente das Ciências da Saúde. A UBI sempre soube traçar uma estratégia que lhe permitisse atrair alunos. Daí sermos a única universidade pública que nunca decresceu em número de alunos. Estou apreensivo com a captação de alunos. Existem universidades que perderam milhares de estudantes em poucos anos e todos sabemos que este não é um assunto de fácil resolução. Estou também, de alguma forma apreensivo, com a adequação do Processo de Bolonha. Neste momento, todos os cursos da UBI estão adequados no âmbito de Bolonha, mas houve alguma discriminação negativa, sobretudo nas engenharias, quanto ao registo, quando o ministério considerou que algumas universidades do litoral tinha direito a ter curso com os chamados mestrados integrados e a nossa não, invocando razões de investigação que nada têm a ver com a qualidade de ensino. De qualquer forma isso pode penalizar-nos uma vez que se pode criar no exterior a ideia de que o mestrado integrado é melhor do que a formação em dois ciclos de engenharia. Não se trata de modo algum, de diminuir o tempo de formação. Se queremos ter um engenheiro na área da concepção e do projecto ele tem de ter pelo menos cinco anos de formação. Julgo que esta decisão foi um erro do ministério da tutela, que não teve parâmetros iguais para todas as universidades e que nos pode prejudicar. Mas estou esperançado que a qualidade do ensino que se ministra nesta instituição continue a prevalecer e que esta imagem continue a passar. De qualquer forma temos de pensar na área da Saúde, que neste momento se assume como estruturante e que vai continuar a crescer.

U@O – São muitas as vozes ligadas a esta área a colocar o Ensino Superior, nos tempos que correm, numa encruzilhada, com Bolonha, com as indecisões políticas e outros aspectos. É também a sua opinião? E como está a UBI actualmente?
M.J.S.S. –
O ensino superior em Portugal atravessa um período complexo, como atravessa no resto da Europa. Há uma necessidade absoluta de mudança. Mas as universidades europeias têm características diferentes do modelo americano, ao qual as instituições europeias se querem aproximar. Temos de ver que estamos inseridos em mundos diferentes e as origens destas instituições também foram diferentes.
Julgo que na Europa em que vivemos temos de promover a comparabilidade dos cursos e promover a mobilidade dos alunos. É absolutamente fundamental, para criarmos um espaço europeu de ensino superior, que Bolonha aconteça. Mas esta mudança não pode acontecer de um momento para o outro.

U@O – Considera que em Portugal a mudança foi precipitada?
M.J.S.S. –
Em Portugal, depois de alguma inércia, o ministro da tutela desencadeou um processo, em certa medida, explosivo. Podem dizer que se não fosse assim nada se faria, mas julgo que poderíamos ter mais algum cuidado. Repare-se que há países como Espanha, que estão ainda a ponderar e julgo que só em Outubro próximo vão publicar a legislação que permitirá a adequação dos cursos ao Processo de Bolonha. Há mesmo países que avançaram para este modelo e depois recuaram um pouco. Bolonha até já extravasou as fronteiras do Velho Continente. Temos de estar cientes que existe este clima de mudança e que é necessário mudar. Mas também temos de saber que Bolonha não é esta estruturação dos cursos em ciclos, não é isso. Até porque, isto muitas vezes pode ser visto, como no caso de Portugal, como uma forma de produzir um maior número de licenciados, para as estatísticas, mas julgo que isso não se pode tolerar. O que também será deplorável é a ideia de que existirá uma diminuição do tempo de aulas, economizando dinheiro com isso. São situações que não se devem ter em consideração.
Na realidade, Bolonha é uma mudança de paradigma, centrando a aprendizagem nos alunos, de maneira a prepará-lo para que estes continuem a aprender ao longo da vida. Os estudantes têm de estar despertos para a formação ao longo da vida.

U@O – E qual será aqui o papel dos professores?
M.J.S.S. –
A reforma de Bolonha não se faz sem os professores. O número de horas de contacto deve diminuir para que os alunos trabalhem mais por eles. Mas isto não quer dizer que os professores trabalhem menos. Estes têm de traçar os objectivos claros de aprendizagem, têm de fazer conteúdos que permitam que os alunos, para além daquilo que o professor lhes dá sejam levados a pesquisar e a inovar e aprendam com isso. Ao aprender desta forma vão ficar mais despertos para a aprendizagem ao longo da vida. O papel do professor é agora mais exigente do que era há uns anos atrás.
Quando falamos na aprendizagem centrada no aluno isso significa que o volume de trabalho final do aluno deve ser maior do que aquilo que é. Em qualquer país do Norte da Europa, um ano lectivo vale pelo menos 1600 horas de trabalho. Se fizermos as contas ao número de horas que um aluno português faz, teremos uma grande surpresa. Quando estamos a falar em Bolonha, estamos a falar em rigor, em volume de trabalho. A universidade é um centro de aprendizagem, de saber, e onde se espera contribuir para que o aluno tenha um bom desempenho quando estiver no mercado de trabalho. Todos os países esperam que os seus quadros produzam riqueza.
Bolonha é tudo isto, não passa só por aquilo que se vai dizendo, da estruturação de cursos em ciclos, o que também é importante. Mas há outras questões que surgiram, nomeadamente com os créditos ECTS e esses sim, medem o volume de trabalho ao longo do ano. Há também uma tónica que é necessária colocar em tudo isto. Os alunos têm de ser mais rigorosos no seu processo de aprendizagem, é isso que se lhes exige.

Não basta ter um corpo docente qualificado, é necessário ter um corpo docente empenhado

Só em último caso é que eu avanço



"A UBI sempre soube traçar uma estratégia que lhe permitisse atrair alunos"


Data de publicação: 2007-05-01 00:00:00
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