Estatuto Editorial | Editorial | Equipa | O Urbi Errou | Contacto | Arquivo | Edição nº. 359 de 2006-12-19 |
“A música é a minha única religião”
A vida e a obra de Lopes Graça foram motivo de conversa na tarde de domingo. O centenário do nascimento do artista português fechou com chave de ouro a Feira do Livro do PCP da Covilhã. O certame foi tão concorrido que se prolongará até ao próximo dia 21.
> Igor CostaPrecisamente cem anos depois do nascimento de Fernando Lopes Graça, o partido a que pertenceu lembrou-o de forma singela. Sem pompa mas com circunstância, cerca de três dezenas de admiradores e curiosos juntaram-se para ouvir o também maestro César Viana. A iniciativa teve lugar no centro de trabalhos do Partido Comunista Português da Covilhã, 17 de Dezembro, no âmbito da Feira do Livro.
O momento, que decorreu na tarde de domingo, proporcionou a troca de impressões em torno de alguns aspectos da obra do músico, falecido em 1995. Na música e na escrita, a postura sempre foi a mesma, tornando-se por isso uma referência para muitos. Por feitio e personalidade, abdicou do fácil, apostando qualidade que pudesse enriquecer as plateias e audiências.
César Viana, convidado pelo PCP para falar do maestro, referiu-se a Lopes Graça como alguém que extravasou o panorama artístico. "Sempre teve uma consciência de que a música não é uma coisa isolada, que pode ter um papel interveniente na sociedade, e por isso é um farol para todos nós. Ele foi uma pessoa que teve a coragem de ser intransigente, e fazer a melhor música possível."
Uma das maiores polémicas em torno do também compositor centra-se na publicação da sua obra. Nas comemorações deste centenário, a RDP lançou um conjunto de dez discos com parte da sua obra. A edição, apesar da baixa qualidade de gravação, esgotou em pouco tempo. Neste momento, o trabalho mais intenso na recuperação das peças do maestro é desenvolvido por Romeu Pinto da Silva. Ao arquitecto cabe a missão de ordenar e seriar as partituras, a fim de serem depois publicadas e executadas. Há já um depósito dos manuscritos no Museu da Música Portuguesa – Casa Verdades de Faria, que tem disponibilizado essa parte da obra. Quanto a uma edição comercial, César Viana é categórico. "Se não for o Ministério da Cultura, a iniciativa de organizar uma edição comercial dificilmente será tomada."Para César Viana, tudo é uma questão de prioridades políticas, pois o valor e necessidade da publicação são inquestionáveis. "Eu acho que há muito dinheiro na cultura, não há é uma visão de serviço público na cultura." Mas afirma que o esforço tem de ser contínuo. "Esse é o caminho que tem de se seguir se realmente Portugal quer continuar enquanto país. Porque o que nos identifica enquanto portugueses é a nossa identidade, e essa identidade é um misto do nosso património, daquilo que é feito hoje em dia e daquilo que há-de ser feito. Se desleixamos isto, qualquer dia não há razões para nos chamarmos portugueses," conclui o maestro.
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