Quem se aproxima da Torre de Santo António pela estrada poeirenta, e vê o vulto do prédio abandonado recortado na paisagem, já não consegue imaginar um cenário onde o edifício não exista. Com quase 30 anos de construção, a Torre de Santo António sobreviveu às memórias daqueles que ainda se recordam do terreno como um todo. Uma pessoa que acompanhou todas as peripécias do advento deste prédio foi António de Jesus Gomes: “ Se você o visse nascer, até ficava admirado. Eu vi-o nascer, mas já não o vejo acabado”.
Residente no mesmo local há 50 anos, vive na sombra deste projecto inacabado há 30. Neste período, tem visto de tudo: desde pessoas desalojadas que se apropriaram de apartamentos e fizeram deles a sua casa, passando por acantonamentos nómadas, até à existência de prostituição e vandalismo. “Isto era uma balbúrdia aí. Já havia tiros, depois vinham mulheres [prostitutas]… vinha aí a polícia, mas nunca faziam nada”, refere António, agastado, e acrescenta “Não há lá nada, o que lá havia roubaram tudo”, referindo-se ao recheio dos apartamentos que já estavam equipados e prontos a habitar. Com o entaipamento do prédio, há cerca de dois anos, a poeira assentou.
No entanto, o cimento e os tijolos que bloqueiam e impedem as entradas do prédio, nada fazem para evitar a sua degradação. “Estão lá telhas em cima, caem-me aqui no meio do telhado, e depois tenho que ir arranjar”, conta-nos, conformado, António de Jesus. No regresso, o vento frio de Inverno fazia chiar a velha grua, tão abandonada como o prédio.

Santo António vira Santa Engrácia

História da Torre de Santo António