Ricardo Tavares (à esquerda) e Vítor Aleixo (à direita)
Made in UBI
“Os tempos da UBI foram os melhores
que tivemos até hoje”
Made in UBI
“Os tempos da UBI foram os melhores
que tivemos até hoje”
Rafael Mangana
Ricardo Tavares e Vítor Aleixo ingressaram em 2008 na UBI pela porta do mesmo curso: Ciências da Comunicação. Três anos mais tarde entraram naquela que seria a aventura das suas vidas: Vítor, como diretor, e Ricardo como chefe de redação, fundavam o Fórum Covilhã. Se o início foi cheio de dúvidas, o futuro parece promissor para o mais jovem jornal da região.
Urbi et Orbi: Porquê Ciências da Comunicação e porquê na UBI?
Ricardo Tavares: Primeiro, por uma questão de proximidade. Eu sou natural da
Bendada, concelho do Sabugal, e ficava-me relativamente perto de casa, tinha
boas referências também do curso na universidade e foi essa conciliação de
fatores que me levou a ingressar aqui na Universidade da Beira Interior. Por
outro lado, sempre tive paixão pela escrita, o que também me levou a tirar este
curso e a ingressar via jornalismo impresso.
Vítor Aleixo: Eu desde os 14 anos que faço jornalismo desportivo e fazia-o no
Jornal Nordeste. Na altura o diretor do Jornal Nordeste, o João Campos, tinha
sido aluno da Universidade da Beira Interior, tanto ele como a esposa, que está
na RTP1, e ele falou-me do curso, das vantagens, dos conteúdos programáticos e
eu, como sempre quis jornalismo, já desde os 13/14 anos, decidi vir para aqui.
U@O: Contas feitas, valeu a pena a escolha?
RT: Sim, valeu. Valeu a pena na medida em que hoje temos um projeto que
criamos após a conclusão do curso e que acaba por ser hoje um projeto que
posso dizer que é de referência na região ao nível do jornalismo impresso, numa
altura em que o jornalismo atravessa dias complicados. Mas nós vamos
conseguindo, mais do que sobreviver, implementar até a nossa linha e ter um
jornal de referência regional. Acho que só por isso, além de outros fatores, já
valeu a pena.
VA: Valeu a pena, sem dúvida alguma. Normalmente os nossos colegas quando
acabam o curso têm sempre a ideia de querer ir estagiar para a SIC, ou para a
TVI, ou para a RTP e, no meu caso, eu não. Sempre gostei do jornalismo regional
e da importância que este tem nas comunidades. O curso de Ciências da
Comunicação também nos levou um pouco a perceber isso, a importância do
serviço público para o público, que é isso que o jornal Fórum Covilhã faz: estar
próximo das comunidades. Foi isso que eu sempre quis, fazer parte de um
projeto onde se trabalhasse o jornalismo de proximidade.
U@O: O que recordam dos tempos da UBI?
VA: Eu sempre digo isto: os tempos da Universidade da Beira Interior foram, sem
dúvida, os melhores tempos que eu tive até hoje. Aliás, as grandes amizades que
eu tenho foram feitas na UBI, as grandes experiências que eu tive foram na UBI, e
quer se queira quer não, a UBI teve continuidade depois na nossa vida porque foi
através dela que ficámos aqui na Covilhã e adotámos esta cidade como nossa. Por
isso a Universidade da Beira Interior claro que tem uma importância cabal na
nossa vida.
RT: Idem aspas.
U@U: Ainda antes de saírem da UBI nasceu a ideia do Fórum Covilhã, como
foi esse processo?
RT: Começámos a criar o jornal, o esboço, no final da licenciatura em maio, e
estávamos já no primeiro ano do mestrado quando ele foi lançado.
VA: Sim, foi lançado a 29 de novembro de 2011, foi uma ideia conjunta,
pensámos que havia espaço para criar um projeto novo, embora tenhamos sido
alertados por muita gente que não sobreviveríamos mais de um ou dois meses,
mas a verdade é que estamos aqui há oito anos, quase nove, com um trabalho,
penso eu, de excelência no jornalismo regional. Tentamos, pelo menos, fazer
diferente. Eu costumo dizer isto por vezes: nós não queremos fazer melhor nem
pior, queremos marcar a diferença, e temos feito isso ao longo destes anos.
U@O: Como tem sido esta aventura de colocar nas bancas um jornal todas
as semanas?
RT: Não é fácil, pelo contrário. Mentiria se dissesse que não houve já tempos
difíceis. Se calhar, se não fosse a perseverança, muitos outros teriam desistido. É
simples: nós criámos o jornal numa altura em que o país atravessava uma das
piores crises económicas, ainda hoje o cenário não é animador, apesar de já não
termos Troika, etc., o país continua completamente estagnado, pelo menos é a
minha visão e o tecido empresarial confirma. É uma aventura difícil, tem que se
ter muita paixão, gosto pelo jornalismo local mas também temos tido, e isso leva-
nos a continuar, o reconhecimento da comunidade.
U@O: Recuando ainda ao início do jornal, que expectativas tinham na
altura?
VA: Nós admitimos que no início tivemos algumas falhas, porque a verdade é
esta: ainda éramos muito jovens e a preparação para ter um negócio, para ter a
própria empresa, era muito pouca. Foram-se cometendo alguns erros, mas foram
esses erros que nos foram fazendo aprender ao longo do tempo. Por isso, a
expectativa na altura era como é hoje: é semana a semana. Hoje de uma forma
diferente, com os pés bem assentes no chão porque nós sabemos onde estamos e
para onde queremos ir e nos semanários regionais, penso que em todos eles, o
trabalho faz-se semana a semana, a expectativa é renovada todas as quartas-
feiras e é isso que nós temos feito e também, se calhar, é por isso que estamos
aqui hoje, porque já ultrapassámos muitas dificuldades às quais, se calhar,
poucos se sujeitariam para chegar até aqui e ter o projeto cimentado da forma
como temos neste momento.
RT: Quando se diz semana a semana, é mesmo assim. Nós acabamos uma edição
e começamos a pensar na outra e o que é que vamos apresentar aos nossos
leitores, além das expectativas a longo prazo. Como o Vítor disse, neste
momento, com os pés bem assentes na terra, permite-nos ter uma visão mais à
distância, que no início não permitia. Nós quando lançámos o jornal sabíamos
que era uma aventura, tínhamos as perspetivas de muitas pessoas, e até eruditas,
que diziam que isto iria durar um ou dois meses e isso também nos retraiu e a
expectativa era termos que sair na semana seguinte. Isto de início, andámos
assim provavelmente o primeiro ano, o tempo foi passando, fomos consolidando
leitores, fomos consolidando parceiros comerciais e hoje temos uma estrutura
que nos permite já pensar mais além, sem dúvida.
VA: Sim, aliás - e isto é importante dizer-se -, neste momento somos dos únicos
jornais regionais deste eixo Guarda - Castelo Branco que é a cores, talvez sejamos
o único que é todo a cores e que tem um suplemento desportivo próprio, dentro
do jornal mas à parte do próprio jornal. Uma equipa que trabalha também
connosco semanalmente, com um editor desportivo, e é aí que nós queremos
marcar a diferença, é nestas pequenas coisas que nós queremos marcar a
diferença.
U@O: Quanto ao futuro, passará também por marcar sempre essa
diferença?
VA: Sim, temos alguns projetos em mente que queremos implementar para que
tenhamos um maior alargamento de área noticiosa. Isso acho que é muito
importante.
U@O: Onde é que a vossa experiência no Urbi entra nesta tomada de
decisão??
RT: O Urbi, no meu caso, foi o meu contacto inicial mais direto com o jornalismo
e foi importante no sentido em que o Urbi te vai dar uma componente prática
que durante três anos na licenciatura não existe. E nesse aspeto sou um pouco
crítico em relação ao curso na Universidade da Beira Interior, não porque ele
seja mau, que não é, é um bom curso e recomendo, mas julgo que está na altura
de ser repensado. Os tempos atuais já não permitem que o curso seja aquilo que
é hoje, falta mais componente prática. Quando criámos o jornal, eu e o Vítor, uma
das grandes dificuldades que tive foi chegar a uma reunião de câmara, a uma
assembleia municipal e definir o que é que iria pegar para fazer a nível noticioso.
O Urbi permite esse contacto, permite o contacto com notícias, com a região, mas
devia haver um atelier mais específico de preparação para os alunos, que os
colocasse num jornal, numa rádio, numa televisão e eles chegassem, vissem e
vencessem. O Urbi foi muito importante que permitiu esse contacto e deveria,
até, sendo com o Urbi ou com outra ferramenta, ser reforçado.
VA: E começar até mais cedo, porque o aluno tem apenas o contacto prático com
a notícia já no final da licenciatura, início do mestrado. O que nós defendemos, e
até já falámos isso com alguns professores, é que o contacto de proximidade com
a notícia, com o evento, com o acontecimento, com o próprio mercado de
trabalho, com os jornais regionais, com as televisões locais, rádios deveria ser
feito antes porque eu acho que o contacto direto com a notícia vem muito tarde.
U@O: Mas neste sentido, o Urbi teve então esta importância.
VA:Sim, sim.
RT: É o que eu digo: se calhar devia ser reforçado e começar logo no segundo ano
e não só fazer determinadas matérias, mas tudo. No terceiro ano os alunos
poderiam, por exemplo, estar a trabalhar para o Urbi como uma formação, com
mais horas, um atelier mais alargado, que permitisse dar mais experiência.
VA:E até mais peso na avaliação final, porque a teoria é importante mas a parte
prática num jornalista, numa pessoa que queira seguir jornalismo, é muito
importante, é fundamental.
U@O: Qual é a vossa opinião sobre o futuro do jornalismo na região?
RT: Eu digo que, acima de tudo, ainda há esperança. Se não houvesse esperança
já cá não estaríamos, no dia em que não tivermos esperança acho que fechamos a
porta. Há esperança, não é fácil, cabe-nos também a nós que trabalhamos nesta
área, os jornalistas, diretores, chefes de redação, os próprios proprietários dos
jornais, reinventarmo-nos todos os dias e conseguirmos ir junto também de
novos públicos, trabalhar nesse sentido, ir buscar novos leitores. Eu ainda sou
daqueles que acredita que o papel tem vida e continuará a ter vida durante
bastantes anos, sabendo que é uma grande responsabilidade para quem trabalha
nesta área cumprir esse objetivo.
U@O: Que conselhos podem deixar a um aluno de Ciências da Comunicação
da UBI para vingar nesta área?
VA:Nós temos tido, ainda agora temos aí três alunos da Universidade - uma
aluna está a acabar o curso e os outros dois estão a meio - e que já há alguns
meses estão a fazer a parte prática aqui, e nós notamos essa vontade dos alunos
virem e fazerem porque o futuro do jornalismo regional está um pouco aí e eu
acho que a Universidade da Beira Interior, sendo portadora de um dos melhores
cursos de Ciências da Comunicação do país, também tem que ter esse papel, um
envolvimento e uma maior abertura à sociedade civil. A quem está agora a
terminar o curso nesta área difícil e complicada é preciso ter muita
perseverança, é preciso não desistir à primeira dificuldade, e estar sempre à
procura de aprender mais e de fazer mais e melhor porque hoje em dia no
jornalismo regional temos que nos reinventar diariamente e eu sou daqueles que
defendem que o jornalismo regional tem que deixar, de vez, de estar agarrado ao
comunicado, de estar agarrado à conferência de imprensa, de estar agarrado
àquilo que é a agenda, eu acho que nós temos que ir para lá da agenda, temos que
dar a conhecer aquilo que se faz na nossa região porque se não formos nós os
principais promotores, também não podemos querer que sejam os de fora que
venham alavancar a região.
RT: O que o Vítor disse é o que acaba por corresponder e é aquilo que nos tem
pautado também nessa ação. Tem que ser perseverante, tem que ter gosto pelo
jornalismo, acima de tudo tem que ter gosto pelo que está a fazer. Mais do que
prémio monetário, que teria noutras áreas, tem que ter satisfação pela profissão
que exerce.
Perfis:
Nome: Vítor Aleixo
Naturalidade: Torre de Moncorvo (Bragança)
Curso: Ciências da Comunicação
Ano de entrada na UBI: 2008
Filme preferido: “A vida é bela”
Livro preferido: “Os Lobos”, de Miguel Torga
Hobbies: Ouvir música; ver futebol
Nome: Ricardo Tavares
Naturalidade: Bendada (Sabugal)
Curso: CiÊncias da Comunicação
Ano de entrada na UBI: 2008
Filme preferido: “O Padrinho -I"
Livro preferido: “A insustentável leveza do ser”, de Milan Kundera
Hobbies: Ler; caminhar; ouvir música