“Uma peça
somente possível de interpretar por génios
da arte de representar”. Foi deste modo que Sérgio
Azevedo, produtor da peça, classificou “Esta
noite choveu prata”. Constituída por três
actos e escrita por Pedro Bloch, um caso sério
de sucesso no Brasil e um pouco por todo o mundo, esta
peça é feita de pequenos momentos de poesia
doce, em que se entrelaçam a comédia e o
drama.
Sérgio de Azevedo resolve regressar ao teatro.
Depois de mais de 31 peças levadas à cena
em várias salas do País, deu-se uma pausa
de 14 anos. O filho, também ele Sérgio,
incentivou-o a regressar. Lembrou-se de uma peça
a que assitira há quase cinquenta anos no Teatro
Villaret. Na altura, apaixonara-se perdidamente. Seguidamente,
ocorreu-lhe que Nicolau Breyner estava “mais maduro”.
As últimas aparições do actor na
televisão e no cinema fascinaram-no. Entretanto,
também Nicolau andava um pouco enfastiado das andanças
da televisão. Foi assim que se proporcionou o regresso
dos dois veteranos aos palcos do teatro.
Em “Esta noite choveu prata”, Nicolau Breyner
interpreta três personagens em três quadros
distintos. Francisco Rodrigues é um português
no Rio de Janeiro, extremamente bem sucedido nos negócios,
mas com uma vida sentimental perfeitamente destruída.
Bloch procurou dar a este português não apenas
um ar robusto e rústico, mas também expressões
plenas de coração, reveladoras da genuidade
e generosidade tipicamente de Portugal. Bonardi é
um italiano que procura resumir a alma do seu país.
Conta a sua tragédia usando um tom apaixonado,
à maneira de um “terceiro acto de ópera”,
cujo final é, sempre, grandioso. Camilo, oculto
e adormecido na sua chaiselong ao longo dos dois primeiros
actos, ergue-se do seu leito após a visita dos
amigos, Rodrigues e Bonardi. Estamos perante um velho
actor brasileiro, amargurado. Através de um discurso
em que se denota um toque de frustração
comovente, entende-se que o seu objectivo é, somente,
recuperar a amada Celeste. Mesmo depois de descobrir que
toda a sua vida íntima havia sido um terrível
engano.
“Esta Noite Choveu Prata” faz-nos rir, desde
o primeiro momento, para nos comover cada vez mais, ao
longo do desenrolar da história, através
de um discurso que é eloquente, poético
e que, em vários momentos tem a capacidade de nos
incomodar e entristecer.
Pedro Bloch escreveu um texto versátil que só
poderia exigir um actor igualmente versátil: Nicolau
Breyner viajou de forma audaz e segura, ao longo de 43
anos de carreira, pela comédia, pelo drama, pelo
musical. Singrou com facilidade nos palcos do teatro,
no cinema e na televisão. E de modo a que ninguém
possa perder o regresso deste actor ao teatro, “Esta
Noite Choveu Prata” voltará à Covilhã,
em data ainda a definir.
Ver também: "Entrevista
a Nicolau Breyner" |