O corpo humano pode
ser visto pelo médico como a mais complexa das
máquinas nesta era de advento tecnológico.
Como todos os aparelhos, o seu bom funcionamento requer
alguns cuidados e quando surgem problemas estes podem
ser associados a sinais de alerta que todo o corpo humano
transmite.
Como um “mecânico especializado”, o
profissional de saúde tem de saber interpretar
os sinais dados pelo doente para fazer uma correcta avaliação
do estado “da máquina”. Ora, de sinais,
mais propriamente, da simbologia, da semiótica
trata também a filosofia e todo um conjunto de
ciências ligadas às artes. Um dos exemplos
da ligação entre diferentes campos do saber.
Foi com este espírito de interdisciplinaridade
que os departamentos de Comunicação e Artes
e de Ciências Médicas da Universidade da
Beira Interior (UBI) realizaram as primeiras jornadas
de Filosofia e Medicina.
Rui Bertrand Romão, docente no Departamento de
Comunicação e Artes e um dos responsáveis
pela organização do evento recorda que “existem
vários traços conjuntos entre a medicina
e a filosofia”. Em termos epistemológicos,
a filosofia anda “de mãos dadas com a saúde”.
Desde a formação dos métodos científicos
“que estes campos do conhecimento caminham em conjunto”,
salienta este mesmo docente.
Foi pela história que começaram as várias
palestras apresentadas ao longo de três dias de
actividades na UBI. A forma de aproximação
entre pessoas, a formulação de diagnósticos
e a abordagem a algumas terapias estão ligadas
ao campo da filosofia. Um dos pontos recordados pelos
oradores foi o de ciência geral dos princípios.
Todo o campo científico particular, como é
o caso da medicina, pressupõem bases mais vastas,
essenciais que podem ser encontradas na filosofia. A doutrina
filosófica, imanente na cura dos homens deu azo
a muitas conversas sobre os vários rumos que a
medicina está hoje a tomar.
Vários cientistas
e investigadores apresentaram as suas teses
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A descoberta do “si próprio”
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OO homem sempre teve “uma preocupação
particular consigo mesmo”, explica Maria Filomena
Molder. Esta docente da Universidade Nova de Lisboa, que
falou sobre o símbolo, integrou um painel de oradores,
“bastante prestigiados”, sublinha Rui Bertrand.
Nomes como Nuno Nabais, Francisco Pimentel, Adelino Romão
e Montserrat Fonseca deslocaram-se à Covilhã
para falar sobre “a medida”, “o indivíduo”,
ou simplesmente, “o todo e a parte”.
Este leque temático serve para lembrar que “são
os sintomas, os sinais, que evidenciam a nossa existência”,
sustenta Filomena Molder. A compreensão dos vários
alertas, a interpretação correcta destes
e um tratamento humano e racional, “são receitas
fundamentais para uma boa cura”, explica Manuel
Silvério Marques, investigador do Centro de Estudos
de Filosofia da Medicina do Instituto Português
de Oncologia Francisco Gentil.
Neste seminário foram também surgindo várias
problemáticas sobre a articulação
destes dois campos do saber. Uma “correcta articulação”
é, na perspectiva dos organizadores, “a melhor
forma de encontrar um caminho comum”. Com um balanço
positivo, Rui Bertrand fala na contemplação
“de dois campos do saber”, abordados, segundo
este docente, “da forma mais diversificada e multiforme
possível”. Num seminário onde medicina
e filosofia estiveram juntas na teoria, na prática
e na história. Uma acção que confrontou
reflexões das duas áreas de estudo de uma
forma vasta, desde a epistemologia, passando pela ética
e culminando na história das ciências.
Ver também: "Números
que Falam"
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