O Pavilhão Cultural
da Freguesia de Foios, concelho do Sabugal, foi o palco escolhido
por José Corceiro Mendes, no sábado, 3, para apresentar
o seu primeiro livro de poesia, "Cirros da Terra Fria".
A ideia que atravessa o trabalho do autor, que estudou e trabalhou
na Covilhã, é a crença de que um "Novo
Homem" caminha, pelo meio do caos, para a perfeição.
A experiência de 74 anos, por várias partes de Portugal
e do mundo, serviram de inspiração a "Cirros
da Terra Fria", mas o autor deixa bem marcada a fonte de
inspiração: "Os tocadores de concertina de
Foios e Bismula foram os meus primeiros mestres".
O belo, o sublime, o ideal de perfeição, a indignação
perante a injustiça, a coragem e a condenação
da exploração, são alguns dos elementos
do universo poético de Corceiro Mendes. Bernardino Henriques,
professor e antigo aluno do escritor, a quem coube a apresentação
da obra, descreve o ideário do mestre como "o de
um homem utópico que espera a terra prometida onde não
há medo, guerra e incultura". O poeta não
recusa as palavras de Henriques e conta eu, "desde jovem,
gostava de interpretar, em tudo o que dizia, escrevia e cantava,
os sentimentos do meu povo e de mim mesmo". "Na Covilhã,
onde tirei um curso de debuxador, senti as necessidades da Borralheira,
daquelas mulheres perseguidas e injustiçadas pelos próprios
patrões. Foi onde aprendi a revolta", recorda.
Daí o desejo de Mendes de provocar no homem a necessidade
de se encontrarem novos valores. "A humanidade é
obrigada a tomar o rumo certo. As experiências atómicas,
o envenenamento do território, a falta de carácter
têm de obrigar o ser humano a reagir e a encontrar um mundo
novo", assegura.
Da Raia para o mundo
O autor de "Cirros da
Terra Fria" reside, actualmente, em Odivelas, mas fez questão
de que a sessão pública de lançamento do
livro decorresse em Foios, sua terra natal. "Quero que o
livro faça o mesmo percurso que eu fiz. Que a ideia saia
daqui e divulgue a mensagem pelo mundo fora", explica. Para
breve, está a publicação de mais duas obras.
Uma de contos outra de poesia. A opção pela prosa
é facilmente explicada pela experiência de professor:
"O conto é um método educativo privilegiado,
quando não há outras alternativas. Quando eu dizia
"Era uma vez...", os meus alunos ficavam logo com atenção
redobrada para ver o que ia sair dali".
Quanto a recursos estilísticos, Corceiro Mendes mistura
várias tradições da poesia nacional. Desde
logo, é notória a influência de António
Aleixo nos poemas em que aparece o trovador popular, o poeta
moral (que não moralista). Em simultâneo, "Cirros
da Terra Fria" é uma colecção de construções
em que a mestria formal, de versos de redondilha maior e decassilábicos,
em tercetos, quadras, quintilhas, décima popular, balada
e sonetos, mostra a inspiração nos clássicos.
Camões, Antero de Quental, Guerra Junqueiro e Augusto
Gil, entre outros, são modelos dos escritor foiense.
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