Na raia, tal como no resto
do Interior, a desertificação é um problema
real e a receita de Morgado é "reagir à questão
de uma forma normal" e esperar mais apoio do Poder Central.
"Não basta falar da nossa zona apenas durante as
campanhas eleitorais. É necessário que seja visto
com outra dimensão e tratado com outra dignidade e solidariedade",
argumenta.
A grande maioria dos cerca de 17 mil habitantes do concelho do
Sabugal ocupa-se, actualmente, da agricultura e pecuária.
O tempo do contrabando e da exploração mineira
ficou para trás e, hoje, para além das actividades
rurais, existe emprego em empresas ligadas às confecções,
mármores, granitos, serralharias e lagares. No entanto,
Esteves Morgado caracteriza o ritmo dos investimentos como algo
que anda "a passo de tartaruga". No entender do edil,
a falta de vias de comunicação é a principal
razão para que os empresários não se sintam
atraídos pelo concelho. "Quando há boas acessibilidades
as pessoas e as mercadorias circulam facilmente e os custos de
produção são menores. Como não temos
essa dinâmica, as indústrias preferem outros lugares",
explica.
O acesso ao Sabugal faz-se, essencialmente, por duas vias. A
Estrada Nacional (EN) - 233 serve quem vem do Sul, de Penamacor,
e do Norte, d Guarda. O trânsito para leste, Espanha ou
freguesias junto à fronteira, utiliza a EN 233 - 3. O
edil queixa-se da insuficiência das mesmas, às quais
acrescenta a sua degradação: "As nossas estradas
da década de 50 e continuam, praticamente, com as mesmas
características. Com a agravante de que se encontram num
estado deplorável".
Empresas espanholas têm
mais apoios
Para corrigir situações
como estas, combater os efeitos de interioridade e desenvolver
o concelho, a autarquia raiana elaborou o Plano de Desenvolvimento
Económico e Estratégico (PDES).
Composto por cinco linhas estratégicas, o objectivo é
criar condições para atrair turistas e aumentar
a qualidade de vida ao nível da saúde e do desporto,
assente no fortalecimento da base económica. Tudo isto
passa por melhorar os meios urbano e ambiental, mas também
pela eliminação de barreiras alfandegárias
e pelo melhoramento dos acessos rodoviários ao resto do
País e ao estrangeiro. Esteves Morgado revela que "o
PDES é, ainda, um documento provisório". "Queremos
que o Plano seja uma verdadeira Bíblia para o desenvolvimento
do concelho. Por isso, ouvimos as várias forças
sociais, económicas e políticas, para que todos
pudessem dar o seu contributo", explica. Um projecto como
este, que vai ser candidato a verbas do terceiro Quadro Comunitário
de Apoio (III QCA), tem de ter em conta as mais valias do município.
Nestas, incluem-se a Reserva Natural da Serra da Malcata e as
Termas do Cró e Águas Radium. Segundo o presidente
da Câmara, "qualquer indústria pode instalar-se
no concelho", mas reconhece a sua preferência por
unidades industriais, entre 10 e 50 trabalhadores, que não
sejam poluidoras".
Com Espanha logo ao lado, é inevitável que a relação
entre as populações fronteiriças dos dois
países não seja abordada. Esteves Morgado revela
que "na convivência e na cultura estamos no mesmo
patamar". O mesmo já não se verifica na forma
como se desenvolvem as actividades económicas nos dois
lados da fronteira. "Quer as empresas, quer a agricultura
têm da parte do Governo espanhol o apoio necessário
à sua dinamização. Por isso se explica que,
em termos de competitividade, eles sejam mais fortes", comenta.
Algo que provoca o lamento do edil: "É pena que não
haja mais incentivos, porque a nossa capacidade de trabalho é
tão boa como a dos outros. Aquilo que os emigrantes portugueses
têm feito em França, Alemanha ou África do
Sul, por exemplo, são provas disso". |