Contam-se já 50 anos
desde o início dos estudos que levarão à
criação do primeiro aldeamento de montanha nas
Penhas da Saúde, na Serra da Estrela.
João Caldeira Cabral, engenheiro que coordena o estudo,
garantiu na quinta feira, 1, que o ante-plano estará concluído
dentro de 60 dias. "Vamos proceder à elaboração
de vários cenários, uns com um maior grau de intervenção
outros com menor. Posteriormente vamos submeter esses resultados
à aprovação da população e
administração, e com todas as implicações
financeiras que daí advêem, quer de esforço
público quer privado, vamos quantificar e escolher a melhor
solução", explica o responsável. Na
equipa trabalham vários técnicos, entre os quais
arquitectos urbanistas e biólogos, que fizeram um exaustivo
levantamento da fauna e flora ali existente, assim como um estudo
sobre a qualidade da água e do ar.
Quando, em 1981, Caldeira Cabral começou a trabalhar naquela
área o seu parecer tendia para a demolição
de várias construções, muitas delas clandestinas.
Hoje, e passados 20 anos, a realidade é outra e a solução
vai passar, não pela demolição, mas por
melhoramentos. Os proprietários poderão ser obrigados
a proceder a obras nas suas casas de acordo com a regulamentação
que vai ser imposta pelo estudo. Um dos factores de maior polémica
é a utilização do zinco naquelas construções
que segundo Caldeira Cabral constitui uma "imagem chocante
de degradação" que é "indispensável
rever". Esse será também um dos objectivos
deste projecto: criar um regulamento para as construções
naquela área, que vai determinar desde os materiais a
usar, à proporção, florestação,
alicerces e outros elementos. "As chapas de zinco têm
um aspecto extremamente negativo do ponto de vista estético-visual,
em todo o caso há materiais alternativos desde a pedra
que não têm esses inconvenientes", defende.
Área de construção
pode ser alargada
Em Outubro do ano passado tinham
sido dadas quase como certas as demolições de grande
número de habitações clandestinas ali localizadas
[ver
edição 36]. O cenário
actual é outro com Carlos Pinto a afirmar que "antes
das florinhas estão as pessoas". As indicações
do Governo também vão no sentido de manter o máximo
de construções existentes a menos que estas interfiram
com os projectos a implementar. Nestes casos será feita
a relocalização em terrenos de igual dimensão,
garante Fernando Matos, presidente da comissão directiva
do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE), uma das entidades
envolvidas no projecto.
Para permitir uma exploração do potencial turístico
da encosta, mas salvaguardando as questões ambientais,
a zona residencial vai ser ampliada. O Plano do Ordenamento do
Território já está a estudar a hipótese
de criar uma coroa à volta do perímetro urbano
estabelecido pelo Plano Director Municipal (PDM) com um tratamento
diferenciado, evitando assim essas demolições.
"Este plano vai definir uma outra zona de intervenção
que poderá posteriormente ser incluída no PDM.
Não é o PNSE que tem competências para definir
isso mas a autarquia", sublinha Fernando Matos. Estas alterações
serão enquadradas no Plano de Ordenamento de acordo com
as propostas da equipa que está a trabalhar na requalificação.
Concurso até ao final
do ano
Também em relação
às construções, Caldeira Cabral afirma ter
indicações do Ministério do Ambiente e Ordenamento
do Território e do Governo para que a requalificação
seja mais exigente, e para isso não serão poupadas
verbas públicas. "Neste momento existe uma abertura,
mesmo do ponto de vista financeiro, da parte do Ministério
e do Governo para fazer uma requalificação profunda
e séria e não atamancada aos regulamentos".
Carlos Pinto quer ver o projecto concluído para lançamento
do concurso público até ao final do ano. Dentro
de três anos, o autarca espera ver resolvidos os problemas
mais gravosos e imediatos, como a precaridade do saneamento,
a falta de sinalização e de infra-estruturas. No
entanto, só dentro de 10 a 15 anos será possível
a implementação em pleno das orientações
definidas. "Este Plano é irreversível para
que torne possível a fixação permanente
de moradores", garante o edil covilhanense.
Dado o factor de envelhecimento da população, onde
os reformados representam quase 30 por cento, e a falta de actividades
económicas, vários objectivos vão ser lançados.
Entre eles o aproveitamento de incentivos da União Europeia
direccionados para as zonas de montanha poderá ser a forma
de garantir a fixação de pessoas. Diversificar
os investimentos, alargando-os para lá da actividade de
hotelaria e turismo, é outra prioridade. O Plano também
vai incluir a intervenção junto das construções
residenciais e meio envolvente com apoios do Estado assim como
a criação de equipamentos colectivos. |