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Guterres, Sócrates e restante comitiva percorreram de barco, durante duas horas, o "cenário idílico" do Parque Natural




Guterres visita novo Parque Natural
Tejo abre-se ao turismo

POR RICARDO GUEDES PEREIRA*

António Guterres, em visita à área protegida do Tejo Internacional, convida os portugueses a conhecerem a beleza da região. Convite feito depois do Conselho de Ministros ter aprovado o diploma da constituição do Parque Natural o "casamento" entre Natureza e Homem está mais perto

Um tesouro escondido. O Parque Natural do Tejo Internacional oculta uma vasta diversidade de espécies animais e vegetais que coexistem em harmonia. Santuário selvagem dos mais ricos da Europa, a nova reserva ambiental alberga extensos montados de zinho e é local de nidificação de muitas espécies de aves. Colónias de cegonha-negra e diversas aves de rapina, como é o caso da águia-real e grifos, coexistem lado a lado com javalis, veados e, embora muito raros, linces.
Um cenário idílico que o primeiro-ministro António Guterres admirou durante o último domingo, 4, véspera do Dia Mundial do Ambiente, ao percorrer de barco 15 quilómetros do Rio Tejo. O chefe do Governo visitou o local, acompanhado pelo ministro do Ambiente José Sócrates, dias depois do Conselho de Ministros ter aprovado o diploma que cria a nova reserva ecológica.
O Parque Natural do Tejo Internacional corresponde, no território nacional, a uma faixa de 40 quilómetros confinante com o Rio Tejo. Inclui a área envolvente aos troços finais dos rios Erges e Ponsul e da ribeira do Aravil. Uma área que se estende por cinco freguesias ribeirinhas dos concelhos de Castelo Branco e Idanha-a-Nova.

Guterres acalma receios

António Guterres acredita que a partir de agora é possível consumar o "casamento" entre as preocupações de conservação da natureza e o desenvolvimento da actividade humana. O chefe do Governo tenta, ao apresentar este argumento, sossegar a população local que receia que a região se transforme num grande museu ao ar livre. "Há um equilíbrio a estabelecer entre a vida das comunidades humanas e a vida dessa grande comunidade que é a natureza", afirma peremptório, explicando desta forma a ambição de transformar a região numa "terra viva".
Em Monforte da Beira, Rosmaninhal, Salvaterra do Extremo, Segura e Malpica do Tejo, terra que o primeiro-ministro também visitou no último domingo, a população tem manifestado algumas dúvidas sobre os efeitos reais que a criação do Parque Natural acarreta para a economia local. Joaquim Mourão e Francisco Baptista, presidentes das autarquias de Castelo Branco e Idanha-a-Nova respectivamente, asseguram que vai ser um exemplo de "desenvolvimento sustentável" para o nosso País. O apoio financeiro destinado à promoção de actividades locais que complementem a oferta turística de qualidade é a principal garantia dada pelo Governo.

Actividades locais

Na hora de recordar o trabalho feito que culminou com a decisão tomada durante o último Conselho de Ministros, Guterres fez questão de salientar que houve "muitas incompreensões no relacionamento com as próprias populações".
O Governo promete agora inverter "um dos dramas da política de preservação da natureza" em Portugal que até há bem pouco tempo limitava-se a impor restrições aos habitantes das reservas naturais. As limitações não eram compensadas com a execução no terreno de um plano de investimentos. Dando sequência a esta vontade, o decreto de lei que cria o Parque Natural do Tejo Internacional especifica, em primeiro lugar, as suas obrigações. O documento reflecte a preocupação de todas as entidades em promoverem algumas mais-valias como é o caso da valorização das actividades agrícolas e pastorícia, a implantação de turismo de qualidade, e a atribuição de denominações de origem a alguns produtos típicos: mel, azeite, queijo e pão.
Os membros do executivo socialista e as autarquias já foram, aliás, mandatados por António Guterres para canalizarem mais investimentos públicos para as regiões que integram as 30 áreas protegidas do País. Discriminação positiva que, neste momento, já beneficia as populações de Malpica do Tejo, depois da Câmara Municipal de Castelo Branco ter alcatroado a estrada de ligação à localidade. A obra sensibilizou a população para a necessidade de preservar o ecossistema do Tejo Internacional.

À espera de Espanha

A recém criada reserva natural, apenas foi aprovada ao fim de dez anos de acesa discussão. O conturbado processo suscitou algumas forças de bloqueio, nomeadamente associações de caçadores, que o tentaram travar.
Apesar da demora, Portugal conseguiu antecipar-se à vizinha Espanha na criação de uma área protegida junto do maior curso de água comum aos dois países. "Estou convencido que a nossa decisão de avançar tem um efeito catalisador e acelerador no lado espanhol", garante António Guterres.
Neste momento, não existe um interlocutor único do lado de lá da fronteira, para discutir, por exemplo, como se vai partilhar a fiscalização das águas internacionais. A responsabilidade nesta matéria divide-se entre o poder central e as regiões autonômicas.
À excepção de pequenas embarcações de pesca tradicional e de alguns barcos de transporte comercial, a legislação portuguesa proíbe a navegação no troço do Rio Tejo que integra o Parque Natural. Legislação que não é cumprida tal como o próprio António Guterres teve a oportunidade de constatar durante o seu passeio. Ao longo do percurso, foi frequente observar embarcações de recreio, pouco preocupadas com a possível fiscalização por parte das autoridades.
As associações ambientalistas manifestam o seu descontentamento em relação à actual situação. Solicitam que se ponham mais meios à disposição do Instituto de Conservação da Natureza (ICN), entidade que tutela as áreas protegidas, a fim de evitar que as embarcações de turismo perturbem as colónias de aves que existem nas escarpas do vale do Tejo.

*NC / Urbi et Orbi

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