Espaço e economia
Este número do Urbi et
Orbi conta com um artigo de José Tavares, doutorado em
economia pela Universidade de Harvard, professor na Universidade
da Califórnia Los Angeles e ainda há pouco citado
num artigo do New York Times (Democracy has the edge when it
comes to advancing growth) de 13 de Abril. José Tavares
mostra como a concentração da população
e da riqueza no litoral português se verifica por razões
de espaço, com menores custos de transporte de bens, a
maior densidade nas transacções de bens e ideias
entre pessoas e por um acesso mais próximo á influência
e decisão políticas. "A realidade é
dura mas clara: as estradas que trouxeram o progresso ao interior
levaram as pessoas para o litoral."
Que fazer? José Tavares desenha uma resposta: "Existem
produtos e serviços com futuro que vivem precisamente
da necessidade pessoal de 'deslocalização'. É
o habitante da grande cidade que sonha com os fins de semana
de 'evasão', longe do bulício, que valoriza cada
vez mais os produtos tradicionais - queijos, vinhos, etc. - elaborados
segundo métodos herdados dos 'nossos avós'. A estratégia
para o Portugal interior desenha-se simplesmente. Valorizar os
produtos e serviços locais, que não dependem de
economias de escala e beneficiam - em prestígio, imagem
e valor - precisamente da pequena escala."
O Interior não pode copiar o desenvolvimento do Litoral.
Há que fazer a diferença pela qualidade que só
a pequena quantidade permite. Quer-se um exemplo? A facilidade
de circulação nas cidades do Interior desaparecerão
no momento em que se apostar indiscriminadamente no betão.
Outro exemplo: o intercâmbio que é possível
numa pequena universidade como a UBI entre áreas tão
diversas quanto a informática e a filosofia desapareceria
no momento em que a UBI fosse uma universidade de massas.
Por fim, José Tavares termina com um apelo à participação
democrática como meio de desenvolvimento: "mais participação
e democracia para decisões mais próximas das populações
e dos seus interesses. Ou seja, carácter local, nas gentes
e nas coisas, mais e melhores estradas e bem melhor democracia."
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