Um colégio para a Beira Interior
O encerramento anunciado do Instituto de
São Fiel dirá pouco ou nada à maior parte
dos meus leitores. São muito poucos os que sabem que o
nome de São Fiel e o edifício - aquele edifício
enorme que quem vem na auto-estrada de Castelo Branco para a
Covilhã divisa, pouco antes de chegar à saída
da Soalheira, ao longe, à sua esquerda, no sopé
sul da Gardunha - é o nome e o edifício do que
foi um dos melhores colégios de Portugal, o Colégio
de São Fiel. Ali estudaram Egas Moniz (o prémio
Nobel de Medicina), Cabral de Moncada (o lente de Direito na
Universidade de Coimbra) e João Amaral (o integralista
lusitano), entre outros. O colégio, que era dos jesuítas,
foi encerrado e expropriado em 1910, na onda anticlerical da
primeira república.
Serve esta memória para referir a urgente necessidade
de criar um colégio de qualidade na Beira Interior. Ninguém
ignora que existe actualmente alguma esquizofrenia do ensino
em Portugal: o melhor ensino primário e secundário
é privado e o melhor ensino superior é público.
De tal modo que a melhor forma de vencer o numerus clausus do
ensino superior público é a frequência de
bons colégios particulares.
Na Beira Interior tem-se debatido com fartura o ensino superior,
universitário e politécnico, público e privado,
e muito pouco o ensino secundário. Ora se há algo
que faz falta neste momento no Interior é justamente um
muito bom colégio.
Há pessoas muito qualificadas que gostariam de vir para
o Interior e não vêm por causa da educação
dos filhos, porque não querem comprometer o seu futuro.
Uma educação de muita qualidade no ensino primário
e secundário é a melhor coisa que os pais devem
dar aos seus filhos. Vale mais investir aí do que em quaisquer
bens materiais. Mas se nos grandes centros urbanos, os pais podem
optar por excelentes colégios para educarem os seus filhos,
essa possibilidade não existe por enquanto na nossa região.
Um colégio de muita qualidade é muito caro e na
região não há o bem estar económico
próprio de um centro urbano que permita a frequência
de um colégio desse tipo. É verdade em parte. A
dimensão demográfica das cidades do Interior, Guarda,
Castelo Branco, Covilhã, não é suficiente
para ter um tal colégio, mas o Interior no seu todo tem.
A ligação das três cidades por auto-estrada
permite a criação de uma base populacional mais
que suficiente para exigir e para ter um colégio de primeiríssima
qualidade. A deslocação diária dos alunos
não demoraria mais que o que é habitual num grande
centro como Lisboa.
O Fundão, por exemplo, seria um local excelente para a
localização desse colégio.
António Fidalgo
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