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Pedro Homero


Quinhentos anos de mentiras


"(...) pela grande escala que abarcou e pelas formas que revestiu, os Descobrimentos devem ser colocados ao lado dos grandes cataclismos da História Universal, tais como as epidemias e muito especialmente a peste negra ou das grandes convulsões político-sociais,
como o Nazismo ou o Stalinismo (...)"

Júlio Carrapato

A Câmara Municipal de Belmonte ficou em polvorosa, parece, com o desprezo a que a sua cidade foi votada pelo presidente da república brasileira, em detrimento de uma Santarém mais próxima do aeroporto que o viu chegar e partir. E é natural que tivesse ficado. Afinal de contas, Pedro Álvares Cabral nasceu em Belmonte. Santarém é apenas o local onde foi enterrado.
Pois bem eu digo, nem Belmonte nem Santarém devem querer ficar com os louros de acolher o berço ou a sepultura de tal personagem da história portuguesa. Deveriam era ficar bem calados e ter vergonha na cara, por perpetuarem uma mentira que tem mais de 500 anos e que teima em continuar.
À excepção dos arquipélagos da Madeira, Cabo Verde e São Tomé, Portugal nunca descobriu nada. O termo "descoberta" implica a tomada de conhecimento inexistente até então. Ora dizer que território onde já existiam seres humanos foram "descobertos" por portugueses ou espanhóis ou outro quaLquer povo branco e europeu é pura e simplesmente eurocentrismo e RACISMO. É a comemoração da hegemonia Ocidental e Branca sobre os povos índigenas de todo o mundo. É dizer que os milhões escravizados e mortos não contam para nada. É dizer que todo o ouro roubado, todas as terras queimadas, todas as mulheres violadas, todas as culturas e tradições esmagadas, enfim todo o sangue derramado não tinge as mãos de quem agora comemora aquela que foi uma das maiores vergonhas da história da humanidade, colocando o Holocausto nazi, já de si hediondo, em 2º lugar, a nível de longevidade e de crueldade.

Como é possível que as mesmas pessoas que clamaram pelo fim dos massacres e da opressão do povo timorense possam comemorar os massacres provocados pelos seus antepassados? A resposta, costuma assentar num subterfúgio: o que se comemora é antes as razões científicas, nomeadamente a descoberta que a Terra é redonda, as rotas marítimas, etc., e claro, o chavão do "encontro de culturas".
Pois bem, em relação a estas tentativas revisionistas da História só vos digo: tretas!
No séc. IV antes de Cristo, Aristarco de Samos sustentava que o Sol é o centro de todo o sistema solar e Erastótenes, director da Biblioteca de Alexandria no séc. III a.c. ( a tal queimada por intolerância religiosa) calculando o tamanho das sombras de estacas verticais colocadas em Alexandria e Siena, no Egipto, à distância de 800 km, deduziu que a Terra era curva e que tal distância correspondia a 7 graus. Como sabia que a circunfêrencia tem 360 graus, conseguiu determinar o tamanho aproximado do diâmetro da Terrra, provando que esta era elipsoidal (+/- redonda). Chegaste tarde, Galileu.

E em relação às rotas marítimas, por favor, poderá haver maior prova de eurocentrismo do que quererem fazer-nos acreditar que foram os portugueses e espanhóis os primeiros a fazê-las? Os árabes já tinham posto em contacto a África com a Ásia e navegavam no Índico! Além disso que valor terá a comemoração da descoberta de uma rota quando o principal objectivo era a pilhagem, a violação e a destruição pura e simples dos "primitivos?" Sim, porque tal como referi no princípio, em quase todos os territórios já existiam seres humanos. Mas estes não contam, não é?
Por fim o famigerado "encontro de culturas": que encontro é esse que não sobrou quase nada da cultura "deles" para admirar? Que encontro quando milhões de pessoas foram convertidas à força - ou mortas se se negassem? Que encontro quando a grande nação índia norte-americana está reduzida a reservas com 1% da população de outrora e os aborígenes da Austrália são considerados cidadãos de segunda na sua própria terra? Que encontro, quando o exército das ditaduras sul-americanas, apoiados financeira e militarmente pelos U$A, matam os índigenas que apenas querem sair da pobreza a que o Ocidente os votou? Que encontro para os PALOP abandonados à pressa e à sorte de ditadores pouco escrupulosos apoiados pela URSS ou pelos americanos?

Mas tudo isto deve ser muito díficil de entender. Aliás, a exploração do próximo só costuma ser visível quando nos interessa. Assim se compreende que se apoie Timor mas se receba com todas as honras o presidente chinês, esse assassíno de milhões, ou o seu homólogo guineense, com um cadastro mais leve, é certo, mas não menos criminoso.
Não tem importância. O povo chinês, o povo tibetano, o povo de chiapas no México, o povo equatoriano, os aborígenes australianos, a minoria católica na Nigéria e todos os outro povos oprimidos do Mundo levarão a melhor sobre a exploração a que são votados. Mesmo que daqui a 500 anos a sua história tenha sido esquecida ou alterada pelos opressores.






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