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Walt Disney concluiu que os desenhos de Dali iriam chocar a classe média americana e arquivou o projecto


<Desenhos de Dali para a Disney perdidos no armazém do esquecimento>
Quinze segundos sem destino

Em 1945, Walt Disney e Salvador Dali uniram-se para revolucionar o mundo da animação. Do sonho nasceu "Destino", um projecto sem continuidade do qual restaram dezenas de desenhos e quinze segundos de filme. Um "tesouro" que, até hoje, permanece esquecido num qualquer armazém da Califórnia.

No início deste ano, uma série de exposições da obra de Salvador Dali, o relançamento de uma nova versão de "Fantasia" e uma peça surrealista de Kira Obolensky no circuito off-Broadway de Nova Iorque, "Lobster Alice", relembraram "Destino", com que Walt Disney e o pintor catalão tentaram revolucionar o cinema de animação em 1945. Deste projecto, que permaneceu secreto na altura e nunca foi muito além do papel, restam 15 segundos de filme e dezenas de desenhos esquecidos num qualquer armazém californiano.
"Uma história simples sobre uma rapariga à procura do amor", eis como Walt Disney descreveu esta história, que Dali ilustrou com um cenário mágico, povoado de criaturas fantásticas: tartarugas com cabeça humana que, quando se aproximam, criam figuras de sinos, uma bailarina que se transforma em bola de basebol e desaparece numa paisagem montanhosa, ... Quem viu os desenhos garante que são soberbos. Mas o projecto foi abandonado, por razões ainda desconhecidas.

Animação, dança e efeitos especiais

O enorme investimento dos estúdios Disney em "Fantasia" deixou a empresa numa situação económica precária, que os lucros obtidos com "Dumbo", o pequeno elefante das grandes orelhas, não foram suficientes para colmatar. A linha a seguir era uma incógnita. Roy Disney, irmão de Walt e responsável pelas finanças da companhia, defendia o regresso à velha fórmula, que garantia lucros e sucesso: histórias simples, românticas, capazes de emocionar a classe média americana. Mas Walt Disney encontrou outra solução, que tentava unir o sucesso à qualidade: atrair artistas famosos para a arte da animação.
Conheceram-se numa festa, em 1945. No final da noite, decidiram fazer um filme juntos e, em 1946, Dali sentava-se num dos estiradores dos estúdios Disney para desenhar, como qualquer outro funcionário.
Disney pediu ao pintor que concebesse a animação de seis minutos de um novo filme, combinando o desenho animado com dança e efeitos especiais. Além da história, o trabalho seria inspirado numa balada romântica do compositor mexicano Armando Dominguez - "Destino".

Tesouro esquecido

Por alguma razão, também ela desconhecida, "Destino" permaneceu um projecto secreto, apenas conhecido por um pequeno grupo de pessoas.
Mas Salvador Dali e Walt Disney nunca se entenderam sobre o conteúdo do filme. O animador achou que as famílias do "midwest" não aceitariam o tipo de desenhos concebidos por Dali. O pintor catalão abandonou os estúdios Disney ainda em 46, deixando para trás dezenas de desenhos e um filme de 15 segundos que foram empacotados e esquecidos num armazém.
Disney e Dali nunca mais trabalharam juntos, mas ficaram amigos e voltaram a fazer planos. Sonharam com a adaptação de "D. Quixote" e de "El Cyd" e discutiram a produção de Inferno, quando o Governo italiano pediu a Dali para ilustrar "A Divina Comédia", de Dante, nos anos 50.
Mais de meio século depois, o tesouro dos estúdios Disney já não é um segredo mas continua esquecido. Desta parceria restaram apenas desenhos e 15 segundos de animação que permanecem perdidos, algures na Califórnia.






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