<Dois meses depois do desabamento>
Reconstrução
da muralha
sine die
Dois meses depois do desmoronamento
do troço da muralha, junto ao Mercado Municipal da Covilhã,
ainda não há prazos para o início das obras
de reconstrução. Um equilibrio pelo menos aparentemente
instável, e cerca de dez famílias desalojadas não
foram suficientes para que a autarquia e o IPAAR chegassem a
acordo sobre esta questão.
A passagem para o ano 2000 apanhou desprevenidos
os habitantes da zona histórica da Covilhã e o
mínimo que se pode dizer é que o novo ano entrou
com estrondo. O desmoronamento da muralha, onde algumas casas
de habitação estavam adossadas, gerou o pânico
entre os habitantes, que não ganharam para o susto.
Dois meses depois do desaire, a muralha foi escorada para prevenir
mais desabamentos, mas a situação no seu conjunto
continua por resolver.
Quem passa naquela zona teme a falta de segurança, e a
situação poderá prolongar-se, uma vez que
a Câmara Municipal e o Instituto Português da Conservação
do Património Arqueológico e Arquitectónico
(IPAAR) ainda estão a discutir responsabilidades.
João Esgalhado, vereador da Câmara Municipal da
Covilhã e responsável pela Protecção
Civil do concelho não adianta qualquer data para o início
dos trabalhos de reconstrução e afirma que "a
autarquia não tem responsabilidades no processo, uma vez
que os edifícios da zona histórica da Covilhã
estão sob tutela do IPAAR".
Esgalhado defende que o Instituto é responsável
por toda a situação, uma vez que "é
da sua competência a conservação e regulação
dos edifícios que tutela".
IPPAR "tutela" mas não
reconstrói
O problema é que o discurso do IPPAR
é em tudo semelhante ao da autarquia. Carlos Rodrigues,
director da Delegação Regional de Coimbra do IPAAR,
defende por seu turno que "a conservação
do troço das muralhas não é da responsabilidade
deste instituto, pois o imóvel não é propriedade
do Estado".
Para este responsável a zona histórica da Covilhã
"é apenas património classificado, ou seja,
não é propriedade do Estado, e como tal este não
tem responsabilidades na sua conservação".
Um exemplo concreto de património do Estado é o
Castelo de Belmonte, onde o IPAAR, sempre que necessário,
realiza directamente todo o tipo de obras.
Apesar de "não agir sobre os patrimónios
classificados", O IPPAR tutela as intervenções
que aí são feitas, razão pela qual tem de
lhe ser dado conhecimento de todas as obras a realizar.
Carlos Rodrigues, no entanto, admite que "o IPAAR pode vir
a participar na reconstrução, apesar de não
ter esse dever".
Moradores alojados
Enquanto decorre o diálogo àcerca
da responsabilidade sobre o património em causa, a Câmara
Municipal da Covilhã, "por razões sociais",
tomou algumas medidas no sentido de colmatar a a situação
das famílias entretanto desalojadas".
Os moradores das casas que ficaram impróprias para habitação
foram alojados temporariamente pela autarquia numa pensão;
enquanto se procedeu à escora, com grossos barrotes de
metal, do troço da muralha mais periclitante. "A
cidade não pode ficar com uma situação desta
gravidade pendente, e as pessoas precisam de segurança
nas suas casas" justifica João Esgalhado.
Gastos já rondam os 20 mil contos
Em apenas dois meses, o desabamento da
muralha já custou à Câmara Municipal da Covilhã
cerca de 20 mil contos. Só o processo de colocação
da escora, que hoje sustem a muralha, ficou orçado em
8 mil contos. A par disto, a autarquia continua, desde o acidente,
a suportar todos os custos do realojamento dos moradores. Situação
a manter até "que se garanta a segurança e
habitabilidade", assegura João Esgalhado.
Cristina Mendes
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