<Covilhã pouco solidária
com vítimas das cheias>
De mãos vazias
para Moçambique
Desde o dia seis de Março
que os Bombeiros Voluntários da Covilhã estão
a receber donativos para ajudar Moçambique. Porém,
a população local não tem mostrado mãos
largas na oferta de produtos, e o número de artigos
até agora entregues é muito reduzido, comparado
com aquele que se registou aquando da campanha pelo povo do Kosovo.
A par da campanha nacional de apoio ao
povo de Moçambique, a corporação dos Bombeiros
Voluntários da Covilhã decidiu dar a sua contribuição
disponibilizando-se, desde a passada segunda-feira, para receber
donativos destinados ao povo Moçambicano, vítima
da catástrofe natural que assolou aquele país.
As cheias provocaram milhares de mortos, milhões de desalojados,
destruiram infra-estruturas de saneamento e distribuição
de água e inviabilizaram muitos serviços públicos.
Agora que a ajuda internacional começa a chegar a Moçambique,
os trabalhos centram-se na tentativa de evitar a fome e a propagação
de doenças.
A divulgação desta campanha foi feita pelo Comandante
dos Bombeiros Voluntários da Covilhã, José
Flávio, que através da Rádio Clube da Covilhã
fez um apelo á população da região,
com o intuito de sensibilizar as pessoas, levando-as assim a
aderir à causa.
"Campanha arrancou tarde"
Apesar disso, as ofertas têm sido,
até ao momento, muito reduzidas. Poucas foram as pessoas
que tiveram a iniciativa de se dirigir às instalações
dos Bombeiros Voluntários da Covilhã para deixarem
o seu donativo. Por enquanto, não é conhecida nenhuma
razão específica que justifique esta falta de colaboração
- dessensibilização motivada por inúmeras
solicitações ainda bem recentes, e parca divulgação
da campanha podem estar na origem da falta de generosidade dos
covilhanenses.
Na opinião de José Flávio é isso
mesmo que se está a passar. "A campanha começou
demasiado tarde; e agora o nível das águas já
está a baixar". Do seu ponto de vista, "as pessoas
estavam mais sensíveis para ajudar, quando sentiram aquele
primeiro impacto ao assistir à subida do nível
das águas". E acrescenta que a campanha "deveria
ter começado quando, ainda, o nível das águas
estava alto".
Todavia, ainda que em número reduzido, têm chegado
às instalações dos bombeiros pelo menos
três dos dez artigos prioritários que a Cruz Vermelha
Moçambicana solicitou: roupa, enlatados e cobertores.
O que ainda não foi recebido, e que também faz
parte da lista divulgada pela Cruz Vermelha de Moçambique,
foram medicamentos. É o que diz José Flávio,
"remédios ainda não apareceram nenhuns. Na
campanha para o Kosovo recebemos uma grande contribuição
em medicamentos por parte das farmácias. Para Moçambique,
por enquanto, não veio nada".
Kosovares beneficiados
Esta não é a primeira vez
que os Bombeiros Voluntários da Covilhã participam
numa acção de ajuda humanitária. A campanha
de solidariedade com os albaneses do kosovo, na qual desempenharam
uma operação semelhante, foi melhor sucedida na
medida em que, os donativos chegaram em maior quantidade, variedade,
e mais rapidamente às mãos dos bombeiros.
De forma a corresponder ao dramático apelo formulado,
na semana passada, pelo Presidente Joaquim Chissano, esta operação
de recolha de donativos contará também com o apoio
do Serviço Nacional de Protecção Civil (SNPC)
que, através das suas delegações distritais,
organizará a recolha dos bens entregues nos quartéis.
Conforme explica José Flávio: " Não
sabemos quando iremos enviar os donativos. Quando for altura,
informamos o SNPC do volume de ofertas que temos e eles providenciam
o seu transporte para Lisboa".
O Governo, através do secretário de Estado da Cooperação,
Luís Amado, responsabiliza-se pelo transporte dos donativos
portugueses para Moçambique. Quanto ao envio de homens
da Covilhã para integrarem equipas de apoio humanitário,
não é previsível que tal venha a ocorrer
nos tempos mais próximos. "Será difícil
enviar ajuda humana para o terreno moçambicano, até
porque nesta corporação de Bombeiros não
há desemprego; o concelho é grande e há
muito serviço para ser feito, somos muito solicitados",
explica José Flávio, salientando que a maior parte
dos voluntários "não quer arriscar ir e prefere
ficar por cá, uma vez que não existe falta de trabalho".
Sara Telma dos Santos Lopes
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