Voltar à Página da edicao n. 376 de 2007-04-17
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Gabriel Moraes e Sousa foi recordado pelos músicos do concelho da Covilhã

Moraes e Sousa: o génio esquecido

Uma plateia bem composta traduziu a vontade que os presentes têm de dar a conhecer a obra de Gabriel Moraes e Sousa. Companheiros, familiares, admiradores e curiosos do compositor falaram sobre a vida e as peças perdidas.

> Igor Costa

O foyer do balcão do Teatro-Cine da Covilhã encheu-se de entusiastas da música para ouvir falar de Gabriel Moraes e Sousa. A motivação da assistência não traduz aquilo que é o desconhecimento que o público em geral tem do compositor natural do Tortosendo. A iniciativa decorreu na tarde de 5 de Abril, o último dia do Concurso de Instrumentos de Arco Júlio Cardona, e foi organizada pela delegação da Covilhã da Juventude Musical Portuguesa. Para além da música, soaram também críticas em relação a algumas políticas culturais.
Nascido em 1927, o compositor faleceu com 28 anos e uma obra curta. Ainda assim, os presentes na tertúlia de quinta-feira não hesitam em realçar as “características pouco tradicionais” da música de Gabriel Moraes e Sousa. Ainda assim, Luís Filipe Pires vê no compositor, com quem se encontrou por várias vezes, alguém com um talento imenso: “Se tivesse vivido o tempo normal de vida poderia ser um dos melhores compositores portugueses”. Luís Filipe Pires, também ele compositor, foi o orador convidado e vê na inovação, atonalismo, fluidez, poliritmia, diversidade de estilos, discurso entrecortado e surpresa algumas das características mais marcantes no músico tortosendense. Luís Filipe Pires refere que são “características impensáveis em jovens alunos do conservatório nessa altura”. Por tudo isto, o orador não tem dúvidas: Moraes e Sousa “estava fora do tempo e do lugar. Havia uma sociedade de concertos que dava apenas música contemporânea, mas onde este tipo de música que o Gabriel já praticava não se ouvia muito, e passava como algo que não soava bem, uma modernice algo incompreensível.”
João Maria de Freitas Branco, presidente da direcção da Associação Ginásio Ópera, moderou o encontro e não deixou de lamentar o esquecimento a que Moraes e Sousa, como outros compositores portugueses, tem sido votado. Para o também filósofo e professor universitário, a tertúlia “foi demonstrativa do interesse que há pela figura. Temos de alimentar a esperança de que as mais recentes iniciativas do Ministério da Cultura e do Instituto das Artes na edição musical da obra de compositores portugueses venham a contemplar este compositor.”
Neste contexto, o docente vinca os cortes orçamentais que a cultura tem sofrido e que, para João de Freitas Branco, representam “qualquer coisa de próximo da obscenidade”. Referindo-se ao Concurso de Instrumentos de Arco Júlio Cardona, o dirigente associativo diz não poder “deixar de lamentar profundamente que o Ministério da Cultura tenha feito um corte muito substancial no apoio a esta iniciativa. Sobretudo ao fim de todos os anos, já com uma tradição de qualidade artística”. João Maria de Freitas Branco enquadra esta situação no panorama nacional, e facilmente identifica as causas deste “caminho que não é saudável nem desejável”. “Temos um terrível défice de mentalidade que nos impede de construir a alta cultura. A razão está no facto de que, em sucessivas gerações, não tivemos elites de verdadeira qualidade”, aponta o docente. Mesmo sem dinheiro “há um factor absolutamente determinante, que é a escola. Se não se tem a escola a funcionar convenientemente não se pode estar à espera de ver florir elites.”


Gabriel Moraes e Sousa foi recordado pelos músicos do concelho da Covilhã
Gabriel Moraes e Sousa foi recordado pelos músicos do concelho da Covilhã


Data de publicação: 2007-04-17 00:01:00
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