Voltar à Página da edicao n. 370 de 2007-03-06
Jornal Online da UBI, da Covilhã, da Região e do Resto
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“Os instrumentos civilizacionais têm sido descobertos quando se desenvolvem as humanidades”

> Eduardo Alves

Urbi@Orbi – Num tempo em que as novas tecnologias dominam, também a linguagem sofre profundas transformações, quer na fala quer na escrita. Como vê todas estas alterações?
A.S.P. –
Descubro que os computadores e os processadores de texto ajudam imenso. Na correcção ortográfica e não só, até na ordenação das palavras na frase. Mesmo quem tem formação clássica e diria que tenho alguma, falamos com alguma linguagem alatinada, sem ter em conta sujeito, predicado e complementos, mas os computadores ajudam-nos, alertam-nos para correcções. Digo que hoje o computador é o melhor dos instrumentos para nos ajudar a escrever bem e a guardar informação, a desenvolver texto. Sendo um bom instrumento e aparecendo numa época em que houve um salto civilizacional, e o computador é um salto civilizacional é um momento de revolução só idêntico à invenção da imprensa no século XV, ao uso do papel e anteriormente do pergaminho, o computador é um elemento civilizacional, tanto mais que nós entramos na civilização do computador.
Os instrumentos civilizacionais têm sido descobertos precisamente quando se desenvolvem as humanidades. No século XV estavam-se a desenvolver as humanidades, com a chegada de mitos gregos do Oriente, a própria ocupação de Bizâncio ou Constantinopla, pelos turcos, fez com que viessem muitos textos e muitos professores de grego para o Ocidente e que tivessem acesso à civilização antiga e que desenvolvessem as humanidades propriamente ditas, o saber humano, o homem em si, nos sues ideais. Nesse momento de grande humanização vem um instrumento técnico, mas carregado de humanidade. Digo que hoje aquilo que o computador precisa é de carregá-lo de humanidade, tal como todas as tecnologias.
A civilização humana, no mais genérico, sem a dividirmos em etapas tem o homem como grande elemento central nos seus ideais como a amizade, partilha e descoberta de caminhos. Estamos a atravessar um desses momentos com a presença de um salto civilizacional. Creio que tem ainda de haver outros, sobretudo ao nível energético e creio que esse é o grande desafio da humanidade, a descoberta de energia limpa, de energia que não polua e creia que estamos à beira disso, que ainda se vai descobrir nesta geração e esse será o salto fundamental para a humanidade, para que se possa viver com melhor ambiente, melhor clima e termos um domínio que seja um convívio planetário mais agradável e para que o homem se redima do pecado cometido com a industrialização, que é o da poluição. Usando a linguagem teológica dos filósofos da libertação, o grande pecado hoje do homem é o da poluição. Temos de nos libertar dele e isso passa por energias limpas. Não podemos continuar a acumular automóveis poluentes, fábricas poluentes, nem a própria produção de energia por meios poluentes. Esse é o grande salto que o homem tem, o grande desafio.

Urbi@Orbi – Para além de analisar o papel da língua portuguesa tem também estudado outros campos, como a imprensa, a política. Isso vem por algum motivo em especial? Gostava de ter enveredado mais pela área da História?
A.S.P. –
Nunca podemos renegar as nossas origens e a nossa produção académica e científica reflecte o nosso caminho. Sou historiador, mas antes de o ser tive alguma formação filosófico-teológica que me permite alguma abarcância de temas. Como historiador, comecei na área da história económica e social e depois fui parar a áreas que são mais da minha vocação, que são as das história e cultura. A história é um saber imperial que gosta de abarcar todos os assuntos. Tem alguma exigência de síntese e aí entra tudo, as dinâmicas económicas, sociais, políticas e culturais.
Obviamente por ter começado na história económica e doutrinas sociais, também tenho algum pendor para a história política. A imprensa vem por acréscimo, uma vez que esta nasceu junto da política. A política não existe, de forma nenhuma sem a comunicação, ela própria tem de estar desperta aos processos comunicacionais e sem não estiver desperta a estes em vai e vem, afasta-se da realidade económica e social. A própria actividade política pode promover os seus órgãos, mas ela também tem de estar despertar para que esses órgãos façam chegar junto das esferas que têm capacidade de decisão, os problemas efectivos da economia e da sociedade. Quem vai para o poder, geralmente afasta-se das massas, do convívio e do contacto íntimo com o povo e com os seus problemas e com os seus objectivos. A imprensa é o melhor meio de fazer chegar aos políticos e estes têm de ter sempre um bom gabinete de imprensa que não os enganem. É muito vulgar alguns políticos terem começado no jornalismo e também é muito vulgar que saídos da sua actividade política, grandes políticos sejam grandes comentadores na imprensa. Em Portugal, como é um País paroquial relativamente pequeno, há caso paradigmáticos que se perenizam o que significa que há alguma pobreza do meio. Há certos factos que são públicos, de comentadores que se eternizam e que também entram na redundância e na falta de criatividade. É necessário que essas ditas elites sejam substituídas, que haja riqueza dinâmica nos comentadores.

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"Os computadores e os processadores de texto ajudam imenso"


Data de publicação: 2007-03-06 00:00:00
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