Câmara descobre cruciformes no centro histórico

Os técnicos do Gabinete Técnico Local (GTL) da Câmara Municipal da Covilhã encontraram mais de três dezenas de marcas cruciformes em várias ombreiras de casas localizadas no centro histórico da cidade. Um achado que testemunha a presença do povo judeu na Covilhã.

Durante a recuperação de várias áreas do Centro Histórico da Covilhã, os técnicos do GTL identificaram 36 cruciformes localizados em várias ombreiras de portas. Uma marca da presença da comunidade judaica na “cidade neve”. Segundo os responsáveis pelo GTL, “com a continuação da intervenção, poderá vir a acontecer a identificação de mais marcas”. Este achado está já a ser alvo de um levantamento mais pormenorizado por parte dos técnicos da câmara que pode vir a resultar numa exposição, ainda durante este ano. Estas marcas podem ser vistas ao longo da Rua das Flores, Rua da Alegria, Rua do Canto, Rua Senhora da Paciência, Rua do Jardim, dos Bombeiros Voluntários, Travessa do Cimo, Portas do Sol, Alexandre Herculano, Beco das Lages, entre outras.
Segundo as informações veiculadas pela autarquia, a actual área de intervenção do GTL Judiaria – Centro Histórico da Covilhã – situa-se “na área urbana da cidade, fora das muralhas, na freguesia de São Pedro”. Os depoimentos recolhidos pelos técnicos do GTL junto de alguns populares e em documentos históricos “foi nessa zona que viveu a maior parte da comunidade judaica e também era aí que se situava a antiga sinagoga”. Da análise feita a toda a zona, o GTL adianta ainda que existe um grande conjunto de marcas da presença judaica naquela área, “como alguns imóveis com caraterísticas arquitectónicas e técnicas de construção medievais”. A tudo isto se juntam as ruas estreitas, sem lógica aparente e espaços públicos exíguos. Os técnicos do GTL salientam ainda para a existência de “prédios estreitos nas fachadas, adossados, tendo-se desenvolvido em comprimento e em altura, ao sabor de gostos pessoais e de acrescentos apendiculares”.
A autarquia lembra que durante a intervenção na zona “Intra-muralhas” foram descobertas e requalificadas três sepulturas antropomórficas e um poço medieval, junto ao edifício da Casa dos Magistrados. Este tipo de intervenção conta agora com a participação diária de um arqueólogo para “salvaguardar os achados que venham a ser encontrados”. O GTL da Covilhã, que se encontra a preparar o Plano de Pormenor da Judiaria, participou recentemente, a convite da Ordem dos Arquitectos, num encontro sobre “Judaísmo e Arquitectura Quinhentista na Beira Interior de Portugal”. Neste evento estiveram também representados a Associação Portuguesa de Estudos Judaicos, a Cátedra de Estudos Sefarditas, a Comunidade Judaica Portuguesa e o Museu Judaico de Belmonte.