Jornal Online da UBI, da Região e do RestoDirectora: Anabela Gradim |
Lisboa: Natal na capital
Cátia Durão · quarta, 28 de dezembro de 2011 · Continuado
|
Brinde em família na noite de Natal |
22024 visitas É véspera de Natal e os centros comerciais ainda estão cheios. As filas nas caixas são enormes e nos rostos dos que aqui andam é possível vislumbrar expressões que misturam a nostalgia natalícia com o nervosismo dos últimos preparativos para o Natal. Sacos, embrulhos, fitas, carrinhos cheios são o anúncio do dia que se aproxima. “Ainda dizem que não há crise!” desabafa Paula Aires enquanto tenta estacionar o carro numa superfície comercial em Lisboa. “É impossível estacionar o carro nestes dias”, continua. Paula tem 45 anos, trabalha por conta própria com o marido e tem três filhos. A noite de consoada é passada na casa do pai em Lisboa com a sua família e a família de uma das irmãs. “Este ano são só lembranças!” afirma Paula enquanto compara o preço de uns cremes. “Combinámos que só oferecíamos lembranças uns aos outros na noite de Natal, as prendas mais caras dão-se aos filhos antes de sairmos para a casa do meu pai” explica. “Com os filhos é que gastamos mais dinheiro, ainda por cima são três” diz Paula enquanto arruma os talões e o cartão de crédito. “Este ano, como já tínhamos comprado o que queríamos, combinei com o meu marido trocarmos também presentes de valor menor. Temos duas filhas na universidade e um filho na escola e a verdade é que ninguém sabe muito bem o que vai acontecer n próximo ano, temos de nos conter um pouco mais para estarmos preparados.” explica a mãe de três filhos. No final do dia a satisfação é visível. “Finalmente já tenho presentes para todos!” diz Paula com um ar mais aliviado enquanto passa o cartão de crédito pela última vez. “Há que ter sempre umas caixas de chocolates para os convidados que não se está à espera” refere Paula entre sorrisos, enquanto ajeita a carteira no ombro e tenta dividir os sacos pelas duas mãos. Regressada a casa, é altura de cozinhar, mas a anfitriã garante que a tradição já não é o que era. “Antes, nesta época passava o dia todo na cozinha. Agora faço só as sobremesas que cada um mais gosta”, explica Paula enquanto bate as claras para a tão desejada mousse de chocolate. “Quando era pequena fazia todos os doces com a minha avó, cozinhávamos muito, hoje já não vale a pena, até porque ela não está cá” retorquiu pensativa a cozinheira, que garante não ter tradições nesta época festiva. “A única tradição que tenho é deixar a mesa posta desde o Natal até ao Dia de Reis.”, explica Paula Aires. No canto da sala, Miguel acaba de abrir a janelinha 24 da sua tablete de chocolate em forma de calendário. “Mãe, hoje é o Natal” grita o pequeno enquanto saboreia o último quadradinho. A família de Paula atravessa a ponte 25 de Abril. Residentes no Seixal, rumam para casa do avô materno para passar a consoada. “Hoje estamos a horas, nunca se sabe como vai estar o trânsito nestes dias”, explica Paula enquanto olha para o espelho do carro e dá os últimos retoques ao seu rosto. O Parque das Nações é o destino, mas podíamos estar em qualquer outra casa de Lisboa. A mesa parece ser o lugar preferido de todos os presentes. Camarão, salada de polvo, queijos, presuntos anunciam que a refeição principal vai começar. Bacalhau e lombo assado são os pratos que se seguem na consoada. Política, a crise, a “última” do primeiro-ministro, a crítica ao entretenimento ou até o vestido da Teresa Guilherme são os temas que se conversam no meio das garfadas. O “bom tintol”, como se diz por aqui, também não falta, o que ajuda à fluência de todos estes temas. Fala-se do ano que passou, contam-se umas piadas, comenta-se a vida de alguém enquanto os pratos vão ficando vazios. Trocam-se as lembranças e fala-se das prendas já recebidas. Nem a mais pequena acredita já no Pai Natal, embora saiba o que é a troika. “Estamos como Lisboa, sem luzes, mas com arte” diz em tom de brincadeira Vitor Martins, marido de Paula. O tão esperado brinde chega finalmente e o mais velho discursa como já é tradição . Em cima da mesa, algumas garrafas vazias deixam antever um discurso bem-humorado e várias vezes interrompido com a animação típica desta noite. A televisão anuncia o prolongar da noite, as famílias despedem-se com algum cansaço e algumas promessas e desejos: “temos de nos ver mais vezes”, dizem. Vitor e Paula e os filhos regressam à margem sul, mas a noite ainda não acabou. Pelo menos para as filhas. |
Artigos relacionados:
GeoURBI:
|