André Passos, de 28 anos, é mestre em Computação e Sistemas Inteligentes, formação conseguida na UBI, colega de Joaquim Tojal, de 27 anos. Estes dois antigos alunos da academia juntaram-se a Alexandre Madeira, 31 anos, mestre em Matemática, Filipe Pedrosa, 29 anos, licenciado em Engenharia de Redes e Sistemas Informáticos e José Miguel Faria, 32 anos, mestre em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, e criaram a Educed. Foi precisamente com um dos programas já criados no seio da empresa que agora conseguiram o primeiro lugar no Start Up Challenge e rumam com esta criação até uma empresa de Silicon Valley. Uma capacidade de trabalho que tinha já despertado a atenção de empresas como a Critical Software e a Airbus.
Segundo André Passos, esta empresa “nasce da forte vontade dos seus promotores em mudar e melhorar a forma como se faz engenharia, em particular o desenvolvimento de software para sistemas críticos, isto é, sistemas onde uma falha pode ter consequências muito graves, como na aviação, controlo de tráfego ferroviário, banca, medicina, etc.”. O principal desafio quando se trata deste tipo de produtos reside na necessidade de criar programas “com elevados níveis de confiança e fortes evidências de correção e segurança. Para tal, a Educed aposta em técnicas avançadas com base em fundamentos matemáticos, que são capazes de provar a ausência de erros de um sistema”, acrescenta.
Um dos programas desenvolvidos no seio desta empresa é o “Prova”. Este tipo de produto tem como objetivo verificar “os requisitos logo no início da definição do sistema, evitando a propagação de erros ao longo do projeto: os algoritmos avançados do ‘Prova’ permitem a deteção automática de lacunas, ambiguidades e contradições entre requisitos. A partir dos requisitos, são gerados testes automaticamente, garantindo que estes realmente refletem o que foi definido nos requisitos, característica essencial para a certificação de um sistema”, descreve o antigo aluno da academia. O ponto forte desta ferramenta “reside na diminuição de problemas em fases muito iniciais do desenvolvimento, isto é, onde o custo de emendar tal problema é mais baixo. Com esta ferramenta a Educed oferece a qualquer empresa a oportunidade de beneficiar do poder das metodologias formais sem necessidade de as dominar”.
Um acaso acabou por colocar o concurso “Start Up Challenge” no caminho destes empreendedores. Vencer este desafio “foi uma grande vitória para nós”. Este desafio tem como um dos prémios a instalação do projeto, durante três meses, numa empresa de Silicon Valley. “Sendo o nosso mercado alvo maioritariamente internacional, estar num dos grandes centros da indústria mundial de tecnologia é uma oportunidade única. Esperamos aproveitar a nossa estadia para alargar a nossa rede de contactos e estabelecer fortes parcerias comerciais”, diz. Os membros lembram que o programa oferecido pelo Plug and Play Tech Center permite o contacto com empresas como a Intel, Cisco, HP, IBM, Lockheed Martin, SpaceX, etc. que fazem parte do Silicon Valley. Ao mesmo tempo, “a estadia nos Estados Unidos permite-nos estar perto de grandes líderes internacionais nos setores que alvejamos, como a Boeing e NASA”. André Passos lembra que “numa estratégia de internacionalização é sempre muito importante conhecer as características e cultura própria do País e mercado que pretendemos atingir. Com esta estadia, ganharemos um forte entendimento de como funciona o mercado norte-americano e qual a melhor forma de nos posicionarmos para comercializar os nossos serviços e produtos”.
Quer André, quer Joaquim Tojal frequentaram a UBI. Estes dois fundadores da empresa referem que “a formação adquirida durante o período do curso de Engenharia Informática foi importante”. Contudo, mais importante ainda “foi o mestrado em Computação e Sistemas Inteligentes. Foi em disciplinas como Computação Fiável e Segura que conhecemos algumas das técnicas que hoje estamos a usar. Hoje em dia ainda temos contacto com o professor Simão Melo de Sousa do grupo de investigação RELEASE. Foi sem dúvida um bom ponto de partida termos frequentado estas disciplinas na UBI. Pena que mais alunos não sigam o nosso caminho”, atestam.
Já no âmbito empresarial, sublinham o contexto positivo e o apoio efetivo ao empreendorismo. “A evolução recente tem sido muito positiva, quer ao nível de mecanismos de apoio, quer no disseminar de iniciativas que promovem esta cultura de empreendorismo”. Estes antigos alunos da academia lembram que “mudar mentalidades é um princípio base e essa evolução tem sido notável: a inovação e o empreendorismo são temas claramente na ordem do dia. Ao mesmo tempo, a investigação em muitas universidades portuguesas é de excelência. É frequente encontrar projetos realmente inovadores e únicos”.
Os quatro engenheiros e um matemático que agora coordenam esta empresa lembram que o tecido industrial português tem sofrido uma profunda remodelação “e esse trajeto não se faz num dia”. As universidades “devem procurar um bom equilíbrio entre investigação com aplicação industrial mais imediata e investigação fundamental, que possa convergir para a primeira a médio prazo”. Para o sucesso, “os investidores devem estar atentos e dispostos a algum trabalho de tutoria: com muita frequência as equipas de promotores são compostas essencialmente por elementos que dominam as questões técnicas do projeto mas têm menor apetência comercial e financeira. Aos promotores cabe o desafio e honra de apostarem fortemente na sua formação e transformarem as suas ideias em projetos industriais de sucesso”, acrescentam.