Quatro atores  e um cenário que mais parece uma espécie de universo fechado, como se fosse um buraco negro em que as personagens estão perdidas e não sentem os pés no chão, as paredes, nem nada físico. Um homem de chapéu, um outro homem, uma mulher (meretriz) e uma velha. Nenhum deles tem nome. As três personagens fazem contraponto àquela do chapéu que se aproxima mais do público, pois estranha todas as ações das outras e tudo o que acontece no decorrer do tempo. "O Regresso de Natasha" é uma discussão entre a lógica de um personagem contra as dúvidas dos outros, que mais tarde também se tornam suas dúvidas. Em clima bastante surreal, os raciocínios dessas pessoas se juntam a um tom irônico de humor em que muitas vezes as atitudes humanas são questionadas.
A peça esteve em cartaz no Teatro das Beiras no dia 11 de novembro de 2011 e fez parte do Festival de Teatro da Covilhã. Encenada por Ricardo Naves-Naves do Teatro Elétrico de Lisboa, foi redigida por ele quando tinha 19 anos, segundo o próprio, é quase como um raciocínio livre da cabeça de uma criança, uma visão infantil de como poderia ser o mundo. "A lógica que existe é porque os atores e as personagens defendem cada um sua própria lógica. Defendem com convicção, mas não há uma lógica real no papel do receptor", explica o encenador. Sendo uma comédia, mas não uma comédia como outra qualquer, consegue tirar gargalhadas da plateia. A esse respeito, Ricardo diz que além de uma grande felicidade sente, sobretudo, um alívio. "Fico contente quando percebo que o trabalho chegou às pessoas, elas gostaram e riram nos sítios certos".
Maria João foi uma das espectadoras que se divertiu com a peça. "Realmente é um espetáculo do absurdo, e é um absurdo cômico mesmo. Gostei muito da ação dos personagens e da energia que eles deram à peça". Segundo o diretor do Teatro das Beiras, Fernando Sena, a taxa de ocupação da sala durante todo o evento andou por volta de 90 por cento. Considera que festivais como este são importantes "para mostrar o teatro que se faz pelo país. Estiveram presentes companhias de norte a sul de Portugal e assim, dá-se oportunidade às pessoas que vivem aqui para assistir a esses espetáculos". Fernando Sena garante que a programação foi feita de forma com que cada dia fosse uma surpresa. "Temos temas e grupos diferentes e portanto fazemos um conjunto de espetáculos diferenciados mas que cada um por si vale a deslocação à nossa sala", completa.