Jornal Online da UBI, da Região e do RestoDirectora: Anabela Gradim |
Estória Abensonhada no Teatro das Beiras
· quarta, 9 de novembro de 2011 · A vida é mais importante do que a morte: foi esta a mensagem que a encenadora Isabel Leitão trouxe ao Festival de Teatro da Covilhã que decorre até dia 12 de Novembro. |
Bibi Gomes, Isabel Leitão e Rui Cerveira. |
21950 visitas O primeiro espetáculo da digressão da peça Estória Abensonhada realizou-se no auditório do Teatro das Beiras, na passada quinta-feira, dia 3 de Novembro. A encenação, baseada em contos de Mia Couto, relata a história de um menino cego que procurava a “morte”. Após ter perdido os seus dois amigos, Gigito e Infelizmina, que o guiavam no mundo, empreende uma longa caminhada em direção à sombra do Oeste, procurando a morada da Morte. Lá chegado, o menino dá-se conta que a morte está desqualificada, encontrando-se desfalecida e triste. Para a reanimar, Estrelinho, o cego, recorre a um universo muito próprio construído a partir das fantasias de Gigito, que lhe faziam acreditar que a realidade era feita de histórias fabulosas. De um conjunto de seis contos de Mia Couto, “O cego Estrelinho” e “O velho, o tempo e a morte” foram as principais referências que Isabel Leitão utilizou para a construção deste espetáculo. A primeira, fala de um cego que é conduzido pela mão de um menino que lhe conta o que vêem os olhos da sua imaginação. Estrelinho habituou-se a essa visão do mundo. Um dia, o seu guia é chamado para a guerra, deixando em seu lugar a irmã Infelizmina que não era uma menina de inventar, relatando-lhe a realidade tal como ela a vê, tal como ela é, e “o cego, vê-se cego pela primeira vez na vida”. A segunda referência salienta a morte como sendo “desqualificada”, não necessária em tempo de guerra porque as pessoas morrem sem precisar dela, ou seja, o Tempo também se torna inútil neste cenário. A encenadora junta ambos os contos, substituindo o velho por um cego. É aqui que se dá a primeira introdução de uma história dentro da outra. Na obra “o velho, o tempo e a morte”, a Morte pede palavras, onde Isabel Leitão, encenadora desta peça, adapta à dramaturgia como sendo histórias que ela precisa. Assim, o cego conta histórias fabulosas inventadas por Gigito: uma velha engolida por uma pedra, uma menina tonta apaixonada por uma pedra que afinal é uma tartaruga e uma ave que sonhou voar até à lua acabando por morrer lá. Um espetáculo que poderia ser dirigido para um público adulto, é aqui apresentado para uma plateia infantil, maioritariamente crianças partir dos 4 anos de idade, contando no total com cerca de 70 espectadores. O objetivo passa por não esconder a realidade às crianças. A vida e a morte, segundo a encenadora, são dois processos naturais que todos temos de nos familiarizar. “O erro da nossa sociedade ocidental é acharmos que as crianças não têm direito de estar nos funerais e chorar os mortos”, argumenta Isabel Leitão. A encenadora desta peça destaca duas mensagens a reter. “A vida é mais importante que a morte”, de tal forma que Estrelinho, quando se encontrou com a morte apercebeu-se da beleza da vida. “A Morte é cega”, porque no final da peça, esta acaba por ser conduzida por um cego. Isabel Leitão frisa que quando “olhamos para os hospitais onde há crianças com leucemias, e tantas outras doenças deste género, pensamos que a morte não escolhe, é muito democrática e completamente cega”. A estreia desta peça aconteceu dia 14 de Outubro no Teatro Extremo em Almada, onde o elenco tem feito carreira. Um espetáculo protagonizado por três personagens: Estrelinho, a Morte e o Tempo. Estrelinho, o cego que conhece o mundo através dos olhos do seu guia Gigito, o Tempo que se perde e a Morte que é conduzida pelo cego através da riqueza e magia das suas histórias. |