A mais recente edição da “Troca de Palavras” falou de “Humor em Tempo de Cólera”. Nuno Jerónimo, docente na Universidade da Beira Interior e co-autor do livro “Como Ficar Estupidamente Culto em Apenas 10 Minutos”, abriu a sessão destacando o poder da comédia. Na fase inicial da sua intervenção, o autor explicou os mecanismos existentes para provocar o riso, executando depois um “olhar de dentro para fora”, procurando explicar o porquê do público olhar para o humorista “como um cientista social” ou uma “espécie de etnógrafo”. Brincar com várias classes sociais, fazer piadas quase sem restrições, olhar para a sociedade através de um olhar distinto e positivo, é, segundo Jerónimo, uma maneira “de pensar na realidade de uma maneira diferente, de uma maneira divertida”.

O segundo convidado, Pedro Mexia, é crítico literário, poeta e colaborador frequente de produtos das Produções Fictícias. Durante a intervenção. Mexia destacou a sua influência anglo-saxónica, em que os artigos de opinião são  tratados em tons sátiros e humorísticos, e relembrou ois pioneiros da comédia em Portugal, como Miguel Esteves Cardoso e Herman José. Numa incursão pelo campo do cinema, Mexia lembrou que “os filmes cómicos são sempre descartados em relação aos dramas nos Óscares; um filme de comédia nunca tem essa aspiração porque sabe que à partida não tem hipótese.”
Afirmando que “a literatura portuguesa sempre foi sisuda”, elogiou o trabalho de Camilo Castelo Branco e de Gil Vicente. Do primeiro, é peremptório: “Se Camilo não se estuda, não estudem literatura portuguesa. Há coisas mais interessantes.” Do segundo, saúda a genialidade de quem tem a capacidade de fazer rir mais de quinhentos anos depois de terem sido escritas. 
A nível político-social, fala da mentalidade portuguesa na sua relação com o humor. “Um país com tão poucas décadas de democracia não pode compreender inteiramente o humor.” Uma ideia que, alega, é partilhada pelos seus governantes, uma vez, que, “a política com humor é como carnaval, é consentida. «Tomem lá uns dias até à páscoa» ”.
No final da sessão o público colocou algumas questões, o que possibilitou troca de impressões acerca de clássicos da comédia, como Monty Phython, Charlie Chaplin, Woody Allen ou Seinfeld.