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OE 2012: um exercício arriscado
Noel Vieira · quarta, 2 de novembro de 2011 · @@y8Xxv A Economista-Chefe do BPI esteve na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade da Beira Interior (UBI) para falar sobre o enquadramento económico português e os desafios que o país terá de enfrentar para reequilibrar a economia. |
Cristina Casalinho em Conferência no Anfiteatro Videira Pires (Pólo IV), Universidade da Beira Interior |
21991 visitas Cortes salariais, medidas de consolidação fiscal e revisão de políticas sociais na Segurança Social, Ciência e Educação. É esta a receita que Cristina Casalinho apresentou na passada sexta-feira para o reajustamento da economia portuguesa. A Economista-Chefe do BPI considera o Orçamento de Estado (OE) para 2012 “um exercício arriscado”. Para corrigir o atual desequilíbrio orçamental, defende que os programas sociais sejam redesenhados. “Têm sido publicados cada vez mais trabalhos empíricos que demonstram que sistemas de segurança social muito generosos são perversos ao nível da criação de emprego”. A responsável pelo Departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPI avança ainda que “a poupança cai quando as pessoas tomam como garantida a proteção do Estado”. Na Educação, Cristina Casalinho defende que o país tem “uma estrutura pessoal sobredimensionada para o nível de população escolar”. A economista considera o número de professores “excessivo” face ao número de alunos, tendência que se deverá acentuar nos próximos anos, com o universo de estudantes a encolher. As políticas aplicadas na área da Saúde deverão ser também alvo de alterações no próximo ano. A porta-voz do BPI aponta as despesas com produtos farmacêuticos e a excessiva afluência aos serviços de urgência como principais focos de preocupação. Os médicos portugueses estão a receitar mais do que a média europeia, o que leva a economista a recomendar uma “utilização mais judiciosa” dos medicamentos receitados. A alimentar a despesa médica estará ainda o fecho de muitos centros de dia, o que obriga, “sobretudo as pessoas de idade”, a ocorrer aos serviços de urgência. “É muito mais caro uma pessoa idosa nas urgências do que num centro de dia”, constata Cristina Casalinho. A economista sublinhou que aos atuais valores, as taxas moderadoras não são suficientes para suportar as despesas associadas ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) e denuncia o excesso de horas extraordinárias por pagar. “O SNS tem dois séculos de horas extraordinárias para pagar. Alguma coisa não deve estar bem contabilizada”, repara a porta-voz do BPI. A representante do BPI considera que os portugueses consumiram 10 por cento mais do que deviam durante cerca de duas décadas. As projeções do BPI indicam que o próximo ano será marcado por “um padrão de consumo mais baixo”. Questionada sobre os efeitos sociais da aplicação adicional de “medidas de carácter estrutural”, a economista faz uma consideração: “Esqueça o problema social. O problema social mais dramático é ter de despedir funcionários públicos que na maior dos casos têm mais de 40 anos e por isso dificilmente conseguirão um novo emprego: estes cidadãos vão ter direito a um subsídio de desemprego de 12 meses. Depois deste período como vão viver”. A economista admite que o corte temporário nos salários é preferível ao despedimento. “Em tempos de guerra não se limpam armas”, conclui. Feitas as contas, os estudos apresentados sugerem que 2012 ficará marcado por “níveis de crescimento modestos, mas bem orientados”. O investimento na construção irá abrandar, a tributação será incrementada e o consumo privado deverá descer. A Conferência “A Economia Portuguesa e o Ajustamento / Reequilíbrio em Curso” coincidiu com a abertura oficial das Pós-Graduações do Departamento de Gestão e Economia. |
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