Urbi@Orbi - Como surgiu a ideia de redigir este conto?
Luiz Milhafre - Tive conhecimento da existência do Prémio Novos talentos Fnac Literatura por acaso, através de uma notícia de jornal. O prémio, penso eu, já existe desde que a Fnac surgiu em Portugal e reproduz aquilo que já existia em França, alarga-se também à música e fotografia. Na área da música, por exemplo, já premiou os Deolinda, Rita Red Shoes entre outros. Até aqui a Fnac premiava o romance, mas este ano decidiram acolher o conto. A ideia de participar deveu-se à ideia, desde há algum tempo, de reativar a minha atividade na escrita, ao fim de alguns anos de paragem. O prémio Fnac pareceu-me uma excelente hipótese de recomeçar, pois procura descobrir novos nomes e proporcionar-lhes a abertura de portas para a publicação de futuros trabalhos.
Urbi@Orbi - Qual a principal temática desta obra?
Luiz Milhafre - Como disse aquando do lançamento do livro, o conto fala das cidades grandes, dos seus subúrbios e de como, nestes centros urbanos, as pessoas não querem saber umas das outras. A ideia surgiu-me de uma experiência pessoal e quase cómica.
Vivo em Odivelas e inscrevi-me num ginásio que tinha acabado de inaugurar. No meu primeiro dia de treino, cheguei ao balneário masculino, que tinha entre dez a 20 pessoas, e disse Bom Dia! … Ninguém me respondeu. Isto foi o mote, pois no fundo o conto descreve a história de um dia na vida de um homem a quem ninguém diz bom dia, boa tarde e boa noite. Fala de como as pessoas não querem saber umas das outras porque não se sentem dali, normalmente são de outras regiões do país. Fala de desemprego, solidão na velhice, talvez lugares comuns mas que sinto também meus por fazer parte destas cidades onde para conhecer os vizinhos é necessário ir a uma reunião de condomínio.
Urbi@Orbi - De que forma recebeu este prémio, atribuído depois de uma escolha feita por um vasto público?
Luiz Milhafre - Concorreram 950 contos, dos quais foram escolhidos dez finalistas, de acordo com um júri encabeçado pelo escritor Valter Hugo Mãe, que também moderou o lançamento do livro na Fnac Chiado, e que contava também com um editor e uma crítica literária. Depois os contos foram colocados a votação no site da Fnac destes dez retiraram os cinco premiados. Segundo soube, foram 17 mil votos. Fiquei surpreendido porque de facto a minha escrita não é propriamente fácil.
Urbi@Orbi - Já escreve há algum tempo, ou esta acabou por ser a primeira experiência?
Luiz Milhafre - Escrevo desde os 16 anos. Comecei a ser publicado com 18 no Diário de Notícias, num suplemento que se chamava DN Jovem e que promovia a literatura entre os jovens, tinha acabado de entrar na UBI. Foi precisamente com um texto sobre a minha entrada na UBI e na cidade da Covilhã que ganhei o primeiro prémio de texto, em 1993. Depois a partir daí foram uma série de textos publicados durante vários anos.
Urbi@Orbi - No futuro, está a pensar continuar no campo da escrita?
Luiz Milhafre - Sim, já estou a trabalhar num primeiro romance, que espero que esteja pronto em meados do próximo ano, assim haja tempo e talento para o escrever. Depois, conforme as hipóteses de publicação, logo se verá. O mundo editorial é muito competitivo pelo que é necessário bastante trabalho e qualidade para se lhe ter acesso. Por isso ser tão importante um prémio destes.
Urbi@Orbi - A sua passagem pela UBI tem algumas experiências da academia integradas no seu conto? Poderá essa experiência vir a dar origem a algum trabalho?
Luiz Milhafre - Neste não. Mas pretendo fazê-lo já no próximo trabalho. Vai ser inevitável. O meu curso foi o de Gestão de Empresas, e o facto de ter dirigido, por exemplo, uma revista da área económica, chamada na altura de aUBItoria, em que explorávamos os principais temas da região, fez-me crescer a nível de escrita, pois era eu que redigia todo o texto da revista, mesmo não tendo experiência na área jornalística.